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    Dimas Moreira (1935-2016)

    Mortes: A voz de trovão que silenciou um estádio

    WILLIAN VIEIRA
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    08/08/2016 00h00

    Aquela era a voz de um Brasil perdido no tempo. Seu timbre, grave e macio, evocava a melancolia boêmia, saudosa de cassinos, de quando Altemar Dutra podia destilar sua dor amorosa sem temer ser "sentimental demais" –como versava a canção que ele, Dimas Moreira, eternizara.

    O epíteto de "melhor cantor das noites de BH" surgiu nos anos 60, quando até "JK o chamava para serestas". Como o político, torcia pelo América, time pelo qual se apaixonou aos 16 anos. A voz foi descoberta depois, numa campanha política, quando precisou substituir o irmão doente. Deu certo. O rapaz franzino tinha voz de trovão. Na noite, começou à base do "truque": para pagar os tragos, ele e o amigo pediam para afinar o violão no bar. Dimas então soltava o vozeirão e o público não os deixava partir.

    "Era convicto de que nunca casaria. Gostava demais da boemia", conta o filho único, Felipe Moreira, pai da única neta. Até que viu Maria das Graças na plateia. Mandou a florista entregar rosas """Uma flor para uma flor"– e a moça foi conquistada. Mas foi sincero, avisou que já tinha uma paixão. "Nunca me faça escolher entre você e o América." No dia do casamento foi pra pelada. "Saiu do jogo, lavou o rosto, pôs a roupa e foi casar", conta o filho.

    Jogou e cantou até os 80 anos. Dirigia de Santa Luzia a BH e só parou quando descobriu a leucemia. Há um mês, fez o último show, na casa de uma paciente terminal apaixonada por sua voz. Na segunda, vibrou com o jogo do América. E morreu quinta, dia 28. Horas depois, seu time fazia um minuto de silêncio para o torcedor fiel –quando irrompeu a voz da torcida: "Dimas, eu te amo!". Ali, ninguém temia ser sentimental demais.

    coluna.obituario@grupofolha.com.br

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