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    Em busca da filha, mãe distribui cartazes e paga post em rede social

    ARTUR RODRIGUES
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    04/07/2016 02h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    A auxiliar de enfermagem Carmen Izabel, cuja filha desapareceu em São Paulo em 2011
    A auxiliar de enfermagem Carmen Izabel, cuja filha desapareceu em São Paulo em 2011

    Há cinco anos, a auxiliar de enfermagem Carmen Izabel, 49, repassa diariamente os últimos momentos que viveu com a filha. Lembra de tudo. De Larissa, então com 11 anos, abrindo o portão para ela ao chegar da rua de noite. Mais tarde, a menina passava por ela no corredor em direção ao quarto por volta das 21h30. Até o prato que ela havia deixado na pia, com restos de banana amassada com leite em pó.

    De certa maneira, 26 de abril de 2011 também foi o último dia da vida de Carmen em São Paulo. Ao menos, como ela conhecera até ali.

    Caçula de cinco irmãos, a menina sumiu no dia seguinte. Deveria ter ido à escola, mas não chegou a entrar sequer no ônibus que a levava.

    Desaparecidos no Estado de SP - Idade, em %

    A mãe desconfia que a menina tenha saído para se encontrar com alguém, por volta do meio-dia. À noite, quando voltou do trabalho, deu pela falta de Larissa.

    "Eu passei a noite distribuindo esse cartaz [um papel sulfite com o rosto da menina e telefones da família]. E saí de manhã pela rua colando em poste, em todo lugar."

    Naquele período, ela esbarrou pela primeira vez na burocracia da Polícia Civil. Primeiro, na indecisão sobre qual DP poderia investigar o caso e, depois, na demora para o início das buscas.

    "Depois a polícia me aconselhou a ir procurar na cracolândia. Minha filha, que era uma criança, que chorou dias antes porque uma boneca Barbie tinha quebrado", diz.

    Mesmo assim, ela foi à cracolândia, a IMLs (Institutos Médicos Legais) e hospitais. Continua indo até hoje.

    Desaparecidos no Estado de SP - Cor da pele, em %

    'UMA DELEGACIA SÓ'

    "A polícia tem apenas uma delegacia para investigar desaparecidos, um problema que afeta tanta gente", diz.

    Uma pessoa do bairro disse ter visto uma menina parecida com Larissa com um homem que tinha uma cicatriz no rosto, mas a pista, como outras, não levou a nada.

    Questionada pela Folha, a Polícia Civil diz que continua investigando o caso e que "tomou todas as providências na busca pela garota; familiares e amigos da família foram interrogados e que foi feita e divulgada a progressão da aparência da menina".

    Com o tempo, Carmen chegou à mesma conclusão de muitas mães: que a maior chance de achar a filha seria por meio do próprio esforço.

    Ela já foi a programas de TV, divulgou fotos em jornais, fez diversas versões de cartazes –com Larissa de cabelo solto, preso, uma projeção de como ela seria mais velha. No mês passado, a foto dela foi mostrada com a de outros desaparecidos no telão do estádio do Corinthians.

    "Já divulguei tanto que acho que alguém teria visto. Por isso, acredito que ela foi levada para o exterior por alguma quadrilha de tráfico de pessoas", afirma. Por isso, Carmen tem feito posts pagos no Facebook. Chegou a contratar um pacote de R$ 1.000 para que o rosto da filha desaparecida pudesse ser visto em outros cantos do mundo.

    Desaparecidos no Estado de SP - Delegacias com mais registros de desaparecimento

    SUMIÇO PERTO DE CASA

    Enquanto procurava a filha, ela encontrou muitas outras mães na mesma situação. Uma delas é Ivanise Esperidião, 54. "Minha filha sumiu a 120 metros de casa e nunca mais tive notícias dela. Quinze anos atrás", diz.

    Ela nunca desistiu de procurar a filha e, na sua busca, ajudou milhares de outras mães a encontrarem seus desaparecidos. Ivanise fundou a ONG Mães da Sé, que ajuda na busca com orientação e divulgação do caso. O índice de localização de casos acompanhados fica em torno de 45%.

    "Também cobramos, denunciamos a omissão do Estado. Não há política pública para o tema", diz.

    Em sua experiência, já viu todo tipo de caso. Desde conflitos familiares, passando por execuções por policiais e tráfico de órgãos. "Há casos que são tratados como lenda urbana pela polícia."

    No segundo domingo de cada mês, Ivanise, Carmen e outras mães se reúnem na praça da Sé com os cartazes dos filhos desaparecidos. A busca jamais cessa e o ato é um protesto silencioso contra o poder público.

    Desaparecidos no Estado de SP - Motivo do desaparecimento, em %

    TRABALHO DA POLÍCIA

    A partir de 2014, normas internas foram publicadas pela Polícia Civil para aumentar a atenção aos desparecidos -a regra não não inclui, porém, casos de adolescentes.

    Apesar da mudança, muitos parentes de desaparecidos ainda reclamam da falta de ajuda do poder público, e, por isso, formam uma grande rede de busca de desaparecidos.

    A polícia paulista tem apenas uma pequena equipe no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) dedicada exclusivamente ao assunto.

    Em 2014, conforme a Folha revelou, entre 2012 e 2013, essa delegacia abriu 51 inquéritos para apurar desaparecimentos –0,3% do total de casos registrados na capital naquele período (18.176).

    Em 2015, a Segurança Pública diz que a mesma delegacia abriu 228 inquéritos para investigar desparecidos e que foram instaurados 8.530 Pids (Procedimentos de Investigação de Desaparecidos) –apurações sem acompanhamento da Promotoria e do Judiciário.

    O governo Geraldo Alckmin (PSDB) diz que, em 2015, foram registrados no Estado 27.759 boletins de ocorrência de pessoas desaparecidas, dos quais 27.321 foram solucionados.

    A polícia não informou, porém, quantas pessoas estão desaparecidas no Estado por suas próprias contas. Nem, também, qual é a estrutura dedicada para a busca de desaparecidos.

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