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    Polícia ouvirá ex-pacientes do Einstein atendidos por médicos sob suspeita

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    14/09/2016 02h05 - Atualizado às 13h44

    Pedro Dias/Folhapress
    Hospital Albert Einstein
    Hospital Albert Einstein

    A Polícia Civil de São Paulo vai convocar ex-pacientes do hospital Albert Einstein que tenham sido submetidos a cirurgias cardíacas sob o comando de médicos suspeitos de ligação com empresa fornecedora de próteses.

    Os investigadores querem saber se alguma dessas pessoas recebeu implante de prótese cardíaca sem necessidade. Um grupo de médicos do IML (Instituto Médico Legal) do Estado poderá ajudar a polícia nessa apuração.

    Como a Folha revelou nesta terça (13), o Einstein apresentou à polícia denúncia contra dois médicos do hospital suspeitos de receber pagamentos e favorecer uma fornecedora de próteses.

    Os médicos investigados, Marco Antonio Perin e Fábio Sandoli de Brito Júnior, comandavam até junho deste ano o Centro de Intervenção Cardiovascular do hospital –especializado em tratamento por cateterismo como angioplastia e implante de stent.

    Perin foi demitido do Einstein, e Brito Júnior, afastado do comando do centro de cardiologia. Ambos negam terem cometido irregularidades.

    A empresa supostamente envolvida no esquema, a CIC Cardiovascular, teve um aumento de 541% nas vendas de stents para o hospital entre 2012 e 2013 e, desde então, teve "clara preferência" dos médicos –segundo representação do Einstein à polícia.

    As suspeitas contra os cardiologistas foram levantadas por investigação interna do próprio Einstein após receber denúncias de "envolvimento espúrio" entre profissionais do hospital com fornecedores.

    Análise de e-mails corporativos dos médicos encontrou informações sobre repasses de dinheiro na conta pessoal deles de até R$ 200 mil, além de viagens e presentes.

    FICHAS

    De acordo com a polícia, fichas médicas de pacientes deverão ser solicitadas à direção do hospital já nesta quarta (14), assim como outros documentos de interesse na investigação.

    O número de ex-pacientes a serem ouvidos ainda não está definido porque vai depender da quantidade de intervenções realizadas pelos médicos no hospital.

    Segundo informações disponíveis na plataforma Lattes (banco de dados de pesquisadores), Perin trabalhava no Einstein desde 1992; Brito Júnior, desde 1997.

    A Folha apurou que uma auditoria interna por amostragem em cirurgias cardíacas feitas por esses profissionais não detectou intervenções desnecessárias. Os dados dessa auditoria, além de uma sindicância interna da instituição, também serão solicitados pelos policiais.

    Os dois médicos denunciados pelo Einstein serão ouvidos nos próximos dias. Primeiro, a polícia quer entender o funcionamento do sistema de compras do hospital –se os dois cardiologistas tinham poderes para fechar contratos ou apenas faziam indicação do produto.

    OUTRO LADO

    O hospital Albert Einstein, na zona oeste de São Paulo, afirmou nesta quarta-feira (14) que a instituição sempre exigiu de seus profissionais uma conduta ética irrepreensível e que sempre prezou pela transparência em todas as suas relações.

    Perin foi procurado novamente nesta terça, mas também não quis se pronunciar, assim como já havia ocorrido na segunda-feira (12).

    De acordo com representação do Einstein, os profissionais alegam terem feito empréstimo à CIC e, nos últimos anos, estariam recebendo a devolução desse dinheiro. Assim, para eles, não haveria nenhuma irregularidade.

    À Folha, em entrevista anterior, Brito Jr. disse não ter envolvimento com fornecedores. "Não tenho absolutamente nada a ver com isso. Nunca recebi nada [de fornecedor]", afirmou.

    Disse ainda que explicou ao hospital seu posicionamento. "Continuo trabalhando no Einstein todos os dias. Fazendo angioplastia, cateterismo. Continuo normalmente trabalhando lá."

    A CIC não se manifestou.

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