Motoristas do Uber rodam hoje por São Paulo sem terem passado por nenhuma entrevista presencial, sem nenhum teste de direção e sem nenhuma vistoria em seu carro.

Para fazer parte do aplicativo, basta fazer cadastro na empresa, ter carteira de habilitação profissional, não ter antecedentes criminais, fazer cursos on-line e ter um carro fabricado a partir de 2008. O processo é feito pela internet, e os motoristas nem precisam aparecer na sede do Uber.

Toda essa facilidade, porém, deve acabar com exigências previstas no decreto recém-assinado pelo prefeito Fernando Haddad (PT). Os motoristas terão que obter um condutax (habilitação para dirigir táxi) ou certificado similar. A administração afirma que novas portarias irão definir detalhes das regras para atuar ao volante.

Os taxistas, por exemplo, são submetidos a um processo mais rigoroso, com 32 horas de aulas presenciais que incluem ensino prático de direção defensiva e noções de primeiros socorros. Também são obrigados a apresentar uma série de documentos e ir ao DTP (Departamento de Transporte Público) a cada quatro anos para apresentar atestado atualizado de antecedentes criminais.

Essa disparidade nos processos é um dos principais motivos de críticas ao modelo adotado pelo Uber. "Não se trata de ser contra o Uber. Mas eles também têm que ter a formação correta", afirma Joarim Gonzaga, 56, que é taxista há 18 anos.

REGULARIZAÇÃO DO UBER - Entenda os principais pontos do decreto de Haddad

Nas últimas semanas, a Folha conversou com seis motoristas que estão no Uber há cerca de quatro meses. Segundo eles, os cursos on-line incluem testes simulados com perguntas sobre pontos turísticos da cidade, por exemplo. "Eu fiz um curso por conta própria, fora do Uber, que me ensinou até a fazer cálculos de depreciação do veículo. Se o Uber desse o curso, seria bom", disse um motorista.

Para Maurício Januzzi, presidente da Comissão de Trânsito da OAB-SP, o condutor profissional tem que fazer cursos não só de regras de trânsito como para conhecer os principais acessos da cidade. Para ele, tanto taxistas como parceiros de aplicativos deveriam fazer avaliações periódicas sobre leis de trânsito e técnicas de atendimento. "Assim como um motorista de van escolar, o motorista precisa saber, por exemplo, a melhor maneira de levar um idoso. Esses ensinamentos demandam aulas práticas."

O Uber afirmou que o uso de vídeos é a melhor maneira de ensinar o uso do aplicativo aos novos motoristas. "Com estes vídeos também conseguimos passar a experiência de motoristas parceiros, bem avaliados na plataforma, para quem está começando. Além disso, a avaliação no fim de cada viagem também serve para balizar a qualidade do serviço", disse.

Segundo o Uber, há atendimento pessoal aos motoristas para tirar dúvidas. A empresa diz aguardar a publicação das portarias municipais para saber como irá se adequar.