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    Simulação de morte de menino de 10 anos tem ato de apoio a policiais

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    19/06/2016 19h29 - Atualizado às 23h14

    A simulação da abordagem policial que terminou na morte de um menino de 10 anos, no início do mês, na região do Morumbi (zona oeste), foi transformada em ato de apoio aos PMs envolvidos no episódio.

    Realizada na noite deste domingo (19) pelas polícias Civil e Científica, a simulação busca analisar as versões apresentadas pelos envolvidos, em especial a dos policiais que realizaram os disparos contra a criança, que estava ao volante do carro furtado.

    Seis policiais envolvidos participaram da reprodução, incluindo os dois que atiraram no menino Italo. O menino de 11 anos, que estava com Italo dentro do carro, não participou porque integra o programa de proteção à testemunha.

    Quando os PMs chegaram em frente ao local onde Italo foi baleado, um grupo de moradores passou a gritar "heróis". Famílias inteiras foram assistir e apoiar os policiais, mesmo com o vento gelado e a temperatura na casa dos 13 graus. Parte dos trabalhos foi acompanhada por um grupo com cerca de 30 moradores da região, que aplaudiam os policiais. "Polícia, polícia", gritavam de tempo em tempo.

    "Eles são os nossos heróis. Nosso bairro não é fácil, e eles fazem um trabalho excepcional" diz Valeria Inati, moradora. "A polícia se uniu a nós e nós a eles" disse. "O que aconteceu foi uma infelicidade. Os policiais não tiveram culpa. Não foi uma execução", diz Camila Barreto.

    O escritor Ricardo Dreguer também mora na região, mas não compartilha a mesma opinião de seus vizinhos. Dreguer, que não foi ao ato deste domingo, diz que os moradores que apoiam os policiais no caso são uma "minoria que diz representar todo o Morumbi".

    Segundo ele, o problema da segurança na área "não vai se resolver com condomínios fechados". "Quanto mais nos fechamos, mais vulneráveis ficamos", afirma. "Os problemas de segurança do Morumbi vão se resolver com a diminuição da desigualdade gritante no bairro e com polícia comunitária e cidadã, não com segurança privada armada e polícia violenta que mata primeiro e pergunta depois."

    Ao final da reconstituição, os advogados dos PMs foram até o grupo de moradores agradecer o apoio e as palavras de carinho. Disseram ainda que eles, advogados, ficaram contentes com o trabalho da perícia que foi "transparente" e contemplou também a versão dos policiais. Segundo eles, outras também foram analisadas.

    Também participou da reconstituição o advogado que, conforme a Folha revelou, disse que os meninos atiraram contra o carro da PM. "Ele disse ter certeza que ouviu o tiro e que não partiu da viatura", disse o advogado Norberto da Silva Gomes. Um laudo sobre a simulação deste domingo deve ser anexado ao inquérito, com as conclusões dos peritos.

    Os policiais militares afirmam que só atiraram em revide aos tiros que vinham de um dos ocupantes do carro, que, naquele momento, desconheciam se tratar de uma criança de 10 anos.

    Testemunhas dizem que ouviram disparos também do carro dos meninos.

    Um menino de 11 anos, que estava com Italo dentro do carro, deu versões diferentes sobre o ocorrido. Nas duas primeiras vezes que foi ouvido, disse que o colega estava armado e que tinha efetuado três disparos contra a polícia.

    Depois, mudou a versão. Passou a dizer que nenhum dos dois estava armado e que a polícia plantou a arma para justificar os disparos. Ninguém da polícia se manifestou neste domingo.


    Colaborou PAULO GOMES

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