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    Vacina contra gripe acaba em postos de São Paulo durante campanha

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO
    MARINA ESTARQUE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    18/05/2016 02h00

    Jorge Araujo/Folhapress
    O feirante Paulo Ramos de Andrade, 61, que não conseguiu a vacina para o neto de 1 ano na UBS Dr. Humberto Pascale
    Paulo Ramos de Andrade, 61, não consegue vacina para o neto de 1 ano na UBS Dr. Humberto Pascale

    A vacina contra a gripe se esgotou em diversos postos da rede municipal de saúde de São Paulo antes mesmo do final da campanha pública de imunização, prevista para a próxima sexta-feira (20).

    Embora façam parte do grupo de risco, crianças e idosos que ainda não foram imunizados têm deixado postos de saúde da capital sem a vacina. E, se depender do poder público, eles devem continuar assim, porque não está prevista a chegada de mais doses.

    De nove unidades visitadas pela Folha nesta semana, só uma tinha a vacina contra a gripe, a UBS Boracea, em Santa Cecília (centro). Mesmo assim, um funcionário informou que a oferta era intermitente, e as doses tinham faltado nas semanas anteriores.

    O engenheiro Freddy Depouhon, 64, teve mais uma tentativa frustrada na tarde desta terça (17), na UBS Humaitá, na Bela Vista. Era a sexta vez que ele procurava pela vacina, em três UBS diferentes. "Conheço gente que já teve essa gripe, ela é muito forte. Acho que vou desistir".

    No mesmo posto, a analista comercial Ivanete Neves, 38, também continuava à mercê do vírus H1N1. Ela tem asma e faz parte do grupo de doentes crônicos, que tem direito a ser imunizado. "É péssimo, vou ter que buscar em outro posto", reclamava, ainda sem saber que precisaria ter sorte em seu périplo.

    A justificativa dos governos municipal, estadual e federal, corresponsáveis pela campanha de vacinação, é que a meta prevista na campanha de vacinação foi superada.

    A rede particular costuma cobrar cerca de R$ 150 pela vacina, mas ela também está em falta em várias unidades -de cinco clínicas procuradas nesta semana, só uma tinha doses para todas as idades.

    H1N1

    MORTES

    Na UBS Dr. Humberto Pascale, no centro, mais decepção. A aposentada Isaura Vieira, 61, se dizia "cansada" da busca pela vacina para seu neto, de pouco mais de um ano de idade, que estava precisando da segunda dose.

    "É um absurdo, a gente paga impostos e não tem os direitos. Morreu um monte de gente dessa gripe, e não consigo uma dose para um bebê. É muito preocupante. Vou ter que dar um jeito", disse Vieira, com a criança nos braços.

    Na cidade de São Paulo, já foram registrados neste ano 509 casos de H1N1, com 69 mortes. No Estado, foram 1.209 casos (maior número no país), com 223 mortes.

    Na segunda (16), a UBS dos Campos Elíseos tinha recebido suas últimas 30 doses, que acabaram rapidamente.

    Os funcionários dizem que deram prioridade para crianças que tinham voltado para a segunda etapa da imunização.

    A prática é comum em postos de saúde, mesmo onde há cartazes na porta informando a falta da vacina.

    Na UBS Cambuci, um atendente informou que, apenas na segunda-feira, a unidade havia recebido 140 vacinas, que se esgotaram por volta das 16h. Na semana anterior, uma remessa de 600 doses acabou em dois dias.

    OUTRO LADO

    A campanha de vacinação contra a gripe de 2016, que começou 26 dias antes do previsto em São Paulo, ultrapassou a meta, segundo os governos municipal, estadual e federal. As três esferas são responsáveis pela vacinação.

    De acordo com a gestão Haddad, que distribui as doses nos postos públicos da cidade, foram vacinadas 99,3% do público-alvo. A meta recomendada é de 80%.

    Foram aplicadas, segundo a prefeitura, 3.122.222 vacinas, incluindo 80 mil doses dadas em clínicas privadas.

    Em postos perto das divisas da cidade, população de municípios vizinhos também se vacinaram, informa a secretaria municipal de Saúde.

    A explicação para a falta de vacinas na cidade pode estar no fato de os doentes crônicos não terem entrado no cálculo anual do público-alvo (crianças, idosos e grávidas, principalmente), feito pelos Estados após consulta aos municípios.

    Este grupo pode ter buscado mais a vacina por causa do pânico do H1N1. Ou pessoas sem problemas crônicos entraram nas filas sem receitas médicas e foram vacinadas.

    O governo do Estado diz que distribuiu todas as doses pedidas pelas cidades paulistas e fornecidas pelo governo federal, por meio do SUS.

    O Ministério da Saúde diz que remeteu a São Paulo 12,7 milhões de doses para vacinar 11,9 milhões de pessoas do público-alvo. Por isso, não estão previsto novos repasses.

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