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    Contra ansiedade, donos de cães e gatos recorrem de 'Petflix' a microfone

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    11/09/2016 02h00

    O vídeo tem uma hora: as nuvens se mexem no céu por vários minutos. Depois a câmera caminha por um gramado num plano-sequência em que não acontece nada. Folhas de uma árvore se movimentam com o vento e um gato branco se espreguiça ao som de um piano calmo.

    Os animais andam ansiosos, irritados, arredios. É preciso acalmá-los com vídeos como esse, prega a Ease TV, surgida há dois meses no país como uma espécie de Netflix (serviço de vídeo sob demanda) para cães e gatos, pelo custo de R$ 19 ao mês.

    Embora a eficácia seja questionável, o novo serviço brasileiro tem concorrentes com proposta semelhante, como a DogTV, de origem americana. No Youtube, a Cat TV, para gatos, mostra um esquilo comendo grãos por 30 minutos em um dos vídeos.

    Esses canais de televisão para bichos ganharam espaço ao lado de outras estratégias de donos de pets que precisam deixá-los sozinhos em casa diariamente por horas.

    A internacionalista (profissional de relações internacionais) Muriel de Almeida, 23, aderiu à "Petflix" para sua cadela Luna, um maltês de dois anos. "Vi num post da Giovanna Ewbank, sabe? Aquela atriz... A mulher do
    Bruno Gagliasso, lembrou? Acho que era uma propaganda", conta. "A Luna fica bem mais calma agora, adora assistir", diz.

    Tem gente que deixa o aparelho de som ligado ou usa aplicativos de celular para acalmar os pets. É o caso da médica Renata Dionísio, 31, que recorreu a uma câmera com um microfone acoplado. De longe, ela consegue ver o que seus dois cães estão fazendo e envia áudios.

    Karime Xavier/Folhapress
    A internacionalista Muriel de Almeida, 23, assinou o serviço de vídeos para tentar acalmar a Luna, 2
    A internacionalista Muriel de Almeida, 23, assinou o serviço de vídeos para tentar acalmar a Luna, 2

    "Antes eu deixava a TV ligada, na Globonews ou na CNN. Mas agora o aplicativo ajudou bastante, eles se sentem mais tranquilos", diz.

    Um dos seus cães sofria da chamada "síndrome de ansiedade da separação". Bido, de um ano, chorava, raspava a porta e comia cocô quando a dona não estava em casa.

    COMPANHIA DA TV

    Serviços como o da Ease TV se baseiam na tese de que, na falta do dono, os pets desenvolvem comportamentos não habituais, como tremedeira, agitação, latidos excessivos.

    Funciona assim: quando o dono sai de casa, liga na "Petflix" e deixa os vídeos rodando até voltar para casa. Com a companhia da TV, os animais ficariam mais calmos.

    Na versão brasileira, há vídeos focados em estímulos diferentes: comida, relaxamento ou exercícios. Eles ajudam o animal a enfrentar a ansiedade de estar longe do dono, afirma Daniel Rosenfeld, sócio-diretor da Ease TV.

    "Tem cenas de 'agility' para que o animal veja outros animais se exercitando e tenha vontade de se exercitar também. Isso é comum até com humanos. Se você assiste um filme de artes marciais, é comum querer fazer movimentos similares", diz.

    DESPEDIDAS

    Para a veterinária Carol Rocha, 28, especialista em comportamento animal e fundadora da PetAnjo, uma só estratégia, como deixar a TV ligada, costuma não diminuir os sintomas em casos graves.

    "Cada cão é diferente um do outro. Não dá para dizer que um vídeo vai ajudar em todos os casos", explica. Segundo ela, uma boa medida é diminuir a importância de despedidas e chegadas.

    "Tem dono que quando chega em casa, faz uma festa para o cão. Ou na saída, se despede demais. Isso piora, porque o cachorro vai sentir mais falta do dono quando ficar só. Uma dica que dou é o dono sair naturalmente, sem grandes despedidas, às vezes ignorar o animal mesmo", diz.

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