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    Contra arrastão em ônibus, mulher põe até celular na bota em Curitiba

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    16/06/2016 02h00 - Atualizado às 14h23

    Theo Marques/Folhapress
    Curitiba, Parana, Brasil, 13-06-2016, 20h30 - Curitiba, cidade que e referencia em transporte coletivo, vem enfrentando um aumento significativo no numero de assaltos registrados a passageiros de onibus nos ultimos dois anos. A assistente de RH Tatiane Augusta da Silva, 33, foi vitima de um arrastao dentro da linha que utilizava frequentemente e por conta disso passou a optar por outros meios de transporte que considera mais seguros, especialmente a noite. (Foto:Theo Marques/Folhapress - FSP-COTIDIANO)
    Tatiane da Silva, 33, assistente de RH, que foi assaltada em um ônibus em Curitiba (PR)

    Quando o ônibus Vila Rex, que cruza um bairro residencial de Curitiba, sofreu um arrastão no mês passado, muitos passageiros foram vítimas do crime pela primeira vez.

    "A gente nunca achou que isso iria acontecer em Curitiba, naquele ônibus", diz Tatiane da Silva, 33, assistente de RH que pegava a linha todos os dias para ir ao trabalho.

    Mesmo assim, alguns usuários já estavam prevenidos: tinham o "celular do ladrão" para eventuais assaltos (um aparelho sem uso na bolsa). Tatiane também se safou: escondia o celular dentro da bota, junto à panturrilha.

    A precaução se explica pelos números: tida como modelo nacional em transporte público, Curitiba vive uma onda de crimes em ônibus. Entre 2014 e 2015, os casos de furtos, roubos e arrastões nos terminais e ônibus da cidade duplicaram, em comparação com a média dos anos anteriores, segundo dados da Guarda Municipal.

    O alvo preferencial dos ladrões, agora, são os próprios passageiros: foram 13 arrastões somente neste ano. "Claramente, houve uma mudança de perfil. O passageiro virou uma presa fácil", afirma o diretor-executivo das empresas de ônibus, Luiz Alberto Lenz César. "É tênis, relógio, celular, bolsa."

    As icônicas estações-tubo, onde trabalham os cobradores, ainda concentram a maioria das ocorrências: 70%, contra 15% em terminais e 11% nos veículos ou pontos comuns. Os arrastões, porém, pularam de três em 2014 para 28 no ano passado. Os números ainda podem estar subestimados, já que o registro oficial dos crimes cabe às polícias militar ou civil.

    A situação econômica do país, com mais desemprego, e medidas de segurança adotadas nos ônibus, como cofres e o uso de cartão-transporte em vez de dinheiro, ajudam a explicar o fenômeno, segundo empresas, motoristas e cobradores.

    Por medo, usuários têm evitado os ônibus à noite, período que concentra dois terços dos crimes –a queda já é sentida pelas empresas. Tatiane, que hoje usa um fretado para ir ao trabalho, diz que não pega mais ônibus à noite "de jeito nenhum".

    Crimes

    QUALIDADE

    Para as empresas, a insegurança também influencia na qualidade do sistema: no ano passado, Curitiba perdeu 13 milhões de passageiros no transporte coletivo, em comparação com 2014. A queda chegou a 5,6%. "Quanto mais assaltos, mais inibido fica o passageiro, e maior o custo do sistema. É uma perda grande para todos os lados", diz César.

    A Guarda Municipal, responsável pelos dados, afirma que o número de ocorrências aumentou devido à ação mais intensiva da corporação, mas admite que houve um pico no número de arrastões. Agora, guardas têm feito ações semanais nos ônibus, revistando suspeitos nos pontos e terminais e viajando em algumas linhas. O número de casos diminuiu desde então.

    "Os arrastões são algo novo, mas estamos trabalhando preventivamente para diminuir. Já sentimos a diferença", diz Vanderson Cubas, diretor da Guarda Municipal.

    Coincidentemente, o mesmo problema tem sido enfrentado em Bogotá, capital colombiana, que também adotou o sistema de ônibus de Curitiba. Desde 2014, usuários se queixam de arrastões nos biarticulados, que começaram a surgir após o aumento da criminalidade na cidade.

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