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    Novo mega-assalto tem um ferido e carros queimados na Grande São Paulo

    MARTHA ALVES
    SIDNEY GONÇALVES DO CARMO
    ROGÉRIO PAGNAN
    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    17/08/2016 04h51 - Atualizado às 15h25

    Numa nova ação cinematográfica registrada contra empresas de transporte de valores no Estado, um grupo de criminosos armados invadiu a Protege na madrugada desta quarta-feira (17) em Santo André, na Grande São Paulo, depois de ter incendiado carros e caminhões pelo caminho. A ação, que durou cerca de 40 minutos, deixou ao menos um ferido.

    Antes da invasão, por volta das 3h30, moradores do bairro Campestre relataram terem sido acordados com o barulho de fogos de artifícios. Na sequência, perceberam vários disparos de fuzis. Foi o quinto ataque do gênero a uma empresa de transporte de valores no Estado de São Paulo nos últimos nove meses.

    Os bandidos chegaram em ao menos dez carros e atiraram contra a sede da empresa, na rua dos Coqueiros, para render os vigilantes e invadir o local. A polícia informou que houve troca de tiros entre os criminosos e os vigilantes da Protege.

    Depois, explosivos foram usados pelos criminosos para explodir o portão, que veio abaixo. "Eu ouvi de quatro a seis explosões", disse o corretor de imóveis Luiz Barros, 54, que mora há cerca de dois meses em um prédio em frente à empresa.

    Apesar de vários disparos efetuados contra os vigilantes, a empresa disse que somente um dos vigilantes teve ferimentos leves. A empresa disse ainda que nenhuma quantia foi levada durante a ação –embora moradores tenham visto malotes sendo levados do local. Dessa forma, a Secretaria da Segurança Pública considerou como frustrada a ação dos criminosos.

    Além dos veículos incendiados, os ladrões também espalharam pelas ruas das redondezas dezenas de fura-pneus –objetos com pregos.

    GRITARIA NA MADRUGADA

    Já o estudante Lucas Neves diz que viu da sacada do apartamento quando os bandidos abordaram um motorista na esquina. "Eles ameaçaram o motorista e gritaram 'vaza, vaza', disse. Depois, segundo o estudante, os criminosos atacaram os vigilantes da Protege. "Eu ouvi a gritaria dos bandidos falando 'abre, abre'".

    Da mesma sacada, o estudante disse ainda que viu a quadrilha recolher malotes. Neves, que não mora no local, visita os pais, que residem em frente ao prédio da transportadora.

    Condomínios que ficam ao lado da sede da Protege também foram atingidos pelos disparos dos criminosos e pela explosão. "Com o impacto da explosão, as janelas do segundo andar do prédio ficaram danificadas, algumas até caíram", disse a síndica profissional Edilaine Vasquez, que mora em frente à sede da empresa.

    A Protege informou que a atuação dos vigilantes e as barreiras do sistema de segurança impediram o roubo e maiores consequências. "Os criminosos não tiveram acesso ao caixa-forte da empresa. Houve registro de um colaborador ferido por estilhaços, que já recebeu atendimento e, felizmente, passa bem. A Protege aguarda a apuração dos fatos e, para isso, colabora com as autoridades policiais em sua investigação", disse, em nota, a empresa.

    A perícia chegou às 6h20 à empresa, mas várias cápsulas deflagradas das armas dos ladrões já tinham sido recolhidas por moradores, durante a madrugada. Um policial do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) disse que as cápsulas deflagradas não interferem na investigação.

    Policiais que investigam os mega-assaltos dizem que há uma dificuldade imensa para rastrear os suspeitos desses assaltos. Segundo eles, não têm êxito em antecipar as ações porque não conseguem grampear o aplicativo de mensagens WhatsApp.

    BLOQUEIOS

    A ação dos criminosos prejudicou o trânsito dos motoristas em vários pontos na divisa de São Paulo com ABC paulista. Os assaltantes bloquearam vias com 18 veículos queimados. Na avenida dos Estados, os criminosos cruzaram um caminhão, uma carreta e três carros queimados na pista para impedir a chegada da Polícia Militar.

    Na avenida da Paz, três carros e um caminhão impediam a circulação de veículos. Outros cinco foram incendiados na rua Sumaré e na avenida Prestes Maia.

    Já em São Paulo, um caminhão e um carro foram incendiados no viaduto Grande São Paulo e outro carro, segundo a CET (Companhia Engenharia de Tráfego), foi queimado na avenida Salim Farah Maluf, na altura da rua Diogo Lopes.

    Na região do Ipiranga, sentido São Caetano, os bandidos incendiaram um carro, modelo Space Fox, por volta das 2h, na avenida presidente Wilson. O carro foi colocado no meio da rua, bem na frente de um pátio de carros apreendidos do Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Eles dispararam para cima, segundo um morador que preferiu não se identificar.

    "Acordei com o barulho dos tiros, fiquei com medo e não saí de casa. Olhei pela janela", disse esse morador. Os bandidos espalharam pregos pela avenida, com a intenção de furar pneus de carros da polícia. O incêndio no veículo foi controlado por funcionários da empresa Shell, que tem um galpão na região.

    Uma câmera do Detran está virada exatamente para o ponto onde o carros foi incendiado. A câmera, no entanto, não funciona há meses, segundo funcionários.

    Em Santo André, a avenida da Paz e a alameda São Caetano ficaram interditadas totalmente interditadas para a passagem de veículos. A avenida da Paz teve o trânsito liberado só a partir das 13h. Na São Caetano, a liberação ocorreu às 14h.

    A avenida dos Estados foi parcialmente fechada nas pistas onde os veículos foram queimados.

    A rua dos Coqueiros, onde fica a empresa Protege, permanecia completamente interditada até às 17h20. Apenas os moradores da rua tinham acesso ao local.

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    Mapa mostra alguns pontos atacados pelos criminosos

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    ROUBO A TRANSPORTADORAS

    Além dessa tentativa de roubo a transportadora em Santo André (Grande SP), o Estado de São Paulo já registrou outros quatro casos: dois em em Campinas, um em Santos e outro em Ribeirão Preto.

    As quatro ações resultaram em pelo menos R$ 135 milhões roubados, além de cinco mortes e quatro pessoas feridas. Em média 20 ladrões atuaram por ação. Só R$ 10 milhões foram recuperados e, ao todo, 16 ladrões foram presos.

    Moradores e órgãos públicos de cidades alvos de ataques estão se mobilizando para tentar retirar empresas de transporte de valores de bairros residenciais. Em Ribeirão Preto, a Promotoria decidiu investigar, na área cível, a legalidade da instalação das empresas na zona urbana. Um dos focos é saber os critérios usados para a liberação de alvarás para elas.

    Há ao menos 34 bases de grandes empresas de transporte de valores instaladas no Estado, 26 delas no interior e no litoral. Em Campinas há quatro bases e, em Bauru, Ribeirão Preto, Santos, São José do Rio Preto e São José dos Campos, três cada uma.

    TRANSPORTE DE VALORES - Seis cidades do interior de SP têm ao menos três empresas do setor

    A ABTV (Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores) afirma que a saída das bases dos locais em que estão só transferirá esse problema de lugar. "Pode construir um bunker, um forte, que não vai resistir ao impacto das armas e dos explosivos usados nos ataques", afirma Marcos Emanuel Torres de Paiva, presidente da associação.

    Para Marcos Emanuel Torres de Paiva, presidente da associação, o principal problema enfrentado pelas empresas não é a guarda do dinheiro, mas as armas usadas pelos criminosos, capazes de derrubar aeronaves.
    A solução, segundo ele, também não passa pela ampliação do poder de fogo utilizado pelos vigilantes, mas sim por um melhor controle das fronteiras do país.

    "Os ladrões migram para onde está o dinheiro. Antes, eram as agências bancárias e, agora, as transportadoras. Se tirar a empresa do centro da cidade, não vai adiantar muita coisa", disse Paiva.

    Mega-assaltos em SP

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