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    CARLOS ALBERTO OZÓRIO DE AGUIAR (1926-2016)

    Mortes: O adeus de um dedicado e eterno comunista

    WILLIAN VIEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/08/2016 00h00

    Carlito Ozório era do tempo em que não se vendiam ideologias. Ao menos era o que dizia cada vez que um companheiro de esquerda trocava as ideias de Marx e a memória da luta por um cargo.

    Seguia na máquina partidária, ele também, é verdade –mas se fizera o jogo político, não perdia a chance de discursar sobre a "acumulação de capital" e a "concentração de renda". Seria, para sempre, comunista.

    A genealogia dá o contexto de luta. Seu bisavô, italiano, morrera ao lado de Garibaldi, como versa a autobiografia de Carlito, "Amargo Doce". Doce era o rio que banha a natal Colatina (ES), desigual para um mulato como ele, filho de branca e negro. Amargo, o caminho escolhido. Perdeu o pai, criou os irmãos. Virou militar e quase chegou a sargento, mas a vida lhe cobrou pelas ideias: quando chegou a herança, e com ela o papel do capitalista, largou tudo.

    Quando conheceu a mulher, era secretário-geral do Partido Comunista no Estado, justo quando os militares tomaram o poder. Fugiu, com Nayr, Brasil adentro. "Por um tempo, ele a deixou em Salvador e foi fazer guerrilha", conta a filha, Carla. Foram anos de nome falso, sem endereço fixo. Só em 1979, com a abertura, voltou ao nome e à terra natais, para lutar, na Justiça, pelo antigo emprego público.

    Foi ainda do MDB. E ajudou a fundar o PMN (Partido da Mobilização Nacional), só para vê-los depois aderir à direita. "Os partidos já não têm ideologia", dizia. Morreu, dia 8, de problemas pulmonares, aos 89. Com ele se foi mais um naco da velha esquerda -pensamento intacto, ao menos, em sua biblioteca. Ali jazem todos os volumes de Marx.

    coluna.obituario@grupofolha.com.br

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