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    Haddad diz que foi equivocada ação da GCM que causou morte de menino

    DE SÃO PAULO

    27/06/2016 10h15 - Atualizado às 17h26 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta segunda-feira (27) que foi equivocada a abordagem da GCM (Guarda Civil Metropolitana) na perseguição que causou a morte de um garoto de 11 anos na zona leste de São Paulo no sábado (25).

    "O protocolo [da GCM] não foi observado. Só em casos muito excepcionais a guarda faz perseguições e, para disparar um tiro, é mais excepcional ainda. A vida de alguém tem que estar em risco, a dele ou alguém próximo dele", afirmou o petista em evento da prefeitura na manhã desta segunda.

    Segundo o prefeito, ele chegou a essa conclusão após ter conversado com o comandante da guarda. Ele disse que um GCM anda armado para se proteger e não para fazer policiamento. "Por isso, a condução de classificar como homicídio sem intenção de matar era apropriada até que novos fatos sejam trazidos à luz. A abordagem não foi correta", disse ele à Folha.

    Waldik Gabriel Silva Chagas

    Mais cedo, o prefeito já havia apontado o equívoco do guarda na ação de sábado em entrevista à Rádio Estadão.

    No evento da manhã –vistoria ao parque do Chuvisco, às obras da avenida Pedro Bueno e do córrego Pinheirinho–, ele foi questionado sobre o que Haddad diria à família do garoto morto. Ele disse: "Justiça vai ser feita, com certeza vai ser feita. O que não repara a tragédia que aconteceu. É uma tragédia, perder uma criança".

    O autor do disparo que matou o garoto foi preso por homicídio culposo (sem intenção). A Secretaria da Segurança Pública informou que o GCM pagou R$ 5.000 de fiança e foi liberado.

    O menino Waldik Gabriel Silva Chagas foi morto com um tiro na nuca por um guarda-civil metropolitano na noite do último sábado (25). O garoto estava no banco traseiro de um Chevette ao ser atingido.

    Segundo a Guarda Civil, homens que ocupavam o carro faziam assaltos em Cidade Tiradentes, na zona leste. Perseguidos, não pararam e atiraram. Depois fugiram.

    A equipe de perícia constatou que havia um disparo de fora para dentro do carro e que os vidros das portas estavam fechados. Segundo o advogado Ariel de Castro, do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), não há provas de que as pessoas no carro estivessem cometendo assaltos. "Também não há indícios de que houve troca de tiros. A única marca de tiro é no vidro traseiro do carro, na altura da cabeça", diz ele.

    "ME SINTO PERDIDA"

    A família de Waldik Gabriel Silva Chagas chegou por volta das 2h desta segunda-feira (27) ao IML (Instituto Médico Legal) para fazer os procedimentos de liberação do corpo do garoto.

    Acompanhada do marido e de dois filhos, a ajudante de cozinha Orlanda Correia Silva, 47, disse que precisou recorrer a amigos que perderam parentes para entender como funciona todo o processo de sepultamento. "Me sinto perdida, nunca enterrei ninguém, nunca fui ao velório de familiares", disse Orlanda, emocionada, no estacionamento do IML, no bairro Artur Alvim, na zona leste de São Paulo.

    No depoimento à polícia, a mãe do garoto disse que o filho andava, supostamente, com pessoas de caráter duvidoso. Porém, ela disse que nunca havia presenciado ou teve conhecimento de que seu filho havia se envolvido em alguma ocorrência policial.

    "Não acordei ainda, não estou acreditando. Vou sentir que ele morreu depois, que ele não vai estar mais na caminha dele. Saio cinco da manhã de casa e não sei o que acontece depois", disse a mãe, emocionada, na noite deste domingo (26).

    Região onde garoto foi morto

    O menino nasceu em Brumado, na Bahia, cidade natal da mãe, que mora há 27 anos em São Paulo. Quando estava grávida, ela voltou para a Bahia e, quando Waldik tinha oito meses, ela retornou a São Paulo.

    Waldik era um dos nove filhos de Orlanda. Todos moram na Cohab Barro Branco 2, em Cidade Tiradentes, próximo do local onde ele foi baleado. Segundo a mãe, o garoto não era bom aluno. Mas estava matriculado no quinto ano. "Era rebelde, mas muito carinhoso".

    A mãe e a irmã de Waldik, Aline Lima, 27, não sabem dizer com quem ele estava no Chevette quando foi baleado. "Os vizinhos disseram que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) deu quatro tiros, não tinha razão para fazer isso", disse Aline.

    "Era uma criança de 11 anos. Por que não atiraram para o alto, no pneu?", questiona o pai, Waldik Chagas, 37, que é motorista. Não há marcas de tiro no carro além daquele que perfurou o vidro e atingiu Waldik. Depois de ser baleado, o menino foi levado ao Hospital Tiradentes. Mas já chegou morto, com um tiro na nuca.

    OUTRO CASO

    A morte de Waldik Gabriel Silva Chagas acontece menos de um mês depois de o menino Italo, de dez anos, ter sido morto por policiais militares na zona sul de São Paulo. Italo estava com outro garoto, de 11 anos, em um carro furtado quando foi baleado durante perseguição policial.

    O menino de 11 anos, que estava com Italo dentro do carro, deu versões diferentes sobre o ocorrido. Nas duas primeiras vezes que foi ouvido, disse que o colega estava armado e que tinha efetuado três disparos contra a polícia. Depois, mudou a versão. Passou a dizer que nenhum dos dois estava armado e que a polícia plantou a arma para justificar os disparos. Ninguém da polícia se manifestou neste domingo.

    Na última sexta (24), o secretário da Segurança Pública no Estado, Mágino Alves Barbosa Filho disse que a polícia vai realizar um exame psicológico no menino de 11 que estava no carro. O exame buscará saber se há algum transtorno. A intenção, segundo Mágino, é "ter um pouco mais do perfil deste menino."

    O secretário não disse se o exame também irá buscar saber em quais das versões o menino dizia verdade sobre a arma encontrada no carro e a realização de disparos pelo, mas indicou que fato de ter apresentado "cinco ou seis versões" suscitou a necessidade de esclarecimento. Nas primeiras versões, o menino disse que Italo atirou contra os policiais, mas, depois, em outras afirmou que a arma foi plantada e que nenhum deles atirou.

    O secretário disse ainda que uma nova testemunha ouvida pela polícia disse ter visto os policiais retirando uma arma de dentro do carro em que estava os meninos, e entregando para um superior, o que reforçaria a tese apresentada pelos policiais.

    A criança de 11 anos que sobreviveu à perseguição policial entrou com sua família para o PPCAAM (Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte). A criança, sua mãe e seus irmãos já não estão mais no Estado de São Paulo, segundo Luiz Carlos dos Santos, do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), que pediu o ingresso da família no programa.

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