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    Mansões de São Paulo ocupam área de dois parques Ibirapuera

    ANDRÉ MONTEIRO
    ARTUR RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    24/07/2016 02h00 - Atualizado às 16h35

    Prédio isolado com projeto arrojado ou suntuoso, acabamento requintado, com uso de madeira de lei e louças da melhor qualidade, ao menos quatro suítes e quatro vagas na garagem. Fora quadra esportiva, depósito de cristais ou cômodo blindado.

    Esses são alguns dos itens da legislação paulistana para descrever as casas de mais alto padrão, da cidade, da categoria "F". As mansões geralmente têm mais de 700 m².

    Levantamento inédito feito pela Folha a partir dos 3,3 milhões de domicílios do cadastro do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), aberto pela gestão Fernando Haddad (PT), apontou que existem 1.840 imóveis do tipo na cidade. Eles representam cerca de 0,1% do total paulistano, mas seus terrenos ocupam área equivalente a mais de dois parques Ibirapuera.

    Em uma conta hipotética, nessa área seria possível construir prédios populares para 107 mil famílias. Essa quantidade de moradias seria suficiente para abrigar todos os moradores de rua e de bairros em áreas de risco da cidade, além de ser quase um terço do deficit habitacional paulistano (369 mil).

    A maior parte dos casarões fica nas zonas sul e oeste, entre os Jardins e a região do Morumbi. A maioria das mansões que ainda está em pé foi construída nos anos 1970 e 80. Depois, o número de construções desse tipo despencou.

    Quando foram construídas as mansões de São Paulo, por década

    LONGE DO CENTRO

    Segundo historiadores, essas foram as últimas áreas da cidade de São Paulo a receber famílias abastadas que buscavam mais segurança e privacidade se afastando do centro da metrópole.

    O arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, pesquisador da USP, afirma que "o caminho dos endinheirados", a partir das décadas de 1930-40, seguiu para o bairro de Higienópolis, avançou pelos Jardins e por fim cruzou o rio Pinheiros e chegou à área do Morumbi.

    "São territórios urbanizados por empresas que, desde o início, destinavam seus empreendimentos à alta renda. Primeiro chegaram a estrutura de ruas, rede de água, depois vieram as pessoas", diz.

    Especialistas afirmam que casas desse porte tendem a ser cada vez mais raras. Para Nakano, áreas muito grandes são insustentáveis no médio prazo.

    "Os moradores estão envelhecendo, e as novas gerações de famílias estão cada vez menores. Querem outra coisa, não querem morar em bairros onde é preciso pegar o carro para ir à padaria."

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    TENDÊNCIA DE DIVISÃO

    Urbanistas afirmam que a divisão dos terrenos ou o uso conjunto das casas que formam as mansões podem ser as saídas para evitar que esses imóveis se tornem elefantes brancos desabitados nos próximos anos.

    Casas menores, porém ainda espaçosas, podem substituir uma mansão de um quarteirão que venha a ficar vazia, exemplifica a urbanista Regina Monteiro. Muitas vezes, os imóveis são compostos por vários lotes, o que facilita a divisão.

    "No Morumbi, há uma família onde poderia haver várias casas bacanas", diz. Regina cita o caso do bairro do Brooklin, que passou por processo parecido. Para ela, no entanto, devem ser levadas em consideração as particularidades de cada bairro. "No Pacaembu, em que os lotes são menores, não tem a mínima possibilidade de dividir."

    Regina diz que é importante manter as características originais dos chamados "bairros jardim", que são arborizados e funcionam como um respiro verde para uma cidade.

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    Os bairros onde ficam as mansões mantêm uma legislação restritiva, de uso residencial, mesmo com novas regras do Plano Diretor. O documento, que traça as diretrizes para o desenvolvimento da cidade, privilegia o adensamento e o uso misto de residências e comércios.

    O urbanista Kazuo Nakano também afirma que a solução não passa por mudanças radicais."São áreas muito subutilizadas para a infraestrutura que têm. Por outro lado, também não se deve reproduzir nesses locais o padrão de produção imobiliária da cidade, muito ruim do ponto de vista urbanístico, de prediões fechados que não favorecem a circulação."

    Ele diz que, em caso de saída do morador, é possível otimizar o espaço sem necessariamente demolir as casas ou acabar com as áreas verdes.

    "Nesses terrenos é possível adensar sem verticalizar, transformar uma casa gigante em uma habitação multifamiliar: parece ser uma casa, mas, na verdade, são quatro. Alguns subúrbios dos EUA estão fazendo isso com sucesso", afirma.

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