• Cotidiano

    Sunday, 28-Apr-2024 21:38:54 -03

    Lei Maria da Penha completa dez anos neste domingo com pouca fiscalização

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO

    07/08/2016 02h00

    Raul Spinassé/Folhapress
    SALVADOR, BA, 02.08.2016: Retrato de Mara Andrade, 44, que diz viver com medo. Seu ex-marido já violou pelo menos 15 vezes a medida protetiva que tem contra ele, conseguida via Lei Maria da Penha. (Foto: Raul Spinassé/Folhapress, COTIDIANO ) ***EXCLUSIVO FOLHA***
    Retrato de Mara Andrade, 44, que diz viver com medo. Seu ex-marido já violou pelo menos 15 vezes a medida protetiva conseguida via Lei Maria da Penha

    A Lei Maria da Penha completa dez anos neste domingo (7) como um mecanismo consolidado de combate à violência doméstica contra a mulher no Brasil, mas com pouca fiscalização a seu cumprimento.

    Sancionada em 7 de agosto de 2006 e em vigor desde setembro daquele ano, a norma estabeleceu que a violência doméstica –física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral– é crime.

    Levantamento da Folha junto a Promotorias estaduais e Tribunais de Justiça mostra que 28 municípios brasileiros têm policiamento específico para mulheres protegidas pela Lei Maria da Penha –há 5.570 cidades no Brasil. Dois terços desses programas apenas tiveram início em 2015 ou 2016.

    A ausência de fiscalização às medidas protetivas concedidas pela Justiça, que, entre outras ações, podem proibir o homem de se aproximar da mulher ou afastá-lo do lar, e a demora para concedê-la são as principais críticas de especialistas à lei.

    Local da agressão, em % - Considera o total de 147.691 mulheres atendidas pelo SUS em 2014

    Muitas vezes, uma medida protetiva é apenas um papel, sem efetividade. No caso de Mara Andrade, 44, é um papel sem valor: seu ex-marido entrou em casa 15 vezes, apesar de ter o afastamento definido pela Justiça.

    Já a medida protetiva a uma advogada mineira de 29 anos que não quis ser identificada não impediu que o ex-marido a agredisse novamente. Concedida no início deste ano, a norma foi agravada, e ele hoje precisa usar tornozeleira eletrônica –outra forma de monitorar o agressor, assim como o botão de pânico.

    "Tenho medo de encontrar com ele na esquina", diz. "Se quiser me matar, uma tornozeleira não vai impedi-lo."

    Uma das idealizadoras do programa Guardiã Maria da Penha em São Paulo, realizado pela Guarda Civil Metropolitana há dois anos, a promotora Silvia Chakian diz que cabe ao Executivo buscar como efetivar a proteção às mulheres. "Isso para tirar do ombro da vítima o peso de fiscalizar a própria medida."

    CASOS GRAVES

    Há 21 guardas municipais capacitados e duas viaturas para fazer rondas diariamente na capital paulista. Os casos mais graves podem ser verificados diariamente.

    Relação com o agressor, em % - Considera o total de 147.691 mulheres atendidas pelo SUS em 2014*

    A presença da GCM no local, segundo o inspetor Laércio dos Santos, coordenador do programa, inibe também a violência doméstica de outros membros da comunidade visitada. Desde o início do programa, 474 mulheres foram atendidas e nove agressores foram presos em flagrante.

    Na cidade de São Paulo, segundo o Tribunal de Justiça do Estado, 35,3 mil medidas protetivas foram aplicadas por varas especializadas de janeiro de 2013 a junho deste ano –a zona leste concentra o maior número, 12 mil. Mas a patrulha funciona só no centro expandido.

    O programa em Salvador tampouco abrange toda a cidade. Lá, 358 mulheres foram atendidas desde 2015. Assim como em SP, em Salvador e na maioria dos municípios há dois veículos nos programas.

    Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 328 mil medidas protetivas foram concedidas apenas em 2015.

    Ana Lúcia Keunecke, da Artemis, ONG de Defesa às Mulheres, diz que muitas mulheres são vítimas do feminicídio mesmo com medida protetiva. "É preciso vontade política para estender as guardas para todas as cidades."

    Para a secretária especial de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes, mesmo não havendo ainda no Brasil um ordenamento jurídico que obrigue Estados e municípios à criação de patrulhas, existem mecanismos para afastar o agressor. "No caso de descumprimento, a vítima pode recorrer à delegacia ou ao Ministério Público", afirma.

    CIDADES QUE TÊM FISCALIZAÇÃO

    -

    MARIA DA PENHA

    O que é
    Criada em 2006, a Lei Maria da Penha estabelece que violência doméstica –física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral– é crime

    Medidas protetivas
    A lei prevê que a Justiça conceda medidas para garantir a proteção das vítimas, em até 48h após a notificação da agressão

    Algumas delas
    > Afastamento do lar
    > Limite de aproximação e proibição de contato com vítima, familiares e testemunhas
    > Proibição de presença em determinados locais
    > Restrição de visitas aos dependentes menores

    -

    ONDE PROCURAR AJUDA?
    Vítimas podem se dirigir a delegacias especializadas para realizar denúncias. Centros de Referência a Mulheres em Situação de Violência (CRMs) também oferecem atendimento psicológico, social e jurídico

    *

    CENTROS DE REFERÊNCIA (CRMS)
    Atendimentos de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

    Centro
    Centro de Referência da Mulher 25 de Março
    Rua 25 de Março, 205 - Centro
    Fone: (11) 3106-1100

    Zona Norte
    CRM Casa Brasilândia
    Rua Silvio Bueno Peruche, 538 - Brasilândia
    Fone: (11) 3983-4294 / 3984-9816

    Zona Sul
    CRM Casa Eliane de Grammont
    Rua dr. Bacelar, 20 - V. Clementino
    Fone: (11) 5549-9339 / 5549-0335

    CRM Maria de Lourdes Rodrigues
    Rua dr. Luís da Fonseca Galvão,145
    Parque Maria Helena
    Capão Redondo
    Fone:(11)5524-4782

    Zona Leste
    CRM Onóris Ferreira Dias
    Rua Pedro Soares de Andrade, 664 - Vila Rosaria
    São Miguel Paulista
    Fone: (11) 2698-0303

    *

    DELEGACIAS DE DEFESA DA MULHER

    Centro
    1ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Rua Dr. Bittencourt Rodrigues, 200 - térreo - CEP 01017-010 - São Paulo
    Telefone: (11) 3241-3328

    Zona Sul
    2ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Avenida Onze de julho, 89 - térreo - CEP 04041-050 - São Paulo
    Telefone: (11) 5084-2579

    Zona Oeste
    3ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Avenida Corifeu de Azevedo Marques, 4300 - 2º andar - CEP 05339-002 - São Paulo
    Telefone: (11) 3768-4664

    Zona Norte
    4ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Avenida Itaberaba, 731 - 1º andar - CEP 02734-000 - São Paulo
    Telefone: (11) 3976-2908

    Zona Leste
    5ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Rua Dr. Corinto Baldoíno Costa, 400 - 2º andar - CEP 03069-070 - São Paulo
    Telefone: (11) 2293-3816

    Santo Amaro
    6ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Rua Sargento Manoel Barbosa da Silva, nº 115 - 2º andar - CEP 04675-050 - São Paulo
    Telefone: (11) 5521-6068 e 5686-8567

    São Miguel Paulista
    7ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Rua Sabbado D'Angelo, 46 - Itaquera - térreo - CEP 08210-790 - São Paulo
    Telefone: (11) 2071-3488

    São Mateus
    8ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Avenida Osvaldo do Valle Cordeiro, 190 - 2º andar - CEP 03584-000 - São Paulo
    Telefone: (11) 2742-1701

    Pirituba
    9ª Delegacia de Defesa da Mulher
    Avenida Menotti Laudisio, 286 - térreo - CEP 02945-000 - São Paulo
    Telefone: (11) 3974-8890

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024