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    Arqueólogo cria museu com 90 mil peças em 'palácio islâmico' no Rio

    BRUNO VILLAS BÔAS
    DO RIO

    29/04/2016 02h00

    Quando sua coleção de 90 mil artefatos adquiridos, coletados ou doados não coube mais em casa, o arqueólogo Claudio Prado de Mello, 51, achou uma saída incomum para preservá-la: construiu uma espécie de palácio islâmico de 2.500 m² e colocou tudo lá dentro.

    Tão improvável quanto a arquitetura foi a localização escolhida –Anchieta, bairro pobre da zona norte do Rio, próximo ao violento complexo de favelas do Chapadão e distante de roteiros culturais.

    "Eu herdei dois terrenos, por isso decidi construir ali. E busquei na arquitetura islâmica uma forma de chamar a atenção das pessoas", diz Mello, mestre em arqueologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense).

    As colunas, arcos e cúpulas do Museu da Humanidade ganharam forma em 14 anos de obras –o local passou a receber visitas de grupos e escolas em 2009. Dentro, o piso é de mosaicos de mármore e as paredes trazem inscrições em árabe thuluth. O lugar vale R$ 2 milhões, de acordo com o idealizador.

    Segundo Mello, o palácio foi construído com dinheiro próprio, fruto do trabalho em escavações, cursos e palestras. Ele comandou, por exemplo, a equipe de escavação arqueológica das obras do metrô de Ipanema e do Leblon, na zona sul do Rio.

    "Há diferentes apaixonados por história. O saudosista gosta de lembrar o passado. O colecionador precisa ter posse das peças. O preservacionista é preocupado com o patrimônio em geral. Eu sou todos eles em um só", diz.

    A coleção abrange peças desde a Antiguidade até o século 19. São milhares de moedas, frascos, roupas, móveis. De um vaso grego do século 3º a.C. a um sacrário jesuítico espanhol de 1620.

    Para aumentar a coleção, Mello procura em sites de leilão –foi assim que comprou por R$ 1.000 uma das 50 réplicas da lâmpada original de Thomas Edison, de uma edição especial de 1929.

    O arqueólogo também conserva as notas fiscais, registros de importação e atestados de autenticidade para comprovar a origem e o pagamento de impostos das peças.

    Além dos itens de sua coleção, o palácio armazena artefatos públicos por meio do Ipharj (Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica do Rio de Janeiro), organização privada fundada por Mello.

    Com ajuda financeira do governo do Rio, o instituto mantém 1.400 peças das escavações das obras do metrô do Rio, incluindo um penico e uma escarradeira do século 19, além de azulejos e moedas do 2º Reinado (1840-1889).

    Como as peças são patrimônio público, o palácio quase preciso uma fortaleza para recebê-las. Foram instaladas 40 câmeras de segurança, sensores infravermelhos e 90 extintores de incêndio.

    A sala que guarda esses itens tem ainda equipamento para controle de temperatura e umidade, para a conservação dos artefatos. Mello espera abrir sete salas para visitas sem agendamento no fim do ano e busca doações para as demais.

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