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    Cerca de 29 jovens são assassinados por dia no Brasil, aponta estudo

    THIAGO AMÂNCIO
    DE SÃO PAULO

    30/06/2016 00h01

    Reprodução
    Criança morta em SP após perseguição policial; homicídios de jovens cresce no país
    Italo, 10, morto em SP após perseguição policial; homicídios de jovens cresce no país, diz estudo

    Cerca de 29 crianças e adolescentes foram assassinados por dia no Brasil em 2013. No total, 10.520 jovens com idade entre 1 e 19 anos foram assassinados naquele ano. É o que mostra o mais recente relatório "Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil", que será lançado nesta quinta-feira (30).

    O relatório foi elaborado pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), em parceria com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e o Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), do Governo Federal.

    O dados do estudo são de 2013 por serem os últimos consolidados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, explica Waiselfisz.

    O estudo traz dados desde 1980. Enquanto o total de mortes por causas naturais de jovens entre 1 e 19 anos vem caindo ano a ano, o mesmo não acontece com as mortes por causas externas (acidentes, homicídios, suicídios etc.).

    Mortes de crianças e adolescentes no Brasil - Total de mortes de jovens entre 1 e 19 anos, por ano

    Em relação à população brasileira, a taxa de mortes por causas externas de crianças e adolescentes por 100 mil jovens está acima de 30 desde 2007, e foi o terceiro maior valor em 2013 –34,1 mortes por 100 mil jovens.

    A quantidade de homicídios de jovens é o fator que mais contribui para a alta taxa, e vem crescendo a cada ano. Se houve 1.825 assassinatos nesta categoria em 1980, o número foi saltando para 5.004 em 1990, 8.132 em 2000 e 10.520 em 2013.

    Homicídios de crianças e adolescentes no Brasil - Total de homicídios entre 1 e 19 anos, por ano

    Segundo Waiselfisz, o fato pode ser explicado pelo desenvolvimento da economia brasileira.

    A melhoria na saúde pública reduziu a incidência de mortes por causas naturais. Ao mesmo tempo, houve um processo de descentralização da economia, sobretudo a partir dos anos 1980, levando desenvolvimento para o interior do país e fazendo crescer cidades como Ananindeua (PA), Arapiraca (AL) e Sinop (MT), diz Waiselfisz.

    "Também houve aumento da criminalidade nessas cidades médias e houve uma interiorização da violência nacional. A estrutura de segurança não acompanhou a modernização do aparelho criminal", explica o pesquisador.

    Homicídios de crianças e adolescentes no Brasil - Taxa de homicídios entre 1 e 19 anos, por 100 mil

    Por região, as maiores taxas de homicídio de jovens estão no Nordeste (22,6 mortes por 100 mil jovens), Centro-Oeste (20,6) e Norte (16). Os Estados onde mais se mata jovens são Alagoas (43,3 mortes por 100 mil jovens), Espírito Santo (37,3) e Ceará (33,7). A média do país é de 16,3 mortes por 100 mil jovens.

    O Brasil é o terceiro país que mais mata seus jovens nesta faixa etária entre os 85 analisados pela pesquisa (com dados da Organização Mundial de Saúde). Fica apenas atrás do México e de El Salvador, na quantidade de homicídios de acordo com a população.

    De forma proporcional à população, crianças e adolescentes negros com idades entre 1 e 17 anos são vítimas de homicídios até 178% mais do que brancos, mostra a pesquisa.

    Taxa de homicídios por Estado em 2013 - Vítimas entre 1 e 19 anos por 100 mil jovens

    SUICÍDIOS E TRÂNSITO

    A taxa de suicídio de jovens entre 1 e 19 anos no Brasil é de 1,2 mortes para cada 100 mil jovens. Foram 788 casos em 2013. A maior parte dos casos está dos 16 aos 19 anos.

    Os Estados com mais incidência são Mato Grosso do Sul (5,2 casos em 100 mil jovens), Amazonas (4) e Amapá (3,2). Nas capitais, os casos acontecem mais em Macapá, Aracaju e Manaus.

    O crescimento da taxa de suicídio (eram 0,8 por 100 mil em 1980) também se deve ao desenvolvimento da sociedade, diz Waiselfisz. "O suicídio é um instrumento de autopunição de países mais desenvolvidos, como Japão. Sinal de uma crise individual. Mas não somos um país suicida, temos uma taxa muito baixa", afirma o pesquisador.

    O Brasil está ainda entre os países que mais matam crianças e adolescentes no trânsito, mostra o relatório. A taxa, contudo, caiu 6,4% desde 2010, e está no mesmo patamar de 1980: 8,1 casos por 100 mil jovens.

    CRISE ECONÔMICA

    Os dados, de 2013, mostram um país antes de entrar em recessão econômica. Waiselfisz, contudo, acredita que a crise afeta pouco o cenário. "Não há relação clara entre crise econômica e aumento no número de homicídios", diz ele. "O que pode haver é crescimento na taxa de suicídios, porque o jovem não consegue emprego, e piora na qualidade dos serviços públicos, como a saúde."

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