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    Fogo em Paraisópolis começou em ferro-velho, dizem moradores

    CRISTINA CAMARGO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    15/05/2016 04h34

    Luciano Amarante/Folhapress
    São Paulo - 14.05.2016 - COTODIANO - Incêndio na Comunidade de Paraisópolis. Foto: Luciano Amarante/Folhapress
    Fogo consome barracos na favela de Paraisópolis, na zona oeste de São Paulo

    O incêndio de grande proporção que atingiu cerca de cem barracos na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, neste sábado (14), teria começado em um ferro-velho. Segundo o depoimento de moradores, um jovem colocou fogo em fios para retirar cobre, as chamas atingiram o barracão onde ficava o ferro-velho e se espalharam por uma área de mil metros quadrados.

    "Só vi gente gritando, correndo, tentando carregar fogão, geladeira", conta a dona de casa Maria Albertina, moradora de Paraisópolis há 15 anos. "Todo mundo ficou desesperado".

    Ela voltava do supermercado quando viu as chamas e a correria dos moradores da área atingida.

    O incêndio começou por volta das 17h e foi controlado às 20h30. O Corpo de Bombeiros enviou 15 carros para o local. Sessenta integrantes da corporação trabalharam no combate ao fogo. Na madrugada deste domingo (15), parte dos bombeiros continuava na favela para combater possíveis novos focos.

    Alguns barracos foram totalmente destruídos e só sobraram escombros. Isso aconteceu, por exemplo, com a casa em que morava o pedreiro desempregado João Rosa Bispo, 33.

    Na madrugada de domingo, ele olhava o que restou da área atingida ao lado da mulher. Os dois ficaram só com a roupa do corpo. Perderam o barraco e tudo que estava dentro - móveis, roupas, utensílios domésticos. Não tinham onde dormir e levaram outra sobrevivente, a gata Lulinha, para a casa de um amigo.

    "Ainda bem que consegui salvá-la", disse João. "Essa gata dorme com a gente todo dia, na nossa cama. É como uma filha. Só come arroz e carne moída e vai comigo para todos os lugares."

    Outro morador, Francisco Soares da Silva Júnior, 36, também pedreiro desempregado, afirmou não saber o que fazer após perder tudo. Também sem alojamento, ele contou que muitos moradores estão na casa de parentes, amigos e em uma igreja localizada na favela.

    "Só espero que não tenha nenhuma vida perdida no meio dos escombros", disse, olhando para o local onde ficava o barracão do ferro-velho, agora completamente destruído.

    Não há informações sobre vítimas do incêndio, mas os moradores relatam que uma pessoa caiu do telhado e sofreu ferimentos ao tentar apagar as chamas. Também contam que o jovem que teria iniciado o incêndio apanhou de outros moradores e foi levado pela polícia.

    As informações sobre o número de desabrigados ainda não forma divulgadas. Moradores disseram ter recebido colchões e cestas básicas, mas aguardam mais ajuda para refazer a vida.

    A área afetada tem majoritariamente barracos de madeira, o que facilitou a propagação do incêndio. Durante a madrugada, o local estava sem energia elétrica e com muito cheiro de fumaça.

    Ao lado dos dois filhos e de outros familiares, Queila Rodrigues da Costa tentou apagar o fogo com baldes de água quando percebeu as chamas. Depois, viu que era melhor sair do local. A casa dela sofreu danos parciais. Queila está hospedada na casa da mãe.

    "As chamas ficaram da altura de um prédio", relatou, ainda impressionada.

    Uma das ruas que dá acesso à área incendiada é cheia de bares e lanchonetes. Nos finais de semana, fica lotada e vira cenário de bailes funk. Na madrugada deste domingo, no entanto, poucas pessoas insistiam em ouvir música nas proximidades dos escombros. O funk estava desanimado.

    "Nem parece a mesma rua", notou uma moradora.

    Incêndio em Paraisópolis

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