• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 10:06:08 -03
    BBC

    Docentes gays carbonizados em carro levam cidade do sertão baiano às ruas

    THIAGO GUIMARÃES
    DA BBC BRASIL, EM LONDRES

    15/06/2016 11h45

    Uoston Pereira/Notícias de Santaluz
    Passeata por justiça em caso de professores homossexuais mortos mobilizou população de Santaluz
    Passeata por justiça em caso de professores homossexuais mortos mobilizou população de Santaluz

    No mesmo final de semana em que um ataque a uma casa noturna gay nos EUA chocou o mundo, uma pequena cidade do sertão da Bahia se mobilizou, de forma inédita, em repúdio ao assassinato de dois professores homossexuais.

    Edivaldo Silva de Oliveira e Jeovan Bandeira deixaram a escola estadual em que trabalhavam em Santaluz (a cerca de 260 km de Salvador), por volta das 22h da última sexta-feira (10). Menos de uma hora depois, dois corpos foram localizados no porta-malas no carro de Edivaldo, às margens da rodovia BA-120. O veículo e os corpos estavam carbonizados.

    Edivaldo, que era conhecido como Nino, foi identificado pela arcada dentária. Sob chuva, o corpo do professor foi enterrado nesta terça-feira (14), após um cortejo de duas horas que reuniu centenas de moradores. O outro corpo ainda passará por exames de DNA para identificação, mas familiares acreditam ser de Jeovan, já que ele está desaparecido desde sexta.

    O delegado João Farias, que apura o caso, disse à BBC Brasil que a homofobia é uma das possíveis motivações do crime. A casa de Edivaldo foi encontrada revirada após o crime, mas objetos de valor, como computador, não foram levados. "Eles eram muito amigos e muito queridos na cidade. Também não teriam inimigos. Já ouvimos várias pessoas e por enquanto não descartamos nenhuma hipótese", disse o delegado.

    Divulgação
    Corpo de Edivaldo Silva de Oliveira (à dir.) foi identificado; Jeovan Bandeira foi visto pela última vez com Oliveira
    Corpo de Edivaldo de Oliveira (à dir.) foi identificado; Jeovan foi visto pela última vez com Oliveira

    Para o Grupo Gay da Bahia, que faz levantamento nacional de assassinatos de homossexuais, trata-se de mais um caso motivado por homofobia. "A cidade inteira acredita nessa motivação", disse à BBC Brasil Marcelo Cerqueira, presidente do GGB.

    De janeiro a junho deste ano, segundo a ONG, foram 16 casos de assassinatos de pessoas LGBT na Bahia e 123 no Brasil. No ano passado, o GGB registrou 319 mortes por homofobia - ou um crime de ódio a cada 27 horas. Desse total, 33 (10,3%) foram na Bahia, que ficou atras apenas de São Paulo, com 55 (17%).

    Em termos relativos, segundo o GGB, Mato Grosso do Sul registrou o maior índice de casos, com 6,49 homicídios por 1 milhão de pessoas, seguido pelo Amazonas, com 6,45.

    PASSEATA

    Na segunda-feira (13), centenas de moradores da cidade baiana de 32 mil habitantes saíram as ruas em protesto por justiça no caso dos professores. Com faixas contra a violência, o grupo promoveu paradas em frente ao fórum, à delegacia e à Câmara Municipal.

    Segundo o jornalista Uoston Pereira, do site local Notícias de Santaluz, foi uma das maiores manifestações que a cidade já viu. "A cidade tinha um grande carinho por eles."

    Uoston Pereira/Notícias de Santaluz
    Escola em que professores lecionavam preparou homenageou vítimas; polícia trabalha com hipótese de homofobia
    Escola em que docentes lecionavam preparou homenageou vítimas

    Em todo o ano de 2015, Santaluz registrou seis homicídios, segundo a Secretaria da Segurança da Bahia. "São casos esporádicos, mas quase sempre relacionados ao tráfico de drogas", disse Uoston Pereira.

    "Longe dos parques temáticos, do turismo cosmopolita e sem gozar do mesmo prestígio internacional de Orlando, Santaluz encurtou a distância geográfica da metrópole americana", escreveu o jornalista baiano André Uzêda, do portal Aratu Online, em artigo de opinião sobre o episódio.

    Uoston Pereira/Notícias de Santaluz
    Grupo Gay da Bahia diz que de janeiro a junho deste ano houve 16 casos de assassinatos de pessoas LGBT na Bahia e 123 no Brasil
    Grupo Gay da Bahia diz houve 16 casos de assassinatos de pessoas LGBT na BA até junho deste ano

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024