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    Em SP, 1 em cada 5 veículos é preto; motorista teme confusão com Uber

    PHILLIPPE WATANABE
    DE SÃO PAULO

    15/08/2016 17h00

    Long Wei/Xinhua
    Cor preta virou uma das marcas do serviço Uber
    Cor preta virou uma das marcas do serviço Uber

    Dono de um carro preto, Renato Malki, 40, foi confundido com um motorista de Uber em uma rua da Bela Vista (região central de São Paulo) por uma mulher que procurava um carro pedido pelo aplicativo que conecta motoristas a passageiros.

    O arquiteto diz que ela ainda demorou um pouco para se convencer de que ele não prestava esse serviço. "Ela foi entrando e sentou no banco da frente", conta. "Eu disse: 'não tenho nenhuma balinha para te oferecer'", relata Malki, em referência à oferta de balas comum entre motoristas do Uber.

    Se a cor preta virou uma marca dos serviços do Uber, que inicialmente só atuava com esses carros, ela também pode ser considerada uma marca da própria frota de São Paulo.

    Um levantamento do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) mostra que um em cada cinco veículos da frota da cidade e do Estado é preto. Trata-se de uma cor que destoa da predominância do branco em rankings nacionais e internacionais.

    Cores de carros preferidas pelos motoristas - Em %

    Na capital paulista, os pretos somam atualmente 19,9% do total de veículos, contra 17,7% dos pratas e 16,4% dos brancos, muito associados aos táxis comuns.

    Se por um lado a cor preta parece ser uma tendência permanente na frota de São Paulo, por outro ela se tornou nos últimos anos motivo de preocupação de parte dos motoristas devido ao medo de ser confundido com os veículos do Uber. O próprio arquiteto Malki conta que já ficou receoso quando, ao chegar em um aeroporto no Rio, teve que se passar por amigo do motorista do Uber em que estava.

    Já houve episódios de ataques a carros pretos promovidos por taxistas revoltados com os serviços dos rivais em São Paulo. O auxiliar de enfermagem Jorge Carlos Ferreira Santos, 44, em maio deste ano, teve seu Corsa preto atacado durante um protesto contra a liberação do aplicativo na cidade.

    À época, ele contou à Folha que os motoristas de táxi gritavam "Mata! Mata!" enquanto atingiam seu veículo com socos e chutes. O Sindicato dos Motoristas nas Empresas de Táxis de São Paulo se comprometeu a pagar pelo conserto do carro posteriormente.

    A associação da cor preta com os veículos do Uber, porém, acabou atenuada nos últimos meses por alguns fatores. O aplicativo também passou a prestar serviços em outras modalidades, com carros em cores diversas, e ainda ganhou rivais, como Cabify e Will Go, também sem a exclusividade do preto.

    Diante da repercussão negativa de atos violentos, os taxistas também atenuaram os ataques aos concorrentes. E, recentemente, diante da regulamentação desses serviços de transporte, até aplicativos de táxi, como 99 e Easy Táxi, passaram a atuar com carros particulares, semelhantes ao Uber.

    Com a variação das cores em carros do serviço, outras pessoas já acabaram também sendo confundidas. O DJ Igor Cruz, 24, tem um carro branco e, ao estacionar em frente a uma festa, acabou discutindo com um taxista. "Olhei pelo retrovisor e vi o cara tirando uma foto da minha placa."

    Lucas Duty, 30, especialista em comportamento de cães, também já foi confundido por conta de seu carro preto, mas afirma não ter medo. O morador de Brasília diz que os casos de agressão na cidade são mais raros. De toda forma, por ter um automóvel menor, a variação dos modelos e cores dos veículos da empresa o preocupa: "Estou um pouco apreensivo".

    O Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo afirma que a categoria e os motoristas de Uber estão aprendendo a conviver. O sindicato afirma que clima está mais tranquilo nos últimos meses, mesmo havendo alguns pontos na cidade onde disputas mais intensas ainda existem.

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