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    Rio de Janeiro

    Rio pede transferência de presos ligados a fuga, mas teme rebelião

    ALFREDO MERGULHÃO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    20/06/2016 21h57

    Roberto Moreyra/Extra/Agência O Globo
    Rio de Janeiro (RJ) 19/06/2016 - Insegurança - Marginais fortemente armados invadem o Hospital Souza Aguiar e resgantam o traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, vulgo Fat Family. Foto: Roberto Moreyra / EXTRA / Ag. O Globo ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Criminosos invadiram o Hospital Souza Aguiar e resgataram o traficante conhecido como Fat Family

    O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, pediu na tarde desta segunda (20) a transferência de 11 presos que integram o Comando Vermelho, a maior organização criminosa que atua no Estado, para penitenciárias federais.

    Entre eles está Edson Pereira Firmino de Jesus, conhecido como Zaca. Ele é tio do traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family, resgatado na madrugada de domingo (19) por criminosos armados quando estava internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro da capital fluminense. A ação do grupo deixou um homem morto.

    O anúncio das transferências acendeu a luz de alerta no governo e no Judiciário do Rio. Há a informação de que, se o processo for concretizado, os criminosos da facção fariam uma rebelião no sistema penitenciário do Rio.

    "Estamos pedindo a transferência de 11 pessoas do Comando Vermelho para presídio federal, entre elas o tio do rapaz que fugiu, conhecido como Zaca, que estava em Bangu 3. A gente tem indícios e boas possibilidades de instaurar um inquérito sobre a participação dele na fuga", disse Beltrame.

    Os pedidos foram feitos pela Secretaria de Segurança do Rio ao Ministério da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional. Dos 11 presos, quatro já tinham o pedido de transferência aceito e aguardavam apenas os trâmites de transporte.

    Os outros sete presos, entre eles Zaca, tiveram o pedido de transferência feito nesta segunda (20). A expectativa é de que eles fossem transferidos até esta terça (21) em aviões da Polícia Federal e da Força Aérea Brasileira.

    A participação de presos no resgate de Fat Family preocupou o Judiciário. Durante a manhã, o juiz da VEP (Vara de Execuções Penais), Eduardo Oberg chamou ao seu gabinete três delegados da Divisão de Homicídios que investigam o caso.

    Oberg queria entender o andamento das investigações, além da veracidade de um áudio em um aplicativo de celular em que criminosos do interior do cárcere comemoram a fuga do traficante. Não houve nenhuma conclusão após o encontro, mas a polícia já sabe que uma das vozes do áudio é de Zaca.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Não sei se precisa nesse caso, mas a arte é do Eduardo Asta e descreve a ação que libertou hoje, no Rio, o traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, conhecido como Fat Family
    Mapa mostra região onde ocorreu ação que libertou hoje, no Rio, o traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, conhecido como Fat Family

    DIVERGÊNCIA

    A secretaria de segurança e a administração do hospital Souza Aguiar entraram em divergência ao falar sobre o resgate do traficante.

    A secretaria afirmou ter tentado remover Fat Family para outro hospital na última quinta (16), mas disse que o pedido foi rejeitado pelo Souza Aguiar, que afirmou que o estado de saúde do paciente não permitia a transferência.

    A direção do hospital, no entanto, negou que tivesse dado essa resposta –ao contrário, afirmou que, um dia antes do suposto pedido de transferência, na quarta (15), ela mesmo procurou a PM para pedir que o traficante deixasse o hospital, e que ele estava com estado de saúde estável.

    Em entrevista coletiva, Beltrame afirmou que "uma averiguação foi instaurada para ver a atuação dos policiais nessa questão", e que espera que a secretaria de saúde apure a atuação do hospital.

    O secretário de segurança também afirmou que, no último fim de semana, a polícia custodiava dez presos que estavam sendo atendidos em hospitais e tinha informações de que dois deles poderiam ser resgatados.

    "Só neste final de semana, a PM tinha dez custódias para fazer, e dois casos em que havia possibilidade de resgate. Um era esse [de Fat Family] e o outro é o de um preso que foi encaminhado ao [hospital] Salgado Filho e havia possibilidade de resgate que, na nossa avaliação, era mais grave", disse o secretário.

    "Cada policial que você põe no hospital é um a menos nas ruas de uma cidade que carece deles", completou Beltrame.

    Ele também afirmou ter enviado um ofício ao governador interino, Francisco Dornelles (PP), para colocar em funcionamento o hospital do complexo penitenciário de Gericinó, que não conta com centro cirúrgico, mas apenas ambulatório.

    "Se não tiver condições de funcionar, que veja a possibilidade de colocar lá um hospital de campanha, seja pelos Bombeiros, pela Defesa Civil, Forças Armadas ou Ministério da Defesa, para que a PM não faça verdadeiro turismo com ferido na cidade, porque às vezes um hospital não pode receber, outro não tem determinado equipamento e a polícia fica envolvida com esses presos feridos", disse.

    O secretário também negou que houvesse pouco policiamento na custódia de presos no Souza Aguiar, na madrugada de domingo (19). Beltrame disse que normalmente cada preso fica com dois policiais, mas, no caso de Fat Family, esse número subiu para cinco agentes por turno.

    Divulgação/PM
    Tiroteio no hospital Souza Aguiar - o fugitivo
    O criminoso resgatado Nicolas Labre Pereira de Jesus, conhecido como Fat Family

    Apesar do policiamento, um grupo armado com fuzis e granadas invadiu o hospital para resgatar Fat Family. Houve troca de tiros e uma bala atingiu o segurança Ronaldo Luiz Marriel de Souza, de 35 anos, que morreu na hora. O corpo dele foi enterrado desta segunda em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

    "Ele só saiu para buscar atendimento e nada fez. Com qualquer um que estivesse naquele lugar poderia acontecer o mesmo, por irresponsabilidade de quem poderia fazer alguma coisa mas não quer fazer", disse Robson Ayres, tio da vítima.

    Além da transferência dos presos, outra resposta ao resgate foi uma megaoperação realizada pela Polícia Militar para recapturar Fat Family. A ação envolveu policiais de 22 batalhões e cinco companhias independentes em incursões em 54 favelas da região metropolitana do Rio e da Baixada Fluminense.

    Quatro pessoas foram presas, outras quatro detidas e um menor apreendido. Nenhuma delas está envolvida com o resgate.

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