Em apenas uma década, o volume de deslocamentos feitos sobre duas rodas, tanto em motos quanto em bicicletas, dobrou no país.
Em 2004, 1 bilhão de viagens foram feitas de moto em 468 cidades, e 1,3 bilhão foram feitas de bicicleta; em 2014, os números saltaram para 2,6 bilhões nos dois modais de transporte.
Essa é uma das conclusões do Sistema de Informações da Mobilidade Urbana, documento anual produzido pela ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). Recém-divulgado, o estudo traz dados atualizados até 2014.
Nesse ano, aliás, foi registrada a primeira queda no número total de viagens em geral feitas pelos brasileiros em um ano: de 64,2 bilhões para 64,1 bilhões. A principal redução ocorreu no uso do transporte público: diminuição de 3,8% nos deslocamentos em ônibus municipais, e outros 2,5% a menos em viagens no sistema de trilhos.
"Uma das hipóteses é que isso esteja relacionado a uma queda na atividade econômica do país", afirma Adolfo Mendonça, coordenador técnico do estudo.
Mendonça observa que um problema sério, mas pouco discutido, é o total de recursos destinados pela sociedade ao transporte individual.
"Em dez anos, tanto indivíduos quanto o poder público investiram mais nessa modalidade do que no transporte coletivo, mas os seus impactos são maiores, tanto em poluição quanto em gastos com acidentes. Nosso estudo serve para ver as tendências e as consequências do uso de cada modal, balizando a adoção de políticas públicas."
Uma das consequências da disparada do uso de motos no país é o alto número de vítimas em acidentes. "Sob um discurso de economia para o cidadão geramos um problema de saúde pública", diz.
E enquanto o transporte motorizado é priorizado, um grande contingente de deslocamentos a pé —23 bilhões de viagens em 2014— segue ignorado pelo poder público. "A omissão em relação às calçadas é enorme no país", lamenta Mendonça.