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    Protesto contra violência a mulheres tem tumulto e gritos de 'Fora, Temer'

    NATÁLIA CANCIAN
    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    29/05/2016 12h53 - Atualizado às 14h11

    Alan Marques/Folhapress
    PM lança spray de pimenta para conter manifestantes em Brasília
    PM lança spray de pimenta para conter manifestantes em Brasília

    Uma manifestação pelo fim da violência contra a mulher na manhã deste domingo (29), em Brasília, registrou tumulto e protestos contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e o presidente interino, Michel Temer (PMDB).

    O tumulto começou quando manifestantes, que carregavam flores para levar à estátua da Justiça, na praça dos Três Poderes, foram impedidos por seguranças do STF e policiais de se aproximarem do local, bloqueado por uma cerca.

    Uma mulher rompeu a passagem e começou a levar as flores do grupo, mas seguranças formaram um cordão de isolamento. Ao verem que a passagem seria impedida, outros manifestantes tentaram passar pela cerca e foram atingidos por spray de pimenta.

    A Polícia Militar chegou a dar voz de prisão a um manifestante. Após gritos de "solta, solta", o rapaz foi liberado. Segundo a PM, não houve feridos. Algumas pessoas, no entanto, relatam que passaram mal durante o tumulto e tiveram que ser socorridas.

    "Só queríamos levar as flores na estátua da Justiça", protestou a artista plástica Daniela Cureau, 35. "Havia crianças por perto", afirma. Manifestantes reagiram com gritos de "Facista, como que é, protege estátua mas não protege a mulher".

    "É um direito nosso, o monumento é público", disse a professora de artes visuais Mana Gi Lemos, 50, que tentava se aproximar do local. Após o tumulto, ela subiu na rampa do STF com o cartaz de "A culpa nunca é da vítima" –policiais, porém, pediram que ela se retirasse. "Queremos manter a ordem", tentou justificar um segurança.

    "FORA, TEMER"

    Ao todo, cerca de 1.500 pessoas participam da manifestação, segundo estimativa da PM. O ato, chamado de Marcha das Flores, foi organizado por 35 coletivos feministas do Distrito Federal após os casos recentes de estupro coletivo de mulheres do Rio de Janeiro e do Piauí.

    Aos gritos de "30 contra todas", em referência ao número de homens investigado no estupro de uma adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro, a manifestação começou por volta das 10h, quando o grupo saiu em caminhada da região do Museu da República em direção à estátua da Justiça, na Praça dos Três Poderes.

    No STF, manifestantes estenderam um varal de calcinhas manchadas de tinta vermelha como forma de lembrar os casos recentes de estupro. Mulheres também pintaram a palma das mãos na cor vermelha e entoaram gritos de "basta". Um dos pilares do STF também foi pintado de vermelho com a marca das palmas das mãos.

    O grupo também segurava faixas com as mensagens "Nada justifica o estupro" e "A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada". Ao fim do protesto, houve gritos de "Fora, Temer", e "Fora, Gilmar, defensor de estuprador" –em alusão a um habeas corpus concedido pelo ministro do STF Gilmar Mendes ao médico Roger Abdelmassih, acusado de estupro de pacientes em sua clínica de fertilização in vitro.

    Na sexta-feira (27), Gilmar Mendes divulgou nota de repúdio sobre o caso de estupro coletivo da adolescente no Rio em que disse que estava "extremamente indignado diante de tamanha violência" e que "os culpados serão punidos pela Justiça".

    O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP) também foram alvos de gritos de protestos. "Existe apenas uma causa para o estupro: o estuprador", afirma Maria Paula de Andrade, do coletivo de Mulheres Negras do DF e uma das organizadoras da manifestação.

    "Queremos mostrar que o número de mulheres que repudiam [os casos de estupro e outras agressões à mulher] é infinitamente maior do que qualquer violentador", diz a produtora Eli Moura, que veio à marcha para representar o coletivo Fênyx. "Não somos muitas, somos incontáveis", completa.

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