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    Polícia apura agressões sofridas por estudantes da Unesp em república

    DE SÃO PAULO

    17/05/2016 19h18

    Arquivo Pessoal
    Universitário Adauto Nogueira ferido após abordagem policial em república em Bauru (SP)
    Universitário Adauto Nogueira ferido após abordagem policial em república em Bauru (SP)

    A polícia abriu um inquérito para investigar as agressões sofridas por estudantes da Unesp de Bauru (a 329 km de São Paulo) dentro de uma república estudantil da cidade durante uma abordagem da PM ao local, no domingo (15).

    A ação da polícia ocorreu por volta das 23h, após vizinhos da república reclamarem do som alto. No local, os estudantes faziam um churrasco. Nas redes sociais, eles acusaram os policiais de terem agido com violência de forma "covarde" e "gratuita".

    Em nota, a corporação afirmou que os estudantes se recusaram a abaixar o volume da música e ofenderam os PMs, chamando-os de "fascistas". Um dos estudantes chegou a atirar um copo de cerveja contra um policial, ainda segundo a corporação. A polícia também afirmou que, após resistência de um deles à voz de prisão, um grupo partiu para cima dos policiais, que tiveram de chamar reforço.

    Arquivo Pessoal
    Ferimento na perna da universitária Flávia Simão após abordagem policial em república em Bauru (SP)
    Ferimento na perna da universitária Flávia Simão após abordagem policial em república em Bauru (SP)

    Michael Barbosa, que mora na casa, afirmou que um vizinho esteve na república, por volta das 22h, e pediu que a música fosse abaixada, o que teria sido atendido. Pouco tempo depois, porém, policiais militares chegaram ao local também por conta do som alto.

    Enquanto conversavam na entrada da residência, um dos jovens repreendeu o PM por colocar o pé dentro da casa sem mandado. O policial então teria ficado irritado, gritado com o garoto e dado voz de prisão a ele.

    Segundo Barbosa, durante a confusão, um outro PM atingiu uma garota com um cassetete pelas costas, o que teria provocado uma nova discussão entre eles e os policiais. Barbosa afirma ter sido agredido com um soco e seguido por dois policiais até o interior da casa, para onde correu. Na residência teriam ocorrido novas agressões e dois disparos de bala de borracha.

    "Me derrubaram já dentro de casa contra o portão da garagem, e então o espancamento. Uma porrada com cassetete no braço esquerdo e outra no ombro direito, um chute na coxa, mais tantas porradas que eu não sabia de onde estavam vindo e nem onde estavam pegando. Me encolhi no chão em posição fetal tentando proteger o estômago enquanto me mandavam deitar com o rosto no chão", descreveu ele no Facebook.

    imagens da confusão

    Vídeo cedido por Michael Barbosa

    Ao todo, seis jovens ficaram feridos, sendo quatro garotos, moradores da república, e duas convidadas.

    Dois rapazes foram detidos e encaminhados para a delegacia, enquanto os outros dois foram levados para o Hospital de Base de Bauru. Apesar disso, foram registrados boletim de ocorrência contra os quatro por perturbação da ordem, desacato, resistência e desobediência. Eles também registraram boletins como vítimas de lesão corporal.

    Um dos rapazes chegou a ficar internado por suspeita de comprometimento da visão, o que acabou não se confirmando. Barbosa também teve uma suspeita de fratura no nariz, que deve ser confirmada ou descartada nos próximas dias, com uma ressonância. O raio-X foi inconclusivo, segundo ele.

    Ao todo, 12 universitários moram na república, sendo todos estudantes de jornalismo na Unesp. Segundo eles, o churrasco começou por volta das 16h e chegou a contar, no ápice, com 30 pessoas. A PM diz que 50 pessoas estavam no local, realizando uma festa.

    Barbosa afirmou que dois advogados estão acompanhando o caso deles. Ele disse também que pretende entrar em contato com a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para denunciar o caso. "Muita coisa na versão da polícia não é verdade", afirma.

    'FORÇA MODERADA'

    A PM afirmou, em nota, que usou "força moderada" para conter os estudantes que entraram em "luta corporal" com os policiais e que um deles tentou pegar uma espingarda calibre 12 carregada com bala de borracha. "Diante do iminente risco de ser retirada a arma de sua posse, [o PM] efetuou um disparo, que veio a atingir a canela de um dos estudantes", diz o comunicado.

    Segundo a polícia, quatro estudantes foram presos sob suspeita de desacato, desobediência, resistência e perturbação do sossego público.

    A PM também não confirmou se os PMs chegaram a entrar no imóvel onde se localiza a república.

    A Secretaria de Segurança Pública afirmou que foi registrado um Termo Circunstanciado para apurar abuso de autoridade, lesão corporal, perturbação de sossego e desacato. "A investigação está em andamento e foi requisitado exame de corpo de delito de todos os envolvidos", disse a pasta.

    A Unesp divulgou uma nota nesta segunda-feira (16) em que afirma que irá apurar as responsabilidades no caso. Disse também repudiar "qualquer tipo de ação que estimule a discriminação, a violência e sentimentos de ódio realizadas por pessoas ligadas ou não à instituição".

    "Atitudes desse tipo vão contra os princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da convivência democrática", afirma a instituição.

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