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    Dono de ônibus que matou 18 na Mogi-Bertioga é réu em outro acidente

    MARINA ESTARQUE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    14/07/2016 02h00

    O dono da empresa do ônibus que tombou e deixou 18 mortos na rodovia Mogi-Bertioga no mês passado é acusado de homicídio culposo (sem intenção) em um outro acidente –que matou uma mulher em 2012.
    Luiz Carlos Soares, 66, é dono da União do Litoral, com sede em São Sebastião, no litoral norte paulista.

    Após a tragédia com o ônibus de universitários (segundo a perícia, resultado de falha em freios e alta velocidade), a empresa divulgou notas repetindo que nunca havia se envolvido em "acidente com vítima". "Em 25 anos de atuação no setor de transportes, nunca ocorreu um acidente com vítima", afirmava o texto, assinado por Soares.

    Entretanto, em 25 de março de 2012, Soares dirigia um micro-ônibus da empresa quando uma colisão com um carro matou a fiscal ambiental Jacqueline de Oliveira Ranciaro, 50. O acidente ocorreu na rodovia Manoel Hipólito Rego, em São Sebastião.

    Soares é réu em processo do Ministério Público, ao qual a Folha teve acesso. Parte da ação está em segredo de Justiça, e ainda não há uma definição sobre os culpados. O filho da vítima, Thiago Ranciaro, 28, afirma que ficou indignado quando viu a nota da empresa.

    "Como eles colocam ali [na nota] que em 25 anos nunca teve vítima? E a pessoa que assina é o próprio diretor, que estava dirigindo o ônibus [que colidiu com o carro de Ranciaro]? Isso é tirar onda com a nossa cara", afirma ele.

    No dia do acidente, Soares conta que voltava de Paraibuna acompanhado da filha, com destino a São Sebastião. Segundo ele, levava 18 crianças que tinham ido comemorar o aniversário da neta em seu sítio, no fim de semana. No outro carro, Ranciaro retornava da praia, junto com dois netos, uma criança e sua nora, sentido Caraguatatuba.

    Na denúncia, o promotor do caso escreve que o acusado, "de forma imprudente, praticou homicídio culposo na direção do microônibus, (...) matando a vítima". Descreve ainda que Soares, "em uma curva, invadiu a pista contrária e colidiu contra a parte dianteira lateral do veículo que era dirigido pela vítima [Jacqueline Ranciaro]".

    Procurado pela Folha, o dono da União do Litoral alega que a responsável pela colisão foi Ranciaro. "Foi um acidente lamentável, houve a perda de uma vida. Mas o principal de tudo desse processo é que o laudo pericial inocenta a empresa, porque houve invasão da pista pelo carro", diz.

    No processo, o promotor Filipe Viana de Santa Rosa afirma que o laudo foi indireto e realizado somente com base em versões favoráveis ao réu.

    Foram considerados apenas os depoimentos do próprio Luiz Carlos Soares; o da sua filha, Daniela Carvalho Soares Figueiredo, 40, que viajava ao lado do condutor; e de Cássio Soares de Lima, 34, que já trabalhou na empresa do acusado. Lima diz que dirigia no sentido Caraguatatuba, dois carros atrás de Ranciaro, quando presenciou o acidente.

    Segundo o promotor, a versão de outra testemunha, Edgar Sanchez Cotrin Junior, 45, não foi levada em consideração. "O depoimento de Edgar, testemunha sem nenhum envolvimento com qualquer das partes e que seguia logo atrás do carro da vítima, foi ignorado na elaboração deste laudo. Assim, entendo existirem indícios suficientes para oferecimento dessa denúncia", diz o promotor, no processo.

    AMEAÇAS

    Além da versão de Edgar não ter sido considerada no laudo, o filho da vítima diz que a testemunha foi ameaçada e desistiu de depor.

    O advogado de Thiago confirma as ameaças e diz que provas foram levadas ao Ministério Público. Em maio de 2016, a Justiça decretou medida cautelar impedindo que o dono da União do Litoral se comunique com familiares da vítima e testemunhas. Soares afirma que as ameaças foram inventadas.

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