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    Duas décadas após crime que abalou Ribeirão, usineiro vai a júri popular

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    24/08/2016 16h40

    Após quase duas décadas e em meio a um novo laudo sobre o crime apresentado nesta semana, o herdeiro de usinas de açúcar e etanol Marcelo Cury será levado a júri popular nesta quinta-feira (25), sob a acusação de ter matado duas pessoas e ferido uma terceira após uma briga na região de um badalado bar da rica zona sul de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

    Cury matou, em 5 de abril de 1997, o representante comercial Marco Antonio de Paula, 29, e o comerciante João Falco Neto, 34, além de ferir Sérgio Nadruz Coelho, hoje com 54 anos e que ficou 39 dias internado após ser baleado.

    O crime ocorreu em frente à antiga choperia Albano's, na avenida Presidente Vargas, em zona nobre de Ribeirão. Após disparar ao menos 11 tiros, deixou os corpos no chão e saiu em alta velocidade. Foi para uma fazenda da família em Araraquara, de onde saiu com o funcionário Arquimedes Ramos Neto em um Audi. Na fuga, o carro capotou e Ramos Neto morreu.

    Desde então, o caso se arrasta na Justiça, sem Cury nunca ter sentado no banco dos réus para ser julgado. Foi defendido pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (1935-2014) e, atualmente, é cliente do escritório de Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.

    Conseguiu anular duas sentenças de pronúncia do TJ (Tribunal de Justiça), em que o juiz Luís Augusto Freire Teotônio dizia haver elementos suficientes para mandar Cury a júri popular. Na terceira vez, com documento assinado por outro magistrado, os desembargadores concordaram que o processo poderia seguir.

    Segundo o TJ, o júri de Cury está previsto para iniciar às 10h desta quinta. Nesta terça-feira (23), o perito Ricardo Molina, contratado pela família do usineiro, apresentou laudo que será utilizado para tentar provar a tese de legítima defesa de Cury.

    Molina disse à Folha que Cury apenas tentou se defender e que, apesar de alguns tiros terem acertado as costas das vítimas, eles nunca foram a "primeira ação", mas sim o desenrolar da situação, que foi "muito rápida".

    "Os dois primeiros tiros que cada uma das vítimas tomaram foram sempre pela frente. Tantos tiros atingiram as vítimas não porque o atirador fosse um exímio atirador de Olimpíada. Isso se deveu à proximidade das vítimas com o atirador, que estava acuado", disse o perito.

    Para Molina, está "amplamente configurada" a legítima defesa e isso será mostrado aos jurados, num documento com 30 páginas. O perito disse ter analisado laudos necroscópicos e depoimentos de testemunhas à época do crime para produzir uma reconstituição computadorizada e provar, por exemplo, que uma das vítimas estava pulando sobre Cury.

    "Ele tomou um disparo de baixo para cima, na região inguinal. A única possibilidade é ele estar pulando sobre o atirador. Desafio a colocar o disparo em outra posição. A hipótese mais razoável é de ele ter tentado dar uma voadora. Ou o atirador estar deitado no chão, mas ninguém viu isso."

    Os argumentos não são aceitos pelo motorista Coelho, o sobrevivente, que alega que Cury apenas atirava, sem falar nada. "Não morri porque Deus não quis. Não foi legítima defesa, pois não havia motivos, a discussão já tinha acabado."

    A discussão, segundo ele, começou porque Marco não gostou de ver o usineiro e seus colegas sentados sobre o capô de seu Vectra. Pediu ajuda a ele e a Falco Neto, que foram ao local onde tudo ocorreu.

    Numa rede social, Coelho, que abandonou Ribeirão com medo de ser morto –embora tenha afirmado que nunca recebeu nenhuma ameaça– e hoje mora no Rio de Janeiro, postou mensagem em que diz que acompanhará o júri "para fazer justiça".

    A previsão é que o júri seja concluído no mesmo dia.

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