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    Rio de Janeiro

    Defesa de jovem estuprada vê policiais 'machistas' e pede delegada no caso

    RONALD LINCOLN JR.
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

    28/05/2016 11h40

    Gabriel de Paiva - 26.mai.2016/Agência O Globo
    Adolescente, vítima de estupro coletivo, deixa hospital ao lado da mãe, no Rio
    Adolescente, vítima de estupro coletivo, deixa hospital ao lado da mãe, no Rio

    A advogada Eloisa Samy, que defende a adolescente vítima de estupro no Rio, criticou neste sábado (28) o trabalho da Polícia Civil, que não prendeu ninguém envolvido no caso.

    Ela afirmou que os investigadores estão tratando o ocorrido de forma "machista" e pede que o delegado Alessandro Thiers, titular da DRCI (Delegacia de Repressão a Crimes de Informática), seja substituído por alguma delegada no comando da apuração.

    "Ele não tem condições de continuar no caso. [O vídeo] mostra claramente [o crime] e ninguém foi preso. Ninguém dá valor a palavra da mulher. É óbvio que é machismo", afirmou a advogada à Folha. "Ele criminaliza a menina. Deveria ser chamada uma delegada especial. Queriam que ela tivesse filmado o próprio momento do estupro para dizer que houve estupro?"

    A vítima, de 16 anos, uma amiga dela e outros dois rapazes suspeitos de envolvimento no caso foram ouvidos nesta sexta-feira (27) por Thiers.

    Após os depoimentos, o delegado afirmou que ainda não existiam subsídios para pedir a prisão de suspeitos –nem para assegurar que houve realmente o crime de estupro.

    CRÍTICAS

    Samy criticou as perguntas feitas por Thiers durante o interrogatório de sua cliente. "O delegado perguntou se a menina de 16 anos, uma menina vítima de estupro coletivo, tinha por hábito fazer sexo em grupo."

    A investigação teve início após um vídeo da jovem, nua e desacordada, ser postado em redes sociais na terça (24).

    Na gravação, um grupo de homens, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30".

    Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro.

    De acordo com a advogada, um dos rapazes que prestaram depoimento ontem na DRCI pediu desculpas à menina, chorando.

    Ela, no entanto, não quis dizer se foi Raí de Souza ou Lucas Perdomo, que confirmaram em seus depoimentos terem estado com a vítima na noite do ocorrido.

    'CULPA NÃO É DA VÍTIMA'

    Em uma postagem na madrugada deste sábado (28) em seu perfil no Facebook, a adolescente reagiu a comentários de pessoas que a acusam de estar procurando exposição com o caso.

    "Não, eu não quero mídia, não, não fui eu que postei fotinha, muito menos vídeo! Então parem de me culpar, quem errou e procurou não fui eu!! A culpa nunca é da vítima... ninguém culpa quem foi assaltado por estar na rua com o celular", escreveu.

    A advogada da adolescente disse que vai pedir o serviço de proteção da polícia, oferecido na sexta pelo secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, após reunião com o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.

    Samy reclamou da rotina de depoimentos a que sua cliente está sendo submetida –ela já falou à polícia três vezes, e ainda deve testemunhar na Justiça– e criticou o assédio da imprensa sobre o caso.

    "Elas [a vítima e a mãe] estão com o síndrome do pânico, não estão saindo de casa", disse.

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