O número de casos de caxumba na capital paulista explodiu nos primeiros quatro meses desse ano. De janeiro a abril, a Secretaria Municipal da Saúde, da gestão Fernando Haddad (PT), registrou 274 casos. No mesmo período de 2015 foram 41 casos, um aumento de 568%. No ano passado inteiro, foram 275.
Das ocorrências deste ano, há 39 surtos (quando há mais de dois casos relacionados no mesmo local), 15 em instituições escolares. A Secretaria de Estado da Saúde informa que, em 2015, houve 611 casos relativos a surtos e dois óbitos no Estado.
Rubens Cavallari/Folhapress | ||
O aposentado Diogo Kataoka, 63, que teve caxumba recentemente |
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde ressalta que apenas os surtos, e não casos individuais, são notificados. E afirma que não há causas bem estabelecidas para explicar o aumento, também observado em outros países.
A doença não é considerada grave e dificilmente causa complicações. O vírus se transmite por vias respiratórias como na gripe, diz Paulo Olzon, professor de infectologia da Unifesp. "As pessoas devem se proteger de espirros e cuidar do contato manual", indica. Os sinais são inchaço de glândulas salivares, dor de cabeça e no corpo, febre e inflamação de testículos ou ovários. "É mito que cause infertilidade", diz.
Diagnosticado, o paciente é afastado das atividades por uma semana. As vacinas estão disponíveis para crianças e adultos na rede pública.
CAUSAS
Olzon afirma que é necessário estudar o perfil dos infectados para determinar causas e ações específicas. "É preciso verificar os imigrantes, que não tiveram vacinação semelhante à brasileira nos países de origem", diz.
Em Campinas, a Vigilância em Saúde identificou que os surtos dos últimos anos se deram em jovens no início da faculdade. "São pessoas que, na infância, tiveram apenas uma dose de vacina ou nenhuma", comenta a diretora Brigina Kemp.
Nos primeiros quatro meses, Campinas registrou 130 casos em 23 surtos, 99% deles em instituições de ensino, onde houve os chamados bloqueios, com vacinação de quem não era imunizado. Na capital, a secretaria diz que, além dos bloqueios, as unidades de saúde orientam as instituições envolvidas nos surtos.
O sul do Brasil também passa por surtos de caxumba, em Estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No primeiro, de janeiro a 12 de abril foram contabilizados 72 casos da infecção. Desses, 49 foram identificados na capital, Porto Alegre.
Até o time do Grêmio foi atingido. Cinco jogadores do elenco do tricolor gaúcho saíram de campo após pegarem caxumba, no mês passado. Pedro Geromel, o principal atleta da temporada, também desfalcou o grupo.
O departamento médico do clube não foi poupado e recebeu críticas da torcida gremista, até que o clube decidisse vacinar todos os jogadores contra a doença.
Em Florianópolis, a prefeitura da cidade registrou 43 casos, entre março e abril. A administração diz não ter números do ano anterior para comparação porque a notificação não é compulsória. A Secretaria da Saúde local adotou medidas de bloqueio com a distribuição de 800 doses de vacinas nos locais onde a caxumba foi identificada.
'DOENÇA DE CRIANÇA'
O aposentado Diogo Kataoka, 63 anos, levou um susto, no início de abril, ao ser diagnosticado com caxumba. "Achava que era doença de criança", conta. Em suas memórias, pensava que já tivesse pego todas as doenças da infância, mas foi surpreendido ao receber diagnóstico da médica que lhe atendeu. "Ela falou: isso tem cara de porco e focinho de porco, então é porco", conta o aposentado.
A médica solicitou o exame laboratorial e comprovou que se tratava mesmo de caxumba, a doença que lhe provocou inchaço na parótida, uma das glândulas salivares, e dificuldade para engolir líquidos e comidas.
Kataoka também sentiu dores abaixo do ouvido e mal-estar, um dia antes de procurar atendimento.
Como tratamento, utilizou anti-inflamatórios e fez repouso por poucos dias. "Também usei máscara para evitar que os familiares fossem contagiados pela saliva e por espirros", relata. O aposentado acredita que pegou o vírus ao ter contato com amigos que viajaram para o sul do país. Diz ter ficado com o sentimento de "desleixo". "É inadmissível que voltem essas doenças", diz, ao saber dos surtos.
A copeira hospitalar Luciane Santos, 34 anos, foi contagiada pelo vírus pelo próprio namorado, que ficou doente dias antes dela, ao final de dezembro. "Tive febre alta, rosto inchado e muita dor no corpo", conta. Amargou repouso bem no Revéillon. "Fiquei assustada por ter caxumba depois de velha", afirma, rindo.