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    Rio de Janeiro

    DEPOIMENTO

    Agente da PF impede repórter de fazer anotações em área restrita

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    21/07/2016 02h00

    Lucas Vetorazzo/Folhapress
    Caderno de anotações de repórter teve que ser rasurado
    Caderno de anotações de repórter teve que ser rasurado

    Às 5h30 desta quarta-feira (20), eu vestia o meu cinto, logo após passar minhas malas pelos raios X da área de embarque do aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, quando um homem se aproximou, parecendo tenso. "Boa noite. Digo, bom dia. Sou agente da Polícia Federal. Queira me acompanhar, por favor", disse ele, enfático.

    Eu queria embarcar em um voo às 7h10 para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Cheguei ao Santos Dumont às 5h10, duas horas antes do meu voo, conforme orientou a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) à população. O terminal já tinha grandes filas no check-in e no embarque, mas o público conformava-se com a nova realidade.

    "Tá cheio, mas tá tranquilo. Não fizeram barraco, não bateram em ninguém. Tá de boa", disse Hellen Rodrigues, 30, que envelopa bagagens. A fila que dava acesso à área de embarque assustava, fazendo um "U" por toda a extensão do segundo andar. Um senhor exclamava : "Isso porque são cinco da manhã!". Lojas, cafeterias e livrarias, abertas mais cedo, estavam vazias. As pessoas caminhavam em silêncio, apreensivas.

    O tamanho da fila dava a impressão de que, mesmo com tanta antecedência, perder o voo era uma possibilidade. Não foi assim. Em 13 minutos, cheguei ao embarque. Todos os guichês tinham equipes trabalhando de forma ordenada. Havia inspeção rigorosa, mas ágil. Funcionários distribuíam sacos plásticos para os objetos de metal. Deixei o cinto para tirar adiante. Dez minutos depois, já havia passado pelos raios X.

    Antes de partir para o portão do meu voo, o policial federal me abordou. Na fila, meu comportamento de repórter chamou a atenção. Fui levado a uma pequena sala. "O que o senhor fazia tirando fotos e fazendo anotações na área restrita?" Expliquei que era jornalista e fazia uma reportagem sobre o novo esquema de segurança dos aeroportos.

    AEROPORTOS

    "O senhor acha certo fotografar em uma área restrita, tomar notas e publicar no seu jornal detalhes da nossa operação? Terroristas podem usar suas fotos para ver onde estão posicionadas nossas câmeras, nossos agentes." Respondi que o texto não daria esse tipo de detalhe. Contrariado, ele mandou que eu apagasse as imagens.

    Mostrei quatro fotos e um vídeo. "Pro lixo", repetia ele enquanto eu rolava a tela do celular. Chegou a pedir que eu apagasse as fotos de fora da área restrita, o que neguei. "E suas anotações? Eu quero ver o que você escreveu." Chegamos ao registro da entrada no embarque. "5h35, funcionário da Infraero: 'retirar computador e tablet da mala de mão, por favor'".

    Para o policial, era como a prova de um crime. "Olha aí, identificando a nossa posição. Rasga essas duas folhas aí." Relutei. Ele se irritou. "Estamos num momento especial por conta da Olimpíada. Não estou dizendo que vai acontecer, mas a ameaça [terrorista] é real." Mantive a posição. "Bom, então risca essas informações aí. Já tá tudo na sua cabeça mesmo", disse, passando-me uma caneta. Rasurei a anotação.

    Antes de me liberar, tirou uma cópia da minha identidade e do crachá da Folha. Estava na fila do café quando o funcionário da Infraero apareceu de novo, com uma pergunta que o policial tinha deixado passar. "Em qual voo você vai embarcar mesmo?" Sobre a abordagem, a Polícia Federal disse que é proibido fotografar nas áreas de segurança.

    MUDANÇAS NOS AEROPORTOS - Regras de segurança em voos nacionais passam a ser parecidas com as de voos internacionais

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