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    Com infiltrados, polícia desmancha grupo que fazia rachas na marginal

    LEANDRO MACHADO
    DE SAO PAULO

    06/05/2016 08h45

    À frente de uma fileira de 70 policiais militares, o capitão Marcos da Cunha explica: "Não preciso nem dizer, né? O foco são veículos esportivos. Tem importado? Tem. Tem Audi, Civic. Mas tem Corsinha rebaixado também".

    Era 0h de sexta (6) e o grupo se aprontava para a missão da noite: acabar com um evento de rachas de veículos. "Vamos fechar o posto", completou Cunha, responsável pelo policiamento das marginais Pinheiros e Tietê.

    Há mais de um mês, os jovens se reúnem todas as quintas em um posto de combustível da Pinheiros, no Itaim Bibi (zona oeste). Param os carros turbinados, exibem a potência dos motores e, às vezes, disputam corridas em alta velocidade na marginal.

    Nas últimas semanas, policiais se infiltraram no evento e anotaram placas dos carros que participavam dos rachas. Na madrugada desta sexta, cerca de cem jovens em 40 veículos pararam no posto.

    "Todo mundo que estiver no posto vai ser revistado. Em princípio não vai ter tiro, nada de apontar a arma para os moleques. Não quero ver excessos, não quero ver PM dando chute em ninguém porque pode ter um jornalista lá infiltrado, fazendo reportagem", ordenou Cunha.

    Às 0h09, veio o aviso dos infiltrados: os rachas começaram. O comboio de policiais saiu do Canindé (centro). Em 20 minutos chegou ao posto na marginal. Os jovens, assustados e encurralados, fugiram correndo para uma loja de conveniência.

    A maioria dos motoristas era jovem; alguns aparentavam ser recém-saídos da adolescência. Eles foram colocados em fila, com as chaves dos carros no chão.

    ESTAVA SÓ COMENDO

    Tinha "tunados" de luxo: Audi, Civic, Jeep, Subaru, Mercedes... Mas tinha também Corsinha rebaixado, Gol da década de 1990, Blazer anos 2000, Opala...

    "Só estava passando, não tenho nada com isso", disse um garoto. "Se sua placa estiver anotada, você vai se foder legal", respondeu um policial. Todos os motoristas que estavam no posto foram multados por participar de eventos sem autorização, ou rachas –foram 114 autuados. Cada multa era de R$ 1.900 e o motorista ainda pode perder a habilitação.

    "Só parei para comer na loja de conveniência, almocei às 14h e não comi mais nada o dia todo", disse um rapaz autuado –ele não quis se identificar. "Quanto é essa multa?", perguntou à reportagem. "R$ 1.900? Não tenho como pagar", reclamou ele, que dirigia um Renault Megane.

    ISSO É CRIME?

    Cachorros da PM farejaram os veículos para verificar se havia drogas. Em um deles, foi encontrado uma pequena quantidade de maconha.

    Era um Honda Civic preto, rebaixado, bancos de couro e um adesivo colado no para-brisa: "Because race car". Um policial olhou para o motorista, um jovem de 20 anos, e perguntou: "O carro está no nome de quem?". "Da minha mãe", respondeu o garoto, visivelmente abalado. Ele foi levado para a delegacia.

    Em outro ponto, o capitão Cunha, empunhando uma metralhadora, discutia com um motorista. "O senhor estava no lugar errado, na hora errada e com um carro que tem perfil de racha. O senhor espera que eu acredite no senhor? Todo mundo aqui fala que estava comendo na conveniência", disse o PM.

    "Por acaso é crime ter um Civic Si? ", respondeu Rafael Ribeiro Cabral, 33, que se disse motorista do aplicativo de transporte Uber. A empresa não quis comentar.

    "Eu estava comendo na loja de conveniência, olha aqui a comanda. Participo de rachas, mas só em locais autorizados. Aqui nem sempre tem racha, é só uma reunião de amigos que gostam de carro", alegou Cabral.

    Já eram 3h da madrugada quando sete carros foram levados pelos guinchos da PM. Alguns pais já apareciam para levar os filhos para casa.

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