Não anunciava seus próximos passos profissionais em artigos para a imprensa. Não posava de mártir, ou de suposto candidato a Nobel. Não posava de nada. Atuava longe da ribalta. Uma figura discreta, porém estelar.
William Saad Hossne, cirurgião formado pela USP, topou, em 1962, a aventura de fundar uma faculdade de medicina, voltada para pesquisa, no interior de São Paulo: a Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, hoje incorporada à Unesp. Chegou ao cargo de diretor.
Há alguns anos, sofreu uma cirurgia e disse a este repórter: "Meu maior orgulho é ser operado por ex-alunos meus".
Ele tinha muito mais do que se orgulhar. Foi um dos fundadores da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Assumiu a reitoria da Universidade Federal de São Carlos em 1979, e a transformou, de uma instituição esquecida de província, na quarta melhor federal.
Acima de tudo, trouxe ao Brasil o conceito de bioética, da necessidade de procedimentos éticos na pesquisa médica. Em 1995, criou a Conep (Comissão Nacional de Ética de Pesquisa em Humanos).
Ao longo dos anos, nos encontramos muitas vezes, desde quando eu era um jovem repórter da Folha, até mais recentemente, já atuando no "Fantástico". Quando o assunto era ética científica, sempre pedia que telefonassem para o "doutor Saad". Sabia que estava velhinho e temia o dia em que, do outro lado da linha, alguém dissesse que não estava mais lá.
William Saad Hossne morreu no dia 13, aos 89, após um procedimento cardíaco. Deixa a mulher e quatro filhos.
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