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    'Não quero sair daqui para morar no CEU', diz desabrigada em Paraisópolis

    LEONARDO NEIVA
    DE SÃO PAULO

    05/06/2016 15h02 - Atualizado às 18h32

    Um agrupamento de moradores acompanhava o trabalho do Corpo de Bombeiros na manhã deste domingo (5) em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, em frente a uma pilha de destroços onde antes ficavam cerca de 20 barracos. O desabamento, ocorrido por volta das 7h após as fortes chuvas da madrugada, deixou três pessoas feridas e vários desabrigados.

    Dois homens e uma mulher tiveram ferimentos leves e foram encaminhados ao pronto-socorro do Campo Limpo. Um deles estava desacordado. Por volta das 11h, Sabrina, 16, que teve ferimentos nas pernas, já havia sido liberada.

    De acordo com moradores, só não houve mais vítimas porque muitos deixaram o local depois que a estrutura começou a ranger e estalar.

    "Eu e meu marido estávamos dormindo quando começamos a escutar o barulho", conta Franciele dos Santos, 21, desempregada. "Não deu tempo de sair, e o nosso barraco ficava lá no alto, então viemos caindo de lá de cima até aqui", conta, apontando para a calçada em frente à pilha de destroços.

    Franciele morava no local havia seis anos e teve ferimentos leves na testa e nas pernas, mas não quis aguardar a chegada dos bombeiros. Foi atendida em um AMA próximo dali. Segundo ela, o caso teria sido ainda pior se o filho de quatro anos estivesse em casa. "Por sorte, ele foi dormir na minha mãe".

    Até as 12h deste domingo, os desabrigados aguardavam a chegada da Secretaria de Assistência Social para saber onde seriam acomodados. "Tínhamos nossa casa. Não quero ter que sair daqui para morar no chão do CEU", diz Franciele.

    Segundo o major Crespo, do Corpo de Bombeiros, a chuva caída na região durante a noite teria fragilizado a estrutura das casas, a maior parte delas feita de madeira.

    "Não foi feito o trabalho preventivo, então o desabamento poderia ter acontecido tanto aqui quanto em qualquer dos diversos lugares de risco em Paraisópolis", diz Gilson Rodrigues, presidente da associação de moradores do bairro. Segundo ele, a subprefeitura do Campo Limpo já havia sido alertada sobre os riscos de desabamento.

    DESTROÇOS

    Algumas das pessoas que ficaram sob os escombros foram retiradas pelos próprios moradores antes mesmo da chegada dos bombeiros. Outros aproveitaram para buscar móveis e eletrodomésticos que conseguiram salvar em meio aos destroços. "Logo cedo um foi buscar um aparelho de som que percebeu ali na pilha, depois mais gente foi procurar", diz Gilson.

    Às 10h, Júnior Ferreira da Silva, 40, estava irritado por não poder buscar suas coisas. "Quero achar minha mala com as roupas, tentar pegar a geladeira, mas eles [bombeiros] não me deixam ir. Acham que tem mais o quê para cair?"

    Júnior fazia um bico como pintor pouco antes do desabamento, e por isso não estava em casa quando ele aconteceu. "A sorte foi meu filho de 10 anos não estar aí. Ele passa todo fim de semana comigo, mas por causa deste bico que arranjei ele não veio."

    O garçom Delsuc Moreira, 27, que mora em uma casa do outro lado da rua, estava preocupado com o carro. Estacionado na área, o automóvel modelo Prisma havia sido soterrado. "Ainda não consegui ver o tamanho do estrago. No mínimo deve ter arranhado bastante dos lados".

    Franciele também havia identificado alguns de seus pertences: "Já achei naquela pilha meu guarda-roupa, minha privada. Aquela porta vermelhinha é minha também".

    Às 14h, duas viaturas do Corpo de Bombeiros continuavam no local. Procurada pela Folha, a Defesa Civil informou que o desmoronamento foi de aproximadamente 20 barracos, com duas vitimas leves, encaminhadas para o pronto socorro. O órgão também disse que "agentes da Subprefeitura Campo Limpo vão vistoriar as residências vizinhas para verificar se há algum tipo de dano e, se necessário, interditá-las".

    Ainda de acordo com a Defesa Civil, "sete famílias, com quatro pessoas cada, já foram cadastradas pela Assistência Social. Até o momento, nenhuma delas aceitou encaminhamento para abrigos".

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