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    tragédia no rio doce

    Laudo contradiz Samarco e diz que 1ª vítima de Mariana morreu soterrada

    ESTÊVÃO BERTONI
    DE SÃO PAULO

    28/05/2016 02h00

    "Até hoje ainda não sei direito o que aconteceu", conta Jucilene Aparecida Veríssimo, 42, a Lena, sobre a morte do marido na tragédia da Samarco, em Mariana (MG). "Cada um fala uma história."

    A versão que existe há mais de seis meses diz que o marido dela, Cláudio Fiúza da Silva, 41, sofreu um infarto na hora da ruptura da barragem de Fundão, onde ele trabalhava como funcionário da terceirizada Integral. Ele foi a primeira vítima identificada entre os 19 mortos do desastre.

    "É o que o pessoal da empresa me falou", lembra ela. E é a história que se impôs e que foi divulgada pela mídia.

    Mas um laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil de Minas contradiz a versão de que a morte de Silva se deu por causas naturais, sem possíveis responsáveis: o trabalhador morreu asfixiado por soterramento.

    O documento, obtido pela Folha, se apoia na necropsia da vítima. "Falaram que ele engoliu muito o produto misturado na lama. No laudo, está falando que tinha lama até no intestino", diz a viúva.

    A Polícia Civil, porém, não esclarece as circunstâncias da morte, devido à "ausência de dados técnicos". "Não houve acionamento para a perícia nem trabalhos de resgate", afirma o documento.

    Apesar disso, a polícia indiciou seis diretores da Samarco sob suspeita de homicídio das 19 vítimas da ruptura de Fundão.

    Silva, segundo a família, trabalhava havia quatro meses como ajudante de obras em Fundão. Logo após o desastre, foi resgatado por funcionários da Samarco e por bombeiros civis também de uma empresa terceirizada que prestava serviço no local.

    Quando foi socorrido, nem o Corpo de Bombeiros de Ouro Preto nem a Defesa Civil tinham sido avisados da tragédia. Silva foi colocado numa ambulância da mineradora e levado ao hospital Monsenhor Horta, em Mariana.

    "Chegou lá sem sinais vitais", diz o laudo da polícia.

    Lena foi informada da tragédia por um tio. Ligou insistentemente, mas sem sucesso, para o celular do marido.

    "Uma colega minha conseguiu falar no telefone dele, mas com outra pessoa. Disseram que ele estava bem, que tinha sido levado para uma policlínica. Arrumei um carro e fui para Mariana", diz.

    Moradora do distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto, ela foi à clínica indicada. O marido não estava lá.

    Dirigiu-se, então, para o Monsenhor Horta. "O médico me falou: 'Nós fizemos de tudo, mas não teve jeito'. Só isso. Não cheguei a ir olhar o corpo dele. Quando eu cheguei lá, ele já estava no IML."

    OUTRO LADO

    Questionada sobre o que exatamente ocorreu com Silva dentro de sua unidade, a Samarco afirmou não ter essa "análise", embora mais de seis meses já tenham se passado desde a morte.

    A mineradora, que pertence à Vale e à BHP Billiton, diz que ele foi encontrado no chão e atendido no local por sua equipe de emergência.

    Para Lena, a hipótese de soterramento do marido, com quem teve dois filhos, é a mais plausível. "Ninguém fala o que foi. Mas se no laudo está escrito, estão foi isso."

    O Caminho da Lama

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