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    Silencioso, sequestrador de sogra de chefe da F-1 alugou casa por R$ 430

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO

    01/08/2016 02h00 - Atualizado às 05h10

    A mulher de Getúlio Furtado chorou quando soube o que havia acontecido bem embaixo do seu nariz: uma senhora de 67 anos havia sido mantida em cativeiro durante nove dias na mesma casa onde vive. Era Aparecida Schunck, 67, sogra de Bernie Ecclestone, dirigente da F-1.

    Furtado, 64, é dono do imóvel –dividido em cinco partes– onde Schunck foi mantida, em Jardim São Miguel, um bairro pobre e residencial de Cotia. "Minha mulher está até agora chorando, sentida com tudo", diz ele.

    A Folha visitou e entrou em parte da casa, que fica no começo de uma rua inclinada, mal iluminada e com vira-latas no entorno, na noite deste domingo (31).

    O dono, Furtado, e sua mulher, moram na parte de trás do imóvel. Duas famílias vivem no primeiro andar. No térreo, viviam a operadora de máquina Rosemeire Artimundo, 47, e, do outro lado do muro, um rapaz que se mudara recentemente, sempre pagando o aluguel em dinheiro. "Ele pediu para alugar a casa há três meses e ficou enrolando para me dar o documento", diz o dono.

    O sequestrador começou a alugar a casa de um dormitório, com sala, cozinha e banheiro, há quase três meses, mas só passou a frequentá-la há cerca de um, segundo os vizinhos. Pagava R$ 430 –R$ 30 pela garagem, onde o carro Polo preto ainda estava neste domingo (31). Ao lado do carro, ficou só um pé (39-40) de um chinelo branco.

    "Ele saía com o carro de madrugada", diz a vizinha Rosemeire, "e eu acordava com o barulho do carro voltando, às 7h". O outro ruído que escutava era o de sacolas -"mas nunca de chuveiro ou de outras coisas. Era muito silencioso". Ao dono da casa, o sequestrador dizia que trabalhava à noite. Só um era visto com frequência. O outro homem foi visto uma vez por Furtado, e apresentado como primo daquele que alugava a casa.

    Da lavanderia da casa da vizinha, pela janela, se vê a pia da cozinha usada pelos sequestradores, com detergente, suco, leite, sacolas e louça suja. Também se vê o quarto com uma cama desfeita.

    Divulgação/Polícia Civil-SP
    Victor Oliveira Amorim, 19, e David Vicente de Azevedo, 23, presos sob suspeita de participação no sequestro de Aparecida Schunck, 67, sogra de Bernie Ecclestone, dirigente da F-1
    Victor Oliveira Amorim e David Vicente de Azevedo, presos sob suspeita de participação no sequestro

    'NAMORADA'

    Há dez dias, na sexta (22), Furtado lembra-se de ter ido instalar um chuveiro no banheiro da casa. "Não tinha ninguém, fora ele." Alguns dias depois, no entanto, pediu para ver como estava a cozinha, que fica nos fundos –"'Não entra aí, não, a minha namorada está no quarto'", disse o sequestrador, lembra Furtado.

    A sala de paredes amarelas estava vazia, exceto por alguns cobertores e um travesseiro no chão, no canto. Toalhas estavam penduradas no varal e na janela da sala.

    Por volta das 18h40 deste domingo (31), os moradores se assustaram com os gritos da polícia, que arrombou o portão da garagem, deteve dois suspeitos e resgatou Aparecida.

    Uma moradora que não quis se identificar diz ter ficado em choque. Quando souberam que o imóvel tinha sido o cenário de um sequestro, até se perguntaram: "Será que é a sogra do ricão da F-1 que apareceu na TV?" "Se eu soubesse, minha filha... Que dó, que pena que dá tudo isso", diz a vizinha Rosemeire, balançando a cabeça, de pijama, na porta de casa.

    Policiais da DAS (Divisão Antissequestro) da Polícia Civil prenderam dois suspeitos de participação no sequestro. Aparecida Schunck deixou a sede do DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa) por volta da 0h30 desta segunda-feira (1º) no carro da família, junto com a filha, Fabiana Flosi, esposa de Bernie, sem falar com a imprensa. O carro foi escoltado por dois veículos com policiais.

    Os dois presos Victor Oliveira Amorim, 19, procurado por furto, e David Vicente de Azevedo, 23, foram levados ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de corpo delito durante a madrugada e, depois, eles foram conduzidos à carceragem do 2º DP (Bom Retiro).

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