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    Funcionários de aeroportos afirmam que foram 'pegos de surpresa'

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    19/07/2016 02h00

    Representantes dos funcionários dos aeroportos brasileiros dizem que a alteração da regra de inspeção de passageiros em voos domésticos foi apressada e reclamam que o setor foi pego de surpresa.

    O sindicato dos aeroportuários (funcionários dos aeroportos), por exemplo, diz que soube da data de implantação dos novos procedimentos pela imprensa, na última sexta-feira (15). "Era uma discussão que ocorria há duas semanas, mas a data mesmo só soubemos há três dias", relata Célio Barros, secretário-geral do sindicato.

    Outro que reclama da velocidade para implantar as mudanças Edenilson Valadão, do sindicato paulista dos aeroviários (funcionários das companhias aéreas que trabalham no solo). Para ele, a nova norma de inspeção veio "num estalar de dedos".

    "[A alteração na regra] pegou todo mundo de surpresa. O resultado [filas e desinformação] demonstra que houve precipitação. A mudança demandaria um prévio preparo de quem trabalha diretamente com o passageiro", afirma Valadão.

    Para o sindicato dos aeroportuários, os novos procedimentos de segurança poderiam ter sido adotados inicialmente em um único aeroporto do país para depois serem ampliados. "Depois do primeiro teste, seriam analisadas as falhas. Dessa forma, seria criado um novo modelo mais fácil de ser aceito", argumenta Barros.

    Esse processo deveria ainda vir acompanhado de uma campanha de educação do passageiro, para que ele pudesse entender as mudanças.

    "Lamentavelmente, o país adota coisas abruptas e não conscientiza a população. Mas as mudanças deveriam ser mais discutidas e fazer uma conscientização para a população", diz Barros. Para ele, com maior compreensão das regras de segurança aeroportuárias, o passageiro coopera mais na hora do embarque.

    Ele cita o exemplo de países europeus, onde o rigor com o passageiro é extremado, devido ao constante risco de ataques terroristas. "Na Espanha, por exemplo, o passageiro que fizer disparar o detector de metais, é obrigado a voltar ao final da fila de inspeção [para separar seus pertences de metal] (...) São países mais acostumados ao riscos e também às regras", afirma.

    OUTRO LADO

    A Anac diz que a discussão sobre as novas regras têm sido feitas desde "meados de 2015" e que publicou no Diário Oficial sobre a implantação dos novos procedimentos no último dia de junho.

    Uma reunião, diz a agência, foi realizada com operadores dos aeroportos em 1º de julho. A Anac acredita que o período foi suficiente para que os aeroportos se adequassem. A reguladora diz ainda que os agentes aeroportuários responsáveis pelas inspeções são capacitados e constantemente certificados.

    A Anac não respondeu o motivo pelo qual não testou inicialmente os novos procedimentos em escala menor e por que adotou as medidas em período de alta demanda, às vésperas da Olimpíada e de férias escolares.

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    PERGUNTAS E RESPOSTAS

    1. Quais voos tiveram as normas de segurança alteradas?
    Os voos nacionais, em todos os aeroportos brasileiros. A ideia é que eles tenham procedimentos de inspeção mais parecidos com os de voos internacionais.

    2. Como eram as regras de segurança e como vão ficar?
    As normas para embarque em voos domésticos eram menos rigorosas. Raramente ocorriam revistas corporais ou se exigia a retirada de eletrônicos da bagagem de mão.

    MUDANÇAS NOS AEROPORTOS - Regras de segurança em voos nacionais passam a ser parecidas com as de voos internacionais

    3. Eu posso optar por não passar pela revista corporal ou ter minha mala inspecionada?
    Quem se negar a passar pela revista ou abrir a mala será proibido de entrar na área de embarque.

    4. Que horas devo chegar ao aeroporto para embarcar em voos nacionais?
    Com pelo menos com duas horas de antecedência, segundo nova recomendação da Anac. A orientação mudou após os transtornos registrados em aeroportos na manhã desta segunda (18) –até então a sugestão era de uma hora e meia. Em voos internacionais, as empresas aéreas recomendam que o passageiro se apresente no check-in com três horas de antecedência.

    5. Como agilizar minha passagem pela inspeção?
    O passageiro deve retirar antecipadamente cintos, relógios e objetos metálicos –como moedas, chaves e celulares– antes da passagem pelos aparelhos de raios X, para que o processo seja feito com mais agilidade. Notebooks que estejam na bagagem de mão devem ser colocados em outra bandeja.

    6. Por que essas medidas estão sendo implementadas agora? É por causa da Olimpíada, que começa em agosto?
    Segundo a Anac, as mudanças são definitivas e "não há ligação com os Jogos Olímpicos ou com qualquer outro fator externo". A agência divulgou que "as medidas estão sendo adotadas em função da atualização normativa sobre a segurança da aviação civil contra atos de interferência ilícita, necessária para a melhoria contínua da segurança do transporte aéreo a todos os passageiros".

    7. Como é em outros países?
    Com o crescimento de ataques terroristas, a segurança em aeroportos ao redor do mundo é ainda mais restritiva do que no Brasil. Esses locais mantêm um forte esquema de vistoria de passageiros, menor tolerância sobre itens carregados na bagagem, controle de entrada e saída de veículos e guardas armados.

    8. Como foi o primeiro dia das novas regras?
    Houve filas, atrasos e correria em diferentes aeroportos do país. Em Congonhas (São Paulo), as longas esperas começaram antes mesmo de os passageiros chegarem ao local dos aparelhos de raios X. Também aconteceram confusões no Santos Dumont (Rio), em Viracopos (Campinas) e no aeroporto de Ribeirão Preto, no interior paulista.

    9. Como foi feita a divulgação das novas regras para passageiros?
    A divulgação foi feita em cima da hora, na sexta (15), e muitos passageiros não sabiam das mudanças. O número de funcionários da Infraero que usam o colete "Posso ajudar?" aumentou de 8 para 15 no aeroporto de Congonhas.

    Não havia, porém, nenhuma placa com as novas normas no portão de embarque e funcionários não avisavam as pessoas sobre as alterações. As mensagens dos alto-falantes eram raras e com som abafado, difíceis de compreender.

    10. Houve algum tipo de preparação dos aeroportos?
    A Anac diz que está discutindo as novas regras com o setor desde "meados de 2015". Segundo a agência reguladora, o anúncio oficial da data de implementação foi feito no dia 30 de junho, via "Diário Oficial" da União, e esse período foi suficiente para que os aeroportos se adequassem aos novos procedimentos.

    O Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina), no entanto, afirma que foi avisado das mudanças pela imprensa, na sexta (15) –os agentes são responsáveis por executar as normas de segurança nos aeroportos. A superintendência de Congonhas informou que houve um planejamento especial para o primeiro dia, mas admitiu falhas na comunicação e disse que seriam corrigidas.

    11. Como a implantação poderia ter sido feita?
    Para o Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina), as modificações poderiam ter sido testadas em uma escala menor antes de serem implementadas nacionalmente, em apenas um aeroporto, por exemplo.

    12. Os aeroportos brasileiros têm a estrutura necessária para suprir as demandas das novas regras?
    Segundo o sindicato dos aeroviários de SP, a manutenção em aeroportos é falha. Há relatos de que demorou meses para que uma esteira de bagagens no setor de chek-in de Congonhas fosse arrumada, o que evidenciaria falhas no setor. Hoje o aeroporto possui nove máquinas de raios X –todas estavam em funcionamento durante a manhã.

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