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    Ação de agentes de Haddad afeta usuário do programa municipal

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO

    26/08/2016 02h05

    Caía uma fina garoa sobre barracas de moradores de rua na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, na segunda-feira (22), quando agentes municipais determinaram a saída de quem havia passado a noite por ali.

    Entre os alvos, Renato, 46, conhecido como "Tim", artista de rua, músico, dependente químico e participante do programa Braços Abertos, bandeira da gestão Fernando Haddad (PT) na cracolândia.

    Ele conta que recolhia seus pertences para guardá-los em sua carroça quando foi surpreendido. "Eu estava arrumando minhas coisas. Levaram a mochila, meu colchão, minha coberta e roupas."

    Na mochila de Renato estavam a gaita e a carteirinha do Braços Abertos. Desde então, ele não participou mais das atividades do programa —que incentiva a redução do consumo de drogas, sem internação, com emprego temporário.

    Sem a carteirinha, Renato, que trabalha pelo programa como carroceiro, não bateu ponto nem compareceu ao galpão do projeto a semana inteira, tendo perdido pelo menos quatro dias de serviço, ou R$ 15 diários.

    Isso significa que um dos efeitos colaterais da ação dos agentes municipais na segunda foi um prejuízo ao próprio programa da gestão Haddad.

    Conforme mostrou a Folha nesta quinta (25), a praça Princesa Isabel teve cerca de 50 barracas desmontadas. Um decreto do prefeito de dois meses atrás proíbe recolhimento de itens pessoais de moradores de rua, mas a reportagem ouviu relatos de mais de dez pessoas sobre a retirada de pertences como documentos e cobertores.

    A intervenção foi pedida pelo Exército, que nesta quinta (25) fez celebrações no local do Dia do Soldado. A gestão Haddad nega ter havido desrespeito às regras.

    O prefeito afirmou nesta quinta que eventuais denúncias devem ser encaminhadas à Controladoria Geral do Município. "Se você tem qualquer indício de que isso tenha acontecido, encaminhe uma denúncia para a Controladoria. Nós trataremos como qualquer outra denúncia."

    Renato, integrante do Braços Abertos, utilizava como abrigo um túnel embaixo de um escorregador de concreto na praça Princesa Isabel.

    No programa municipal os beneficiários registram sua entrada entre 8h e 8h30 e a saída entre 11h30 e 12h.

    "Bati ponto essa semana?", perguntou Renato, violão na mão, na tarde desta quinta, a um funcionário do Braços Abertos, em meio ao fluxo —como é conhecida a concentração de usuários de crack. "Não bati. Foi porque levaram minha carteirinha."

    Renato não pediu um novo documento. Ele aponta para onde está dormindo agora: na calçada do Largo Coração de Jesus, no início do fluxo, em uma barraca doada por um pastor, segundo diz.

    Em relação à possibilidade de moradia oferecida pelo Braços Abertos, a prefeitura afirma que "por escolha própria, ele não dorme no hotel onde tem direito, mas tem acesso a atendimento médico e de assistência social".

    Renato afirma que está à espera de uma vaga e que morava na Princesa Isabel havia quatro meses. Um funcionário do Braços Abertos diz que ele não se ambientou ao hotel em que estava antes e desde então espera um lugar.

    A prefeitura afirma que a apreensão de seus pertences será investigada pelo novo grupo de monitoramento das ações de zeladoria da cidade.

    Colaborou ANGELA BOLDRINI

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