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    Para Maluf, mudança de nome do Minhocão é 'revanchismo ideológico'

    GIBA BERGAMIM JR.
    DE SÃO PAULO

    26/07/2016 02h00

    O deputado federal Paulo Maluf (PP) chamou de "revanchismo ideológico" a mudança de nome do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, para Elevado João Goulart, conforme lei sancionada nesta segunda-feira (25) pelo prefeito Fernando Haddad (PT). Maluf foi responsável pela construção da via e pelo nome dado em 1971, quando ele era prefeito de São Paulo.

    A troca do nome do general que comandou o país entre 1967 e 1969 para o do presidente deposto no golpe de 1964 foi a primeira de uma série de mudanças previstas pela gestão Haddad para dar fim a homenagens a personagens do regime militar na cidade –muitos deles associados a torturas, desaparecimentos e mortes.

    Também nesta segunda, a avenida General Golbery do Couto e Silva –considerado um dos ideólogos do golpe de 1964– passou a servir de homenagem ao padre Giuseppe Benito Pegoraro, que teve atuação no auxílio a crianças carentes no Grajaú (zona sul).

    Pelo menos 40 outras vias e praças da cidade podem mudar de nome, caso projetos semelhantes sejam aprovados na Câmara de São Paulo dentro do programa Ruas da Memória, oficializado por Haddad também.
    Está à espera de votação outro texto que veta futuras nomeações de violadores de direitos humanos.

    Maluf, que batizou o elevado em 1971, considerou lamentável a retirada da láurea dada ao presidente que, segundo ele, ajudou São Paulo a dar início ao metrô para ofertá-la a outro presidente que, "com todo respeito, não fez obra para São Paulo".

    "Não se apaga a história tirando o nome de uma obra. Isso me parece um tipo de revanchismo ideológico que não existe mais nem em Cuba, nem na China e nem na Rússia", disse o ex-prefeito. Maluf compara a medida à possibilidade de retirarem as homenagens a Napoleão Bonaparte em Paris.

    "Napoleão invadiu a Rússia e 500 mil franceses morreram. Apesar disso, a França o reverencia e ninguém faz um projeto para retirar o nome dele, por exemplo, de Invalides [onde está o túmulo do líder político francês]", declarou o deputado.

    Apesar das críticas, Maluf apoiou a candidatura de Fernando Haddad na corrida à Prefeitura de São Paulo em 2012. A aliança foi selada na casa de Maluf, no Jardim América, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do PT, Rui Falcão, além de malufistas históricos, como o vereador Wadih Mutran (PP).

    Moacyr Lopes Junior - 18.jun.2012/Folhapress
    (Maluf (à dir.) com Haddad e Lula em sua casa em evento para selar aliança com PT na eleição de 2012

    "É o nosso candidato porque eu amo São Paulo. E por amor a São Paulo eu tenho plena convicção de que São Paulo vai precisar do governo federal para resolver seus problemas", disse Maluf na época.

    Essa foi a primeira vez que PT e Maluf foram aliados no primeiro turno de uma eleição na capital paulista. Nas eleições de 2002 e de 2004, Maluf declarou apoio a petistas no segundo turno.

    A coordenadora-adjunta de Políticas de Direito à Memória e à Verdade da prefeitura, Clara Castellano, diz que boa parte das leis que nomearam avenidas com homenagens a militares foram assinadas por Maluf.

    "Os textos dessas nomeações prestavam homenagem a essas pessoas e as colocam como heróis nacionais que devem ser reverenciados. Costa e Silva, ditador responsável pelo AI-5 (Ato Institucional nº5), que aumentou as perseguições políticas, assassinatos e desaparecimentos, não deve ser colocado em local de destaque", disse.

    BUSTO

    Em 2014, a Prefeitura de Taquari (RS), cidade natal de Costa e Silva, retirou um busto do general que estava em frente à lagoa Armênia, ponto turístico do município. A residência onde ele viveu na infância é hoje o Museu Casa Costa e Silva, que abriga, além de objetos pertencentes ao ex-presidente e o próprio busto, a biblioteca municipal.

    A coordenadora de Cultura da cidade, Sabrina Freitas, diz que há discussões para mudar, inclusive, o nome do museu. "Mas nada disso apaga o que passou, a história. O que não pode acontecer é repetir nem cultuar o que aconteceu, a ditadura, as agressões ao ser humano", disse. A Folha não conseguiu localizar familiares do ex-presidente.

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