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    Polícia prende suspeito de comandar sequestro de sogra de chefe da F-1

    LEANDRO MACHADO
    PAULO GOMES
    DE SÃO PAULO

    01/08/2016 12h13 - Atualizado às 22h03

    A polícia de São Paulo prendeu nesta segunda-feira (1º) um piloto de helicóptero apontado pela polícia como o suspeito de comandar o sequestro de Aparecida Schunck, 67, sogra de Bernie Ecclestone, o inglês todo-poderoso da F-1.

    A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que Jorge Eurico da Silva Faria é suspeito de ser o comandante da ação criminosa. Segundo a polícia, ele prestava serviços para a família quando Bernie Ecclestone vinha ao Brasil para os eventos da Fórmula 1. Faria é dono da JF, empresa que até 2014 foi responsável pela operação aérea do GP Brasil de Fórmula 1. A polícia diz que ele era íntimo da família da refém.

    Ele ocupou também a presidência da Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero) de abril de 2014 até o final de março de 2015, quando deixou o cargo a pedido, alegando razões pessoais. À época, ele informou que iria se mudar para Portugal. Ele foi preso em casa, na Granja Viana, em Cotia.

    Em nota, a Abraphe confirmou que ele deixou o cargo em 2015, sendo substituído interinamente até o término do mandato, em março deste ano. Desde então, segundo a associação, não há relação entre o piloto e a Abraphe, "nem mesmo como piloto associado". O texto informa ainda que a Abraphe recebeu "com surpresa" a informação do envolvimento de Faria no sequestro.

    ROTINA

    O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves, afirmou que Faria conhecia a rotina da família. Porém, os investigadores acreditam que outras pessoas estejam envolvidas. Eles apuram o fato de que os sequestradores sabiam que a família iria receber naquele dia uma encomenda. Quando renderam Aparecida, os dois bandidos presos tocaram a campainha, carregando uma caixa, como se fossem fazer uma entrega.

    "Não podemos revelar informações, mas acreditamos que outras pessoas possam estar envolvidas", disse Mágino.

    Segundo a polícia, Faria contratou os dois homens, presos neste domingo (31), para realizarem o sequestro e prometeu a eles uma parte do valor do resgate. Os três se comunicavam por telefone. Era Faria quem negociava o resgate com a família, por e-mail. De acordo com o secretário, o piloto "não demonstrou surpresa" ao ser preso na madrugada desta segunda.

    Além de Faria, policiais da DAS (Divisão Antissequestro) da Polícia Civil prenderam dois suspeitos de participação no sequestro na noite deste domingo após libertar Aparecida Schunck, que era mantida em um imóvel em Cotia, na Grande SP, desde o dia 22 de julho.

    Os dois presos –Victor Oliveira Amorim, 19, procurado por furto, e David Vicente de Azevedo, 23– foram levados ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de corpo delito durante a madrugada e, depois, foram conduzidos à carceragem do 2º DP (Bom Retiro).

    Os criminosos pediam resgate de R$ 120 milhões, que precisaria ser entregue em quatro pacotes de dinheiro vivo –o primeiro pedido teria sido acima desse valor.

    Jorge Faria fala à imprensa

    OUTRO LADO

    Na tarde desta segunda, Jorge Faria falou brevemente com a imprensa ao deixar o DHPP (Delegacia Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoa) para a audiência de custódia e negou envolvimento no sequestro de Aparecida Schunck. "Não conheço, nunca vi. Não tenho nenhum contato com eles", disse, quando perguntado sobre os dois homens detidos no domingo. Ele disse ainda ter "o maior carinho pela família" da vítima.

    Pilotos próximos a Faria revelaram surpresa com a notícia da prisão do colega. "Ele sempre foi admirado e respeitado pela comunidade aeronáutica", afirma Cesar Augusto, 43, que já trabalhou com ele no GP Brasil de Fórmula 1.

    Em 2000, à frente do transporte aéreo do GP, Faria disse à Folha se tratar da "maior operação civil de transporte aéreo por helicópteros do mundo". Segundo Augusto, o piloto sempre teve uma postura "admirável" e é "referência na área". Ele acredita na inocência do colega de profissão. "A situação profissional e financeira dele e da família não condizem com esses supostos atos [o sequestro]."

    Um perfil em uma rede social mostra que Faria frequenta haras e é um grande apreciador de cavalos. Ele é amigo no Facebook tanto de Aparecida quanto de uma de suas filhas.

    Outro profissional do meio que trabalhou com Faria reiterou a surpresa com o envolvimento. "Ele sempre foi '100%' comigo, é um cara profissional, que tem família [ele é casado com outra piloto, com quem tem dois filhos], uma relação boa como qualquer um. Nunca imaginaria algo desse gênero", diz o piloto, que não quis se identificar. "Se você pensar nas condições dele, que era bem financeiramente, não faz sentido colocar tudo isso a perder", afirma.

    De acordo com esse piloto, não é a primeira vez que o comandante Faria é ligado a algum crime –no passado, seu nome teria sido citado por envolvimento com o roubo de um helicóptero.

    Para o colega, Faria pode ser vítima de rumores por ser uma pessoa de ambições políticas. "Ele já foi presidente da Abraphe, já cogitou cargo na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), então sempre pode ter alguma pessoa querendo passar o pé", diz ele.

    CATIVEIRO

    A Folha visitou e entrou em parte da casa, que fica no começo de uma rua inclinada, mal iluminada e com vira-latas no entorno, na noite deste domingo (31). Getúlio Furtado, 64, é dono do imóvel –dividido em cinco partes– onde Schunck foi mantida, em Jardim São Miguel, um bairro pobre e residencial de Cotia, na Grande São Paulo. "Minha mulher está até agora chorando, sentida com tudo", diz ele.

    O dono, Furtado, e sua mulher moram na parte de trás do imóvel. Duas famílias vivem no primeiro andar. No térreo, viviam a operadora de máquina Rosemeire Artimundo, 47, e, do outro lado do muro, um rapaz que se mudara recentemente, sempre pagando o aluguel em dinheiro. "Ele pediu para alugar a casa há três meses e ficou enrolando para me dar o documento", diz o dono.

    O sequestrador começou a alugar a casa de um dormitório, com sala, cozinha e banheiro, há quase três meses, mas só passou a frequentá-la há cerca de um, segundo os vizinhos. Pagava R$ 430 –R$ 30 pela garagem, onde o carro Polo preto ainda estava neste domingo (31). Ao lado do carro, ficou só um pé (39-40) de um chinelo branco.

    "Ele saía com o carro de madrugada", diz a vizinha Rosemeire, "e eu acordava com o barulho do carro voltando, às 7h". O outro ruído que escutava era o de sacolas –"mas nunca de chuveiro ou de outras coisas. Era muito silencioso". Ao dono da casa, o sequestrador dizia que trabalhava à noite. Só um era visto com frequência. O outro homem foi visto uma vez por Furtado e foi apresentado como primo daquele que alugava a casa.

    SEQUESTROS EM SÃO PAULO

    Nos últimos anos, segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, o número de casos de sequestro tem caído. De 2012, quando houve 43 crimes desse tipo, até 2015, quando a pasta registrou 33 sequestros, a redução foi de 23%. No primeiro semestre deste ano, foram 14 casos até o fim de junho –ante 17 sequestros registrados no primeiro semestre de 2015.

    Sequestro e cárcere privado - Por Estado, em 2013

    Sequestro e cárcere privado - Total, por ano

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