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    Taxistas gritavam 'Mata!', diz dono de carro atacado em SP

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    11/05/2016 13h11

    Zanone Fraissat/Folhapress
    O enfermeiro Jorge Carlos Ferreira Santos, que estava em carro atacado por taxistas
    O enfermeiro Jorge Carlos Ferreira Santos, que estava em carro atacado por taxistas

    "Eles gritavam 'Pega! Pega! Mata! Mata! Tira ele do carro'", disse o auxiliar de enfermagem Jorge Carlos Ferreira Santos, 44, cujo veículo foi atacado por taxistas na noite de terça-feira (10) no centro de São Paulo.

    Na tarde desta quarta-feira (11), Santos afirmou ter sido confundido com um motorista de Uber e que avançou sobre o grupo por "medo de morrer" –os taxistas fecharam a avenida 23 de Maio em protesto contra decisão do prefeito Fernando Haddad (PT) de liberar, por decreto, o aplicativo em São Paulo. "Eu achei que ia morrer", conta ele. Agora, ele diz temer sair de casa.

    Santos disse em entrevista ao SPTV, da TV Globo, que os taxistas são "pessoas que talvez estejam cegas de ódio, de raiva, e não têm onde descarregar".

    O CERCO

    Ele conta que estava indo para o seu local de trabalho quando ficou preso no trânsito causado pelo protesto de taxistas na tarde de terça (10).

    O confronto começou quando o auxiliar de enfermagem chegava no fim do túnel do Anhangabaú. Manifestantes jogaram galhos de árvores em frente ao seu carro. Ele diz que tentou ultrapassar o galho e foi ameaçado pelos taxistas. "Eles começaram a gritar falando que eu era Uber", conta. Santos conta que tentou pegar seu jaleco para provar que era auxiliar de enfermagem, mas que os taxistas começaram a chutar a traseira de seu carro.

    "Foi nessa hora que eu saí [com o carro]. Mais a frente eles me cercaram e me pegaram". Mas ele foi cercado por dezenas de manifestantes que desferiam socos e chutes contra os vidros e a lataria do veículo. "Dentro do carro eu mostrava o meu jaleco, mas eles não viam (...) Eles gritavam 'Pega! Pega! Mata! Mata!'", conta.

    "Eu achei que ia morrer", relembra ele emocionado.

    Ele acelerou através do grupo de manifestantes. Assim que se livrou do cerco, dirigiu mais de 15 km até se acalmar e parar em uma delegacia, no Parque Bristol, na zona sul da cidade.

    O auxiliar disse que teve medo de ter ferido algum manifestante enquanto dirigia pela manifestação. "A minha profissão não é para machucar. É para salvar, tratar, cuidar", explica.

    Santos estima que teve um prejuízo de cerca de R$ 5 mil. A conta terá que ser paga por ele, já que o seguro estava com uma parcela atrasada.

    "Era o meu primeiro carro e eu ia dar para a minha filha mais velha. Agora eu tenho até vergonha", diz.

    FORA DO DEBATE

    Santos conta que não acompanha as discussões sobre a liberação do aplicativo Uber na cidade de São Paulo. "Eu não tenho nada contra os taxista. Só depois que eu saí com o carro, eu liguei o rádio e entendi o que estava acontecendo", diz.

    O auxiliar conta que passou a infância passeando no táxi do tio, um Fusca com taxímetro analógico.

    "O país vive uma situação difícil. É pressão por todo lado e nós estamos no meio desse empurra-empurra".

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