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    Cinco PMs são presos após morte de advogado na Grande Florianópolis

    JEFERSON BERTOLINI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

    25/05/2016 18h58

    Cinco policiais militares foram presos em Santa Catarina suspeitos de envolvimento na morte de um advogado em Palhoça, na Grande Florianópolis.

    O defensor Roberto Caldart, 42, representava nesta terça-feira (24) moradores de um conjunto de quitinetes no bairro Barra do Aririú, na periferia da cidade, cujo dono queria despejá-los. Segundo a polícia, os PMs, que estavam de folga e não usavam farda, foram ao local ajudar o proprietário.

    Reprodução/YouTube
    Policial à paisana intimida moradores em Palhoça (SC)
    Policial à paisana intimida moradores em Palhoça (SC), em cena de vídeo gravado com celular

    "Houve uma confusão, o advogado foi agredido e morto", disse a delegada regional de Palhoça, Beatriz Ribas dos Reis. Caldart morreu com um soco na traqueia.

    Segundo a delegada, o dono dos imóveis não tinha mandado para fazer a reintegração. A prisão temporária de 30 dias foi autorizada pela Justiça na noite desta terça, pouco depois da morte.

    Os PMs foram identificados em um vídeo de celular feito por uma testemunha. São eles um cabo, um sargento e três soldados que estão presos em quartéis da região. Seus nomes não foram revelados. Segundo a Polícia Civil, dois deles já tinham antecedentes criminais.

    A Justiça também decretou a prisão temporária do dono das quitinetes e de um amigo dele, mas, até a noite desta quarta (25) eles não haviam sido presos.

    O delegado Marcelo Arruda disse que moradores relataram em depoimento que os PMs "chegaram mostrando as armas e chutando as portas". Também contaram que Caldart foi agredido pelos policiais quando pediu para ver o mandado de reintegração e perguntou por que não estavam fardados.

    Um vídeo divulgado na internet nesta quarta mostra a briga. É possível ouvir gritos, relatos de mulheres agredidas e identificar o advogado, vestido de terno preto. Os policiais não estão identificados nas imagens.

    A Polícia Civil em Palhoça convocou novas testemunhas e aguarda laudos feitos no local e no corpo do advogado para esclarecer detalhes da morte, assim como a participação dos envolvidos.

    'APOIO ÀS INVESTIGAÇÕES'

    Em nota, o comando da Polícia Militar em Santa Catarina declarou que "está apoiando integralmente as investigações da Polícia Civil" e que abriu procedimento "na esfera administrativa e penal militar".

    A PM informou ainda que, oficialmente, não havia sido procurada para ajudar na reintegração.

    A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Santa Catarina divulgou nota em que "lamenta profundamente" a morte de Caldart. A entidade pediu "rigor nas investigações" à Secretaria de Estado da Segurança Pública.

    O presidente da entidade, Paulo Brincas, disse que vai pedir à Polícia Militar que impeça os policiais de fazer "serviço de capanga" nos dias de folga. Ele acusou os cinco PMs de formarem uma "milícia" para intimidar e agredir pessoas de bem.

    "Felizmente foram presos, mas esperamos uma apuração rigorosa do comando da PM e a responsabilização de todos os envolvidos com a demissão do serviço público."

    A Prefeitura de Palhoça chamou a morte de Caldart de "triste episódio" e informou, também em nota, que "não houve a participação de qualquer servidor municipal" na reintegração.

    Caldart era casado, tinha uma filha e morava em Palhoça. Nas redes sociais, amigos lamentaram sua morte e o definiram como um homem correto, trabalhador e com forte senso de justiça.

    A reportagem não conseguiu falar com representantes dos PMs. Até a noite desta quarta, as polícias Civil e Militar não haviam sido procuradas por seus advogados. Em depoimento na delegacia de Palhoça, eles admitiram que estavam no local, mas negaram envolvimento no assassinato.

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