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    Festa do Peão de Barretos

    Turista paga preço de viagem a NY para ver rodeio em Barretos

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    14/08/2016 02h00

    João Moura/Fotoarena/Folhapress
    BARRETOS, SP - 20.08.2015: FESTA DO PEÃO DE BARRETOS 2015 - Festa do peão de Barretos 2015. (Foto: João Moura /Fotoarena/Folhapress) ORG XMIT: 981381 *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Festa do Peão de Barretos em 2015; organizadores admitem preocupação com o setor

    Um contador vai alugar sua casa por 11 dias e faturar R$ 8.000. Outros turistas pagarão até R$ 5.000 para ficar quatro noites num resort country. Há, ainda, cerca de 15 mil pessoas que vão acampar para ficar mais perto do objetivo –e economizar.

    A Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, que inicia sua 61ª edição na quinta-feira (18), tem atraído ao interior de São Paulo turistas que, pelo mesmo valor, preferem passar um fim de semana na cidade em vez de ir à Olimpíada ou a locais como Nova York, Londres ou Madri.

    De olho no mercado que envolve a maior festa country do país, o contador Luiz Minuncio resolveu, pela segunda vez, sair de casa com a mulher e a filha, levando só roupas e objetos pessoais, para embolsar R$ 8.000 –dinheiro que será usado para as férias no Nordeste.

    E, apesar da crise econômica, conseguiu aumentar o valor em R$ 1.000 em relação à locação do ano passado.

    "Aluguei a primeira vez porque precisava de dinheiro para pagar a reforma da casa. Agora não precisava, mas gostei do resultado e resolvi fazer novamente. E ainda tenho o bônus de ficar na casa da minha sogra", diz, rindo.

    Um grupo de dez turistas de São Paulo se hospedará em sua casa, de três quartos.

    A Festa do Peão prevê atrair 900 mil visitas entre quinta e o dia 28, período em que abrigará 120 shows distribuídos em sete palcos e realizará três competições de montarias em touros.

    Festa do peão

    De olho nesse nicho hoteleiro, Os Independentes, associação que organiza a festa, implantou melhorias numa área usada como camping dentro do Parque do Peão, recinto que abriga a festa.

    Nessa edição, a lotação pode chegar a 15 mil pessoas, divididas em áreas para casados e solteiros. Os valores médios chegam a R$ 600 em apenas um fim de semana.

    Foram instalados mais chuveiros e lava-louças, vias foram asfaltadas e até uma mercearia será criada para vender carne, carvão e bebidas aos frequentadores.

    "Muitos turistas estão fugindo de hotéis caros e a previsão é otimista para o espaço", disse o presidente da festa, Hussein Gemha Júnior.

    É TOP

    Mas há quem prefira se hospedar em ranchos, que chegam a ser alugados por R$ 30 mil e comportam até 20 pessoas, ou em algum dos 1.800 leitos da rede hoteleira da cidade, insuficiente para a demanda do período.

    Frequentador assíduo do evento country, Gustavo Mendes, de Campinas, estará em Barretos com amigos num rancho entre sexta e domingo, período que coincide com os últimos dias dos Jogos Olímpicos do Rio, outra de suas paixões.

    Para não perder a festa barretense, deixou a Olimpíada para os dias de semana. "Assim, não perco nenhum dos dois. Não vou ver algumas finais no Rio, mas assim não perco a chance de viajar com os amigos para Barretos."

    No Barretos Country Hotel, um resort com parque aquático, há pacotes para quatro dias que variam de R$ 2.900 a R$ 4.980. Os preços são equivalentes a viagens para cidades como Londres, Roma, Madri, Nova York ou Paris.

    Para "competir" com a crise e com os preços mais baratos, o resort está parcelando os pacotes em até dez vezes e, no caso dos mais caros, dando ingressos para a festa.

    "Está mais devagar neste ano, devido à crise e à Olimpíada. Há empresas alugando casas para economizar. Quem pegava dez apartamentos, agora tem optado pela metade", disse o gerente do resort, Adriano Santos.

    As vendas antecipadas de ingressos não foram afetadas pela crise e estão 30% maiores que em 2015. Santos, que também é secretário do Turismo de Barretos, disse que a ocupação para o primeiro final de semana no resort está em 50%, mas deve chegar a 100% nos próximos dias.

    MAUS-TRATOS

    Em um momento em que os rodeios estão sendo fortemente questionados por entidades de proteção aos animais, Barretos conseguiu transferir a Cnar (Confederação Nacional do Rodeio) da capital para a cidade do interior e promete abrir uma batalha com festas de peão que maltratarem animais.

    Ações contra rodeios pipocam no Brasil, enquanto a vaquejada, típica do Nordeste, está sendo discutida no STF (Supremo Tribunal Federal). Fora do país, a morte de um toureiro na Espanha acirrou os ânimos entre ativistas e fãs da prática.

    A principal divergência nos rodeios ocorre em relação ao uso do sedém, corda de lã presa nos touros antes das montarias. Para as ONGs de proteção, ele é instrumento de tortura, por ficar preso aos testículos dos animais.

    Já para os rodeios, a corda gera apenas estímulo nos touros, que pulam por índole.

    Esse conflito, que também já chegou ao STF, fez Barretos perder R$ 8 milhões em patrocínios em anos anteriores, segundo a organização da Festa do Peão.

    O PEA (Projeto Esperança Animal) perdeu o processo em duas instâncias e recorreu ao Supremo. A festa alega que imagens falsas de eventos fora do país foram atribuídas ao seu rodeio.

    Para o PEA e outras entidades, como a Amor de Bicho Não Tem Preço, se o sedém não prejudica a saúde animal, basta não usá-lo.

    BERÇO DO RODEIO

    Para Roberto Vidal, presidente da Cnar, a "CBF dos rodeios", a decisão de transferir a entidade para Barretos se deve ao fato de a cidade ser o berço do rodeio brasileiro.

    "Queremos agregar mais o setor. Há muitas provas dispersas e queremos fiscalizar melhor isso tudo", disse.

    Segundo ele, será criado um selo de legitimidade a competições que respeitem os animais. O sedém, no entanto, seguirá em uso.

    "As ONGs precisam entender que a morfologia de um grande animal é diferente de cães e gatinhos. O testículo fica lá atrás do boi e o sedém pega o 'vazio'. O boi pula por índole", afirmou Vidal.

    Os rodeios serão acompanhados por responsáveis técnicos, que poderão interditá-los e acionar polícia ou Ministério Público em caso de irregularidades. "Os aventureiros fazem mal aos rodeios. Queremos que sigam a lei."

    Hussein Gemha Júnior, presidente da Festa do Peão, afirmou que é preciso cumprir a legislação e citou um alojamento construído em Barretos para abrigar até 80 peões. Ele foi erguido após um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado com o Ministério Público.

    "As ações serão oxigenadas a partir da festa deste ano. Teremos competições que terminarão em Barretos num final de semana e, no outro, já começará uma nova temporada. Queremos priorizar quem faz bom rodeio, pois há eventos que não são bons e atrapalham os que agem corretamente", disse.

    Serão disputadas três competições nas 11 noites de festa: as finais do circuito nacional da PBR (Professional Bull Riders) e da LNR (Liga Nacional de Rodeio) e a 24ª edição do Barretos International.

    "Nossa política de manejo dos animais é cada vez mais rígida", diz Martha Cajado, presidente da PBR Brasil.

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