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    Após perder Gaby, 7, pais doam valor recebido em 'vaquinha' a Luizinho, 3

    CRISTINA CAMARGO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    31/07/2016 02h00

    A menina Gabrielly Colombaro Ocon, 7, gostava de dividir seus brinquedos com outras crianças, o que, para os pais, era uma prova de desprendimento e amor. "Nada era dela. Tudo era de todo mundo", lembra a mãe, Roberta Ocon, 35.

    "Agora é como se ela tivesse usado a mãozinha para dar um cutucão na gente." O "cutucão" citado por Roberta é a corrente de amor e cuidado que os pais pretendem estender a outra criança, mesmo depois da perda da filha.

    Ela e o marido decidiram doar parte do valor arrecadado em uma "vaquinha" para o tratamento de saúde de Gaby para outra criança, que sofre de uma síndrome rara e cuja família também recorreu a uma campanha de doações.

    Gaby morreu em abril deste ano, depois de três anos e meio de tratamento contra um câncer cerebral. Durante esse período, a família, que mora em Bariri (a 322 km de São Paulo), lançou a campanha "Amigos da Gaby" para arrecadar recursos para bancar um tratamento médico nos Estados Unidos.

    Lá, a menina passou por uma consulta que definiu os rumos dos procedimentos realizados em parceria com o Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Mas não resistiu.

    A morte da garota levou os pais a voltarem a atenção a outros casos de crianças doentes que também precisam de ajuda. Depois de uma reportagem na TV, decidiram doar R$ 50 mil a uma criança que vive muito próxima dali, em Bauru (a 329 km de São Paulo): o menino Luiz Roberto de Aguiar Bernardes, o Luizinho, de três anos e meio.

    VIAGEM À ESPANHA

    Luizinho é portador da síndrome Arnold Chiari, uma rara má-formação do sistema nervoso central que provoca dores intensas de cabeça, sangramento no nariz, fraqueza, apneia e coloca em risco seu desenvolvimento. Ele tem fortes dores de cabeça desde um ano de idade.

    Os pais querem levá-lo para um tratamento na Espanha e começaram uma campanha para arrecadar por volta de R$ 140 mil. Foi essa campanha que chamou a atenção da família de Gaby.

    Os R$ 50 mil foram entregues para a dona de casa Karina Aguiar, 19, e o autônomo Paulo César Bernardes, 23, os pais de Luizinho. Por meio de venda de pastéis, feijoada e outras doações, a família do garoto já arrecadou mais R$ 50 mil. Ainda precisa de R$ 40 mil para custear o tratamento.

    "Temos noção do que esses pais estão passando", diz Roberta. "É impossível amenizar a dor pela perda da Gaby, mas a gente fica em paz ao poder ajudar."

    ENCONTRO

    Há 15 dias, as famílias se encontraram em Bariri. Todos se emocionaram. O menino dormiu quase o tempo todo, mas Júlia, 14, irmã mais velha de Gaby, o beijou e brincou com ele nos instantes em que esteve desperto. Para Roberta, tem sido difícil lidar com a repercussão da doação do dinheiro. "Está voltando um filme na minha cabeça", diz.

    Além de Luizinho, os familiares de Gaby fizeram doações para um menino que passará por transplante de córnea e outro que precisa de uma cadeira de rodas adaptada, todos moradores da região de Bauru.

    Roberta ainda sente não poder ver a filha brincando normalmente e depois adulta, casada, com filhos. A menina havia voltado à escola antes de a doença se agravar.

    Com o gesto da família que acabou de sofrer a perda da caçula, Karina espera que o filho cresça sem a dor e o sofrimento provocado pela síndrome. "Gaby é um anjinho que colocou os pais dela na vida do nosso filho", conta.

    Para receber doações para o tratamento de Luizinho, os pais abriram uma conta no Banco do Brasil: agência 3015-5, conta poupança 30100-0, variação 51.

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