Não há na Vila Hortência quem não conheça a doutora Thereza. Há 56 anos, ela e o marido, Attilio, abriram um consultório dentário no bairro de Sorocaba (SP) e de lá nunca mais saíram.

Especializou-se em atender crianças. Contava historinhas para deixá-las à vontade –ficavam entretidas, com a boca aberta, enquanto os dentinhos eram tratados. Quando terminava a história, o tratamento já tinha acabado.

O jeito atencioso cativou a clientela, que, muito depois da infância, continuou fiel.

O consultório em frente à igreja do Bom Jesus era rota de passagem das mulheres que iam à missa e paravam para um dedo de prosa com Thereza. Com o tempo, a varanda da casa transformou-se num animado ponto de reunião, só abandonado por ela quando, por volta do 80 anos, a doença não lhe permitiu mais trabalhar.

Nascida em Piraju (SP), passou a infância em meio aos cafezais, brincando com os irmãos e primos. Aos 13, perdeu a mãe. Sua avó, então chefe da família, insistiu para que todos estudassem.

Assim, Thereza foi para São Paulo fazer o colégio e, em seguida, para Araraquara (SP), estudar odontologia. Lá conheceu Attilio, que fazia o mesmo curso. Depois de formados, foram para Sorocaba seguir a carreira juntos.

Da infância na fazenda, levou o capricho com as plantas –criava uma coleção de orquídeas e diversas árvores frutíferas– e a obstinação da avó em formar os descendentes.

Morreu no dia 19, aos 81, em decorrência de um câncer no estômago. Deixa o marido Attilio, quatro filhos, todos formados, e cinco netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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