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    Mais barato, 'Uber lotação' incentiva até paquera, mas é mico de apressados

    GIBA BERGAMIM JR.
    DE SÃO PAULO

    15/05/2016 02h00

    Adriano Vizoni/Folhapress
    O motorista Édipo Alves, 28, e a estudante de arquitetura Camila Aquino, 27
    O motorista Édipo Alves, 28, e a estudante de arquitetura Camila Aquino, 27

    O motorista Cleber Pomar, 45, mal pega o passageiro e um novo chamado apita em seu smartphone: mais um cliente. Dez minutos depois, perto das 23h, o Honda Civic está com lotação máxima em direção à Vila Olímpia, bairro de vida noturna agitada na capital paulista.

    Pomar é motorista do Uber -aplicativo de transporte particular que há duas semanas iniciou a modalidade Pool. Nesse novo modelo, até quatro pessoas podem dividir um mesmo carro partindo de pontos diferentes.

    A vantagem é o preço -entre 10% e 40% mais barato em relação à viagem exclusiva, sem "caronas", no modelo X (mais barato) "-, além do atendimento geralmente cordial dos condutores e, para quem é adepto de um bate-papo, da possibilidade de engatar conversas com desconhecidos e desconhecidas.

    Entre os contras, um alerta: nunca compartilhe um carro se estiver com pressa, já que as voltas a mais costumam ser inevitáveis. Essa é a constatação da Folha, após fazer 12 viagens durante a última semana, pelas regiões central, norte, sul e oeste, em horários diferentes.

    Motoristas relatam serem comuns conversas sobre negócios e até o início de amizades e paqueras. Mas, na semana em que a presidente Dilma Rousseff (PT) foi afastada do cargo, embates políticos também surgiram.

    REGULARIZAÇÃO DO UBER - Entenda os principais pontos do decreto de Haddad

    O clima é bem diferente dos ônibus e do metrô, onde parte das pessoas passa pelas catracas é já concentra suas atenções nos celulares ou nos livros, sem nem olhar para os lados. O clima foi de descontração no carro de Pomar, na última quinta-feira (12).

    Junto com a reportagem, os servidores públicos Gustavo Dias, 34, e Miguel Lima, 50, embarcaram na Vila Madalena. Era a segunda vez que usavam o compartilhamento.

    "Em São Paulo, carro próprio não resolve. É trânsito, não tem onde parar. Esse modelo sai barato e funciona", disse Dias. Ele, porém, passou apuros na última quarta-feira (11), quando compartilhou um carro em direção ao aeroporto de Congonhas.

    "Saí bem adiantado e quase perdi o voo. Contei com a boa vontade de outra passageira, que desembarcou antes para não mudar a rota."

    ATRASO

    O mesmo sufoco passou a reportagem na última terça (10). Na intenção de testar o serviço, embarcou em Perdizes (oeste) com destino à prefeitura, no centro da cidade.

    Com as mudanças de rota para encontrar a segunda passageira e o trânsito pesado, a saída foi pedir ao motorista para parar perto da estação de metrô mais próxima. Resultado: atraso justamente na entrevista em que o prefeito Fernando Haddad (PT) anunciava a regulamentação de aplicativos como o Uber.

    Companheiro de Dias e Lima na viagem entre a Vila Madalena e a Vila Olímpia, o publicitário Victor Breda, 28, elogiou. "A gente conhece pessoas e descobre novos lugares na cidade", disse.

    A estudante de arquitetura Camila Aquino, 27, teve suas primeiras experiências em carros compartilhados na última quinta (12). "A primeira viagem, pela manhã, não foi boa. Dei muita volta e cheguei atrasada", disse.

    Na segunda, se sentiu mais à vontade, pois estava sem pressa. Passou cerca de 25 minutos entre a universidade, em Higienópolis, e a Vila Olímpia, onde mora, debatendo sobre os prédios projetados por Artacho Jurado e Vilanova Artigas.

    O motorista que a levou, Édipo Alves, 28, disse que a maioria de seus chamados são feitos no modo compartilhado. "É bom porque tem passageiro toda hora", afirmou ele, que trabalha na área de marketing e usa o Uber como segunda fonte renda. O desconto que a empresa faz dos motoristas pela intermediação da viagem no modelo Pool varia de 10% a 30% –quanto menos passageiros, menor o desconto.

    Segundo a empresa, as distâncias para buscar passageiros serão menores à medida que houver mais adeptos. "Quanto maior o número de pessoas utilizando o serviço, maior a probabilidade de rotas diretas", diz a empresa.

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