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    Polícia irá investigar se criança morta por PMs em SP atirou enquanto dirigia

    PAULO SALDAÑA
    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    03/06/2016 19h54 - Atualizado às 20h36

    A Polícia Civil de São Paulo investiga a versão de que Italo, o menino de dez anos morto nesta quinta-feira (2) por policiais tenha sido baleado após atirar de dentro do carro roubado em movimento. Os investigadores pretendem fazer uma reconstituição. A polícia vai oferecer às famílias o programa de proteção à testemunha do governo estadual.

    Em entrevista coletiva no fim da tarde desta sexta-feira (3), a diretora do DHPP, Elisabete Sato, disse ainda não ter elementos pra afirmar se houve "isso ou aquilo". "Neste início, nada é descartado", disse ela, ao ser questionada sobre a dinâmica do caso.

    A versão consta no depoimento dos dois policiais militares que atuaram no caso. Em depoimento prestado na madrugada, o menino de 11 anos que também estava no veículo teria confirmado que o colega realizou dois disparos enquanto dirigia o carro e um terceiro após bater.

    O mesmo menino foi chamado pra ser ouvido novamente na tarde desta sexta. Até as 19h, ele continuaria prestando depoimento ao lado da mãe. Sato não detalhou sobre as informações desse novo depoimento.

    "Todas as dúvidas que vocês têm nós também temos. Isso vai ser dirimido a partir das perícias e reconstituição", disse a delegada, reafirmando ainda que o órgão não protege nenhuma instituição. "Vamos apurar todas as dúvidas".

    Exames residuográfico (sobre presença de pólvora na mão) e necroscópico já foram pedidos. A delegada contou que Italo estava com uma luva de motoqueiro na mão direita. A arma, um revólver de calibre 38, supostamente encontrado com os garotos, teria sido roubada em Jundiaí em 19 de abril de 2015. Segundo o relato dos policiais, três cápsulas estavam deflagradas e outras três estavam na arma.

    Os dois meninos já tiveram ao menos três ocorrências de roubo neste ano. Nos três registros policiais, eles não portavam armas. Foram um roubo a uma bicicleta no parque do Ibirapuera, em janeiro, e furtos em um hotel, em abril, e a um condomínio. Este último no dia 28 de maio, quando eles quebraram o vidro de um veículo.

    CONTRADIÇÕES

    "Provavelmente, a ação da polícia [de atirar na cabeça da criança, mesmo que ela tenha atirado primeiro] tem um erro técnico elementar", diz Luis Flávio Sapori, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Segurança Pública da PUC-Minas.

    Considerando que os fatos ocorreram como os policiais descreveram, era bastante provável, diz o especialista, que os PMs envolvidos perceberam que eles não estavam tratando com adultos. "É mais um caso que mostra a letalidade da polícia paulista [o tiro contra o garoto de 10 anos acertou a região ocular]", diz Sapori, que também foi secretário-adjunto de Segurança Pública de Minas Gerais entre 2003 e 2007.

    Para o especialista, existe uma contradição clara da polícia em São Paulo. "Ela é uma das que mais mata, apesar de São Paulo não ser um dos mais violentos Estados do país."

    O sociólogo e especialista em violência urbana Álvaro Gullo, professor da USP, afirma que se o garoto realmente atirou, o procedimento padrão dos policiais é revidar. "É muito difícil saber o que ocorreu. Há sempre o impoderável em jogo".

    "Os exames vão mostrar se havia pólvora na mão do menino. Uma criança, mesmo de dez anos, pode ter feito realmente isso", diz.

    OUTRAS OCORRÊNCIAS

    31.jan.2016
    Os dois foram pegos tentando furtar bicicletas no parque Ibirapuera, com mais um colega de 11 anos. Não souberam informar contatos dos familiares, e guardas municipais foram encarregados de levá-los a um abrigo determinado pelo Conselho Tutelar

    22.abr. 2016
    Eles entraram em um hotel na zona sul de SP, reviraram quartos vazios e roubaram dinheiro, um celular, fritadeira, relógio, óculos de sol e três chapéus. Foram flagrados por um hóspede no corredor e levados pelo Conselho Tutelar

    28.mai.2016
    Também na zona sul, invadiram um condomínio, danificaram um carro, entraram em dois apartamentos e tentaram roubar um celular, mas uma moradora os viu. Foram novamente levados pelo Conselho Tutelar

    PRISÕES DOS PAIS

    Cintia Ferreira Francelino (mãe do menino morto)
    > nov.2006: flagrante por tentativa de furto
    > out.2007: flagrante por tentativa de furto
    > dez.2007: flagrante por roubo
    > set.2011: flagrante por furto
    > dez.2014: procurada e capturada
    > dez.2015: procurada e capturada

    Fernando de Jesus Siqueira (pai do menino morto)
    > ago.2009: flagrante por tráfico de entorpecente
    > jan.2013: flagrante por tráfico de entorpecente e corrupção ativa

    Mãe do menino de 11 anos que sobreviveu
    > Não possui nenhum registro

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