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Cotidiano
Thursday, 02-May-2024 00:25:28 -03ADEÍLTON PEREIRA DIAS (1966 - 2016)
Mortes: Biuzinha Priqui, a democracia é uma festa
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA27/08/2016 00h00
Com vestido prateado, flor azul e peruca verde, subiu no palanque para dar sua mensagem política: lutaria pelo povo de João Pessoa, mas sem abrir mão da gargalhada.
Era Biuzinha Priqui, personagem e alma artística de Adeílton Pereira Dias. Com dentes a menos e deboches a mais, ela encobria os percalços de uma história comum: ser ator, homossexual e pobre num país onde só o riso salva.
"Isso aqui é apenas uma fantasia de carnaval", disse o candidato a vereador, olhar fixo na plateia do Partido Republicano. "Quando eu tiro, sou uma pessoa comum."
"De todos nós, só ele não tinha um emprego público", conta o amigo Edílson. "Ele vivia só da sua arte."
Antes já havia o riso: ria até de quando não tinha dinheiro do ônibus para a escola.Filho de pedreiro e dona de casa, foi vendedor até descobrir o teatro. Quando o chamaram para a escrachada comédia "Pastoril Profano" –12 homens faziam um cabaré de prostitutas– fez de Biuzinha a mais ferina.
Um dia a mãe ligou para um apresentador local falando do filho –e Biuzinha ganhou as tevês paraibanas. Um agente o procurou, "interessado na popularidade dela", para sair vereadora. Disse sim. Teve 1.600 votos. Não se elegeu, mesmo com a foto caricata no santinho e o mote: "A democracia é uma festa".
Morreu dia 18, aos 49 anos, após um AVC. O caixão chegou entre aplausos e foi posto ao lado do vestido, das fotos e da peruca verde, cercado por admiradores, ao vivo na tevê. O velório, qual uma comédia da vida, fora o maior sucesso. Diz o amigo: "Se a eleição fosse ali, seria eleito."
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