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    Acabou a vida em cima da bicicleta, diz amigo de ciclista morto na Imigrantes

    MARTHA ALVES
    DE SÃO PAULO

    05/07/2016 06h05

    Reprodução/TV Globo
    Dorgival Francisco Sousa (à esquerda), que morreu após ter o braço decepado; à direita, a bicicleta de Sousa
    Dorgival Francisco Sousa (à esquerda), que morreu após ter o braço decepado; à direita, sua bicicleta

    O segurança noturno Dorgival Francisco Sousa, 59, era apaixonado por bicicleta e fez dela o seu meio de transporte para ir ao trabalho.

    Dia sim, dia não, ele deixava a casa no Jardim das Nações, em Diadema (Grande São Paulo), e seguia à noite pela rodovia dos Imigrantes em direção ao emprego em uma empresa de segurança.

    Na noite do último domingo (3), Sousa não chegou ao trabalho. Foi atropelado por um carro no acostamento da rodovia dos Imigrantes, por volta das 18h. O motorista fugiu sem prestar socorro (confira vídeo abaixo). O segurança morreu no local do acidente.

    Um dos braços de Sousa foi decepado pelo carro e encontrado a mais de 1,5 km de distância na avenida Ulysses Guimarães. O delegado do caso suspeita que o braço do segurança tenha ficado preso no veículo e que o motorista só parou para se livrar do membro da vítima.

    O atropelamento de Sousa guiando a bicicleta pegou amigos e parentes de surpresa. Ele era uma pessoa extremamente cuidadosa, que usava capacete e sempre estava cuidando da magrela.

    O irmão Adimilson Francisco Sousa, 52, que faz serviços gerais em uma fazenda em Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, conta que a paixão de Sousa por bicicletas começou na fase adulta depois que se mudou para São Paulo, em 1978. O segurança não andava de bicicleta quando morava com os pais e outros 15 irmãos na cidade de Nossa Senhora da Glória (SE).

    Segundo Adimilson, o irmão era uma pessoa reservada que não tinha vícios de beber nem fumar. "Ele gostava de trabalhar, era do trabalho para casa, toda a vida na dele. Mas era uma pessoa alegre que sempre contava histórias e a gente ria muito", falou, com carinho.

    Vídeo mostra suposto carro que teria atropelado ciclista

    Adimilson lembra que o irmão inventou uma personagem chamada Jurema, que seria sua esposa. Segundo o irmão, quando Sousa recebia alguma visita em casa sempre dizia: "a Jurema saiu, quando ela chegar faz um café para vocês". Todos riam e ele fazia o café.

    Para a família do pedreiro Antonio Monteiro de Carvalho, 62, o segurança era como se fosse parente. A mulher, filhos e sobrinhos do pedreiro passaram a madrugada desta terça (5) em volta do caixão de Sousa no cemitério municipal de Diadema. O pedreiro contou que conheceu Sousa por intermédio de um primo dele que alugava uma casa nos fundos do seu imóvel. Após a saída deste primo, Sousa alugou a casa onde morou por 28 anos.

    Carvalho ficou sabendo da morte do amigo por volta das 22h30 quando policiais foram até a sua casa. Ele teve que ligar para um primo do segurança para pedir ajudar, pois como não tinha parentesco com Sousa, ele não poderia liberar corpo. "Ele terminou a vida em cima de uma bicicleta", lamentou o pedreiro. Para ele, o inquilino era um amigo muito responsável, cuidadoso e bom caráter. "Tinha uma amizade muito sadia com ele, agora não sei como vai ser", disse Carvalho, segurando o choro.

    A nutricionista Camila Carvalho, 29, falou que conhecia Sousa desde quando nasceu e que o considerava como alguém da família. "Ele viu eu, meus irmãos e primos crescerem. Éramos como seus sobrinhos".

    Segundo Camila, o inquilino tinha muito mais contato com a sua família que a dele que mora em Sergipe. Ela lembra que quando sabiam que ele tinha trabalhado à noite, todos faziam silêncio para não atrapalhar seu descanso. "Ele era fechado e a rotina era do trabalho para casa, mas era o jeito dele e a gente respeitava", disse Camila.

    O enterro do vigilante está marcado para às 10h desta terça (5) no cemitério municipal de Diadema na alameda da Saudade, no Jardim Elisa.

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