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    Após rivalizar com táxi, Uber cria rota de R$ 6 em SP e põe ônibus em alerta

    RODRIGO RUSSO
    DE SÃO PAULO

    02/09/2016 02h03

    A estratégia do Uber de incentivar corridas compartilhadas de média distância na cidade de São Paulo pelo preço promocional de R$ 6 –similar ao da integração entre ônibus, metrô e trens– acendeu um alerta em empresários do transporte coletivo.

    Assim como as lotações atraíram passageiros nos anos 90, a preocupação agora é que a concorrência do aplicativo provoque migração de usuários e desorganização dos serviços sob concessão ou permissão –a exemplo do que ocorreu no mercado de táxis.

    O Uber começou a testar nesta semana, em caráter temporário (inicialmente até 16 de setembro), a tarifa fixa de R$ 6 para uso de carros em sistema compartilhado (com até quatro passageiros no veículo) numa área previamente delimitada e nos horários de pico de segunda a sexta (das 7h às 11h e das 17h às 20h).

    Na área estão bairros da zona oeste (como Pinheiros e Perdizes), sul (como Campo Belo e Santo Amaro) e centro (República, Bela Vista). A corrida, na fase atual, é subsidiada pela própria empresa, e não pelos motoristas do Uber. O passageiro, porém, não pode ter pressa: precisa estar sujeito ao sobe-e-desce e a vários desvios pelo caminho.

    Num teste da Folha em rota de 5 km entre as estações Brigadeiro e Sumaré do metrô, a viagem que levaria 15 minutos durou 41 minutos no Uber de R$ 6. Um usuário chegou a desistir da corrida depois que a rota já havia sido desviada para buscá-lo.

    Da Pompeia (oeste) ao Morumbi Shopping (sul), por exemplo, em percurso de mais de 13 km, a viagem de transporte público (trem e ônibus) custa R$ 5,92 –apenas R$ 0,08 menos que no aplicativo. Na categoria não compartilhada do Uber, R$ 40. De táxi, R$ 50.

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    "O preço é fator determinante para a migração entre modos, como vemos por gente que deixa o automóvel ou o transporte público para se deslocar de moto", afirma Luiz Carlos Mantovani Néspoli, superintendente-executivo da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).

    No caso do Uber, ele cita a hipótese de migração de parte da classe média. Se isso ocorrer, diz, menos passageiros usariam ônibus, exigindo mais subsídios municipais. O sistema de ônibus em São Paulo não se mantém apenas com a tarifa dos usuários –recebeu cerca de R$ 2 bilhões da prefeitura em 2015.

    Viações temem que aplicativos entrem no segmento, como já ocorre no exterior. A NTU (associação nacional das empresas de ônibus) já encomendou parecer jurídico sobre a especificidade do transporte coletivo para tentar barrar tentativas do tipo.

    DEMANDA

    O Uber afirma que 30% das viagens do aplicativo na cidade de São Paulo no primeiro mês de funcionamento do transporte compartilhado já foram por esse sistema –que permite até quatro passageiros, com destinos diversos.

    O lançamento ocorreu no final de abril. Já a tarifa de R$ 6 começou nesta semana. A empresa não responde sobre eventual concorrência com ônibus, mas destaca os benefícios desse modelo.

    O uso compartilhado, diz, permitiu economia de "mais de 50 mil litros de combustível" "e mais 125 mil kg de emissões de CO² evitadas". O Uber diz que a tarifa de R$ 6 é uma promoção com tempo limitado e que seu sistema "complementa a malha de transportes das cidades". "Em Paris, por exemplo, 65% das viagens de Uber começam ou terminam nas proximidades de uma estação de metrô."

    O aplicativo já desenvolveu no exterior projetos com itinerários fixos e preços baixos por prazos mais longos —e até mesmo em cooperação com autoridades de trânsito.

    Na cidade de Pinellas Park, na Flórida (EUA), depois de um corte de duas linhas de ônibus, usuários recebem subsídio de 50% nas corridas, até um máximo de US$ 3, se usarem o aplicativo para se conectar ao sistema público. Segundo as autoridades locais, esse programa custará o equivalente a 25% do gasto nas duas linhas extintas.

    Em Seattle (EUA) e Toronto (Canadá), o Uber ofereceu a modalidade "Hop", em que passageiros se dirigiam a um ponto de partida comum e faziam juntos a corrida até um ponto final, sem intervalos. Em outra semelhança com o modelo dos ônibus, as viagens tinham horários fixos e maior número de assentos.

    Uma concorrente do Uber, a Lyft, será responsável por substituir uma linha de ônibus que faz a ligação de uma estação de trem da cidade de Centennial, no Colorado (EUA), em outro programa com subsídios públicos. A empresa já disse ter interesse que "os motoristas pudessem virar parte do sistema público de transporte".

    Para Otávio Cunha, presidente-executivo da NTU (associação das viações), a experiência internacional mostra o risco de só áreas lucrativas serem exploradas. "Temos compromisso com linhas deficitárias, mas socialmente necessárias", afirma.

    Como funciona o Uber

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