• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 17:04:18 -03

    Estudante agredido durante ação da PM em Bauru deve passar por cirurgia

    BRUNO MESTRINELLI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BAURU

    18/05/2016 15h57

    Arquivo Pessoal
    Universitário Adauto Nogueira ferido após abordagem policial em república em Bauru (SP)
    Universitário Adauto Nogueira ferido após abordagem policial em república em Bauru (SP)

    O estudante de jornalismo Adauto Nogueira, 22, agredido durante uma abordagem da Polícia Militar em Bauru (a 329 quilômetros de São Paulo) no último domingo (15), vai precisar de uma cirurgia de reconstrução no olho direito.

    A república estudantil onde Nogueira mora foi alvo de ação da PM após vizinhos reclamarem do som alto. Segundo os alunos, os policiais militares agiram com violência, desferindo tapas, socos, golpes de cassetete e até atirando com balas de borracha.

    A Polícia Militar, porém, alega que os agentes foram atingidos por um copo de cerveja, e que o confronto começou em seguida (leia abaixo).

    "Eu vou ter que fazer uma cirurgia de reconstrução da área superior do supercílio direito. Meu olho está parecendo uma bola de tênis. Tomei pelo menos quatro socos, todos quando já estava imobilizado por um 'mata leão'. Eu tenho 1,60 m e 55 kg. O médico falou que foi 'um milagre' eu não perder a vista", afirmou Nogueira, que deve passar por cirurgia em São Paulo nesta quinta-feira (19).

    Nas redes sociais, o estudante afirmou que só foi respeitado pelos policiais quando, no carro da PM, mentiu dizendo que era filho de um "político importante" de São Paulo. Ele relatou, ainda, que teve "medo de morrer".

    Outros cinco alunos ficaram feridos, e foram examinados no IML (Instituto Médico Legal) local. Um deles, Michael Barbosa, 22, está com suspeita de fratura no nariz.

    imagens da confusão

    RELAÇÃO TRANQUILA

    Os moradores da república "Risca Faca", onde aconteceu o confronto, relatam ter boa relação com os vizinhos. "Nossa relação é muito tranquila", diz Michael Barbosa, que vive no local há quatro anos.

    Duas mulheres, mãe e filha, que moram no imóvel ao lado há seis anos, dizem estar preocupadas. "Nunca tivemos problema. Aliás, a Polícia Militar não vinha aqui há pelo menos dois anos", comentou uma delas. Ambas não quiseram se identificar, com medo de represálias.

    Elas dizem não ter ouvido o barulho do churrasco. "Só vimos quando a PM chegou. Aliás, falaram que havia 11 viaturas aqui. Será que precisava de tudo isso?", questionou a mãe.

    Na terça (17), policiais militares foram até o local da festa. Moradores da república e vizinhos foram ouvidos informalmente. Não houve coleta oficial de depoimentos, de acordo com as pessoas ouvidas pela reportagem da Folha. "Apenas anotaram em um bloquinho", afirma Tauã Miranda, 23, morador da república.

    Nesta quarta (18), comandantes da PM e a direção da Faac (Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação) da Unesp, que administra o curso de jornalismo, se reuniram para discutir a abordagem dos agentes.

    'FORÇA MODERADA'

    A PM afirmou, em nota, que usou "força moderada" para conter os estudantes que entraram em "luta corporal" com os policiais e que um deles tentou pegar uma espingarda calibre 12 carregada com bala de borracha. "Diante do iminente risco de ser retirada a arma de sua posse, [o PM] efetuou um disparo, que veio a atingir a canela de um dos estudantes", diz o comunicado.

    Segundo a polícia, quatro estudantes foram presos sob suspeita de desacato, desobediência, resistência e perturbação do sossego público. A PM também não confirmou se os PMs chegaram a entrar no imóvel onde se localiza a república.

    A Secretaria de Segurança Pública afirmou que foi registrado um Termo Circunstanciado para apurar abuso de autoridade, lesão corporal, perturbação de sossego e desacato. "A investigação está em andamento e foi requisitado exame de corpo de delito de todos os envolvidos", disse a pasta.

    A Unesp divulgou uma nota nesta segunda-feira (16) em que afirma que irá apurar as responsabilidades no caso. Disse também repudiar "qualquer tipo de ação que estimule a discriminação, a violência e sentimentos de ódio realizadas por pessoas ligadas ou não à instituição".

    "Atitudes desse tipo vão contra os princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da convivência democrática", afirma a instituição.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024