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    Inspirados em SP, estudantes ocupam 20 escolas no Rio Grande do Sul

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE

    16/05/2016 18h55

    Carregando colchões e barracas, cerca de 30 alunos entraram na escola em um dia incomum: o domingo. "O que vocês vieram fazer aqui?", perguntou o vigia. "Temos reunião do grêmio estudantil", responderam. Entraram e logo colocaram cadeados em todos os portões.

    Assim começou a ocupação do colégio estadual Protásio Alves, no último domingo (15), em Porto Alegre. A escola é uma das 20 ocupadas em todo o Rio Grande do Sul –sendo dez na capital gaúcha–, segundo levantamento do grupo "Ocupa Tudo RS" divulgado na tarde desta segunda-feira (16).

    Além de Porto Alegre, há ocupações em Pelotas, Passo Fundo, Viamão e Rio Grande. O movimento gaúcho foi criado por estudantes inspirados nas ocupações de São Paulo, que chegou a ter 200 escolas tomadas por alunos em 2015.

    A reivindicação do "Ocupa Tudo RS", sem filiação partidária, é o repasse em dia da verba de autonomia das escolas e a defesa do ensino público de qualidade. Em crise financeira desde 2015, o governo de José Ivo Sartori (PMDB) está atrasando o depósito.

    Desde que as escolas começaram a ser ocupadas, na quinta-feira passada (12), Sartori liberou R$ 5,7 milhões da verba de autonomia atrasada do mês de março. Por causa do calote, algumas escolas estão sem merenda, papel higiênico e sem reparos nas instalações.

    É o caso do Protásio Alves. "É tudo precário. O prédio tem 80 anos e nunca tem reformas. O terceiro andar está completamente interditado, não temos refeitório e a escada da entrada pode desabar", conta Ana Paula de Souza Santos, 18, aluna do último ano.

    RISCO DE CAIR

    Usando pantufas de pelúcia lilás, a garota aponta para o teto do saguão da entrada e diz: "Aqui onde nós estamos tem risco de cair". "Tem tanta infiltração que a gente leva choque quando coloca o carregador de celular na tomada", diz.

    Assim como nos demais colégios, no Protásio, existem comissões responsáveis por preparar refeições, cuidar da segurança e programar atividades –como aulas temáticas, teatro, música e esporte.

    Quando a Folha visitou a ocupação, na tarde desta segunda, ocorria uma aula sobre sexualidade com o médico Marcelo Rocha, 27.

    "Viram? A camisinha não é um bicho-papão. Mas usar duas camisinhas, nunca!", contava o doutor enquanto uma lâmpada começou a soltar fumaça, assustando os alunos. O problema é comum por causa da infiltração no teto do ginásio, que às vezes é interditado e já pegou fogo.

    "Eu não tinha aula sobre doenças sexualmente transmissíveis desde a sétima série", comentou Maria Eduarda Moreira, 17, que frequenta o terceiro ano. "São Paulo está dando um show nas ocupações", disse Rocha à reportagem.

    GREVE

    Além das reivindicações dos alunos, os professores da rede estadual também têm as suas. Por isso, entraram em greve nesta segunda e reivindicam ajustes nos salários de 13,01% e 11,36% relativos ao piso nacional da categoria nos anos de 2015 e 2016.

    Mas a medida mais urgente, segundo o sindicato Cpers (Centro dos Professores do Estado do RS) é simplesmente receber o salário em dia. "Nosso salário tem sido parcelado em até nove vezes", diz Solange Carvalho, vice-presidente da entidade. O órgão elogia as ocupações dos estudantes.

    O Cpers não divulgou balanço da adesão das escolas à greve.

    O secretário estadual da Educação, Carlos Eduardo Vieira da Cunha, está de férias e retorna no dia 23. Em nota, a pasta afirma que "é fundamental que as aulas sejam mantidas regularmente, preservando o atendimento dos nossos estudantes, razão da existência de todo o sistema educacional".

    A pasta justifica o calote nos salários e verbas das escolas em decorrência da crise financeira do Estado. Na nota, a gestão de Sartori "conclama a unidade dos gaúchos para superar esses problemas históricos, cuja solução não depende de mera vontade política".

    Por meio de sua assessoria, a pasta informou à Folha que vai haver reunirão com os professores na manhã desta terça (17), juntamente com representantes da Secretaria da Fazenda, responsável pelas finanças do Estado.

    Sobre as ocupações, a assessoria informa que as escolas têm sido procuradas individualmente. O RS tem 2.500 escolas estaduais, 72 mil professores em atividade e 963 mil alunos.

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