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    Rio de Janeiro

    Polícia afasta delegado que primeiro investigou estupro de adolescente

    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    07/06/2016 23h15

    Paulo Campos/Folhapress
    Delegados Alessandro Thiers, à esquerda, em coletiva sobre caso de estupro de menor, junto dos delegados Fernando Veloso (chefe da Polícia Civil) e Cristiana Bento (DCAV)
    Delegados Alessandro Thiers, à esquerda, em coletiva sobre caso de estupro de menor

    O delegado Alessandro Thiers, da Polícia Civil do Rio foi afastado, nesta noite de terça (7), da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática. Thiers foi o responsável por iniciar as investigações do estupro da adolescente de 16 anos nas noites de 21 e 22 de maio passado numa favela da zona oeste do Rio.

    A decisão de retirar o delegado Thiers foi do Chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso e está publicada no Boletim Interno da Polícia Civil do Rio desta terça.

    À frente da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, Alessandro Thiers se notabilizou por investigar crimes de grande repercussão como a atuação de black blocs nas manifestações de 2013 e os ataques racistas a atriz Tais Araújo pelas redes sociais.

    A divulgação em uma rede social do vídeo de uma adolescente sendo estuprada levou o caso à delegacia de Thiers. A sua equipe chegou a identificar os primeiros envolvidos no caso, mas o policial entendeu que não deveria pedir à Justiça a prisão dos suspeitos de violentarem a adolescente.

    Thiers foi afastado da investigação do estupro após protestos da advogada Eloisa Samy e do Ministério Público estadual sobre a atuação do delegado no depoimento da adolescente. Na ocasião, Thiers chegou a perguntar a jovem se ela "costumava fazer sexo em grupo".

    A delegada Daniela Campos Terra, atualmente numa delegacia na zona oeste do Rio, 33ª DP, em Realengo, assume a DRCI.

    Procurado, Alessandro Thiers não comentou a decisão da Chefia de Polícia. O policial aguarda nova lotação.

    Via-crúcis depois do estupro

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    CRONOLOGIA DO CASO

    21.mai.2016 - A adolescente é estuprada de madrugada no complexo de favelas São José Operário, zona oeste do Rio, após ir a um baile funk

    24.mai.2016 - A vítima fica sabendo que um vídeo seu circula na internet e volta ao morro para falar com o chefe do tráfico e tentar reaver seu celular, que havia sido roubado

    25.mai.2016 - A família da menina é avisada por um vizinho sobre a gravação. No vídeo, em meio a risadas, um grupo de homens toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30". Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar como estupro, além da conjunção carnal, atos libidinosos

    26.mai.2016 - A jovem presta o primeiro depoimento à polícia, é medicada em um hospital e faz exames no IML (Instituto Médico Legal)

    27.mai.2016 - Ela presta mais dois depoimentos à polícia, assim como dois dos suspeitos de participar do crime; a polícia localiza a casa em que o estupro aconteceu

    28.mai.2016 - A então advogada da vítima, Eloísa Samy, pede à Promotoria do Rio o afastamento do delegado Alessandro Thiers. Segundo Samy, Thiers estava tratando o caso com "machismo e a misoginia"

    29.mai.2016 - Pressionada, a Polícia Civil do Rio passa o comando das investigações à delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima); a pedido da família, a Defensoria Pública passa a defender a menina

    30.mai.2016 - Polícia Civil realiza operação para prender seis suspeitos de participar do crime; Rai de Souza, 22, e Lucas Perdomo, 20, são detidos

    31.mai.2016
    A vítima e sua família entram no programa federal de proteção à testemunha, o que significa que a menina pode ganhar uma nova identidade e deixar o Rio

    1º.jun.2016
    Um terceiro suspeito se apresenta à polícia. Raphael Duarte Belo, 41, aparece no vídeo fazendo uma selfie ao lado do corpo da jovem

    2.jun.2016
    Polícia Civil do Rio pede a prisão de mais dois homens: Moisés de Lucena, que foi acusado pela vítima de tê-la segurado, e um homem identificado como Jeferson. Com isso, passam a ser oito os suspeitos de envolvimento no crime.

    3.jun.2016
    Lucas Perdomo é solto pela Justiça. Delegada afirmou não ter provas suficientes para mantê-lo preso

    5.jun.2016
    Polícia Civil diz que há segundo vídeo que prova estupro da adolescente; ela aparece reagindo e rejeitando contato sexual, disse a delegada do caso

    7.jun.2016
    Perícia conclui que há quatro vozes no primeiro vídeo sobre o estupro

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