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    Hotel alvo de operação na cracolândia passou em fiscalização municipal

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    15/08/2016 02h00

    Dez dias antes de ser alvo de uma operação policial e de ser acusado de abrigar uma espécie de laboratório de drogas na cracolândia, um hotel utilizado por dependentes de crack nessa região do centro de São Paulo foi fiscalizado em ação da prefeitura.

    O diagnóstico da vistoria apontou "salubridade satisfatória" –sem sinalizar nenhum indício suspeito nas dependências do estabelecimento que, pouco mais de uma semana depois, seria acusado pelo Denarc (departamento de narcóticos) de abrigar um quartel-general do tráfico, sob controle da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

    O registro da vistoria municipal feita em 26 de julho deste ano no hotel Lucas, na alameda Dino Bueno, consta de documento enviado pela gestão Fernando Haddad (PT) ao Ministério Público.

    O estabelecimento foi um dos dois focos da operação policial na cracolândia conduzida pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) no último dia 5, sem que a administração petista, que mantém programas na área, fosse avisada.

    Segundo a prefeitura, na fiscalização feita no hotel, um engenheiro analisou as condições estruturais do prédio, mas não chegou a entrar em todos os quartos. Nas unidades em que esteve presente, não constatou a existência de nenhum laboratório de droga.

    Além do Lucas, foram alvo da vistoria da prefeitura outros sete hotéis. A Folha tentou contato com os responsáveis pelo estabelecimento, mas não obteve retorno.

    SUSPEITA

    O segundo alvo da operação policial neste mês foram as instalações do antigo Cine Marrocos, invadido pelo MSTS (Movimento Sem-Teto de São Paulo) desde 2013.

    No hotel da cracolândia foram presas três pessoas sob suspeita de envolvimento com preparo e venda de drogas –além da apreensão de 3 kg de crack e de maconha.

    "Ninguém vende uma droga ali sem autorização [da facção criminosa PCC]", disse Alberto Pereira Matheus Junior, delegado do Denarc, para quem há um movimento de R$ 4 milhões por mês com essa atividade na região.

    A polícia suspeita que esse hotel era dominado pelo tráfico havia pelo menos três meses. Diz que as interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça apontam que no estabelecimento era realizado um "tribunal do crime" para decidir eventuais mortes de traficantes.

    No local, além da sigla PCC pichada nas paredes, havia vários símbolos utilizados pela facção criminosa.

    PROGRAMA

    O laudo sobre a vistoria no hotel foi enviado pelo município em inquérito que apura as condições em que os dependentes de crack integrantes do programa "Braços Abertos" são colocados.

    O programa criado pela gestão Haddad busca a redução de danos a usuários da droga –oferecendo R$ 15 diariamente e moradia em troca de serviços como varrição.

    Embora tenha sido alvo da vistoria dos servidores municipais, ligados à Subprefeitura da Sé, esse hotel já tinha sido descredenciado pela prefeitura havia oito meses –segundo a gestão Haddad, justamente devido à suspeita de tráfico de drogas.

    A prefeitura afirma colaborar com a polícia paulista repassando informações sobre crimes na cracolândia.

    O Ministério Público disse apurar "as condições de segurança dos hotéis que estão sendo utilizados para abrigar moradores de rua". Afirmou ainda que aguarda novos documentos a serem enviados pelo município sobre cada uma das edificações.

    A cracolândia já foi alvo de uma série de operações das gestões Alckmin e Haddad nos últimos anos, sem conseguir impedir a concentração de usuários de crack e a presença dominante do tráfico. Nos últimos dias, dependentes se drogavam nas ruas da mesma maneira que antes da mais recente ação policial.

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